Hoje decidi navegar. À boleia da
grande aeronave que faz o homem maior e mais alto, percorro as 4649 milhas que separam Portugal do
Brasil. Antes, ainda, atravesso mais de
5 séculos e passo pela mansão dos deuses do Olimpo, encimado por Zeus. Aquela
Grécia que foi a mãe de todos os milhões
de atletas que, de quatro em quatro anos, demandam os continentes para desfilar
no majestoso cortejo da abertura dos Jogos Olímpicos de todos os tempos!
Merece
bem um poema, em homéricas estrofes, esta multidão imensa que caminha em
empenhada peregrinação à Roma da saúde, à Meca da fraternidade, enfim, aos
Himalaias do corpo e do espírito, onde
não há grandes nem pequenos, nem senhores nem
escravos, nem exploradores nem explorados. Cada um eleva-se, resoluto e digno, à custa
do seu braço e do seu talento.
Ali
apaga-se o estrelato milionário das grandes
modalidade, ‘para dar lugar, ex aequo, à miríades de gentes e
línguas, seja qual for o seu ramo desportivo. São todos brilhantes
e alcançam o mesmo estatuto os
ases do futebol e os puxadores do remo, os pássaros voadores do salto em altura
e as barbatanas humanas que mergulham nas águas, enfim, tudo é grande e nada é
pequeno. Como definia uma das apresentadores - ”Notem bem, isto é mais que desporto” – viu-se
no grande mar do Maracanã “aquele abraço” que os donos disto tudo não deixam
surgir na tablado dos próprios países: o mesmo sorriso da Coreia do Sul espelhado
nos olhos cheios de uma jovem da Coreia do Norte. Senti eu uma onda de
estremecimento irreprimível perante uma representação de refugiados, fazendo
parte integrante do certame dos Jogos
Olímpicos! O desfile interminável bem poderia ostentar numa faixa gigante a
palavra de ordem transbordante por todo
o recinto: “Deixai fora toda a exclusão. Aqui é o Reino da Inclusão Planetária”.
Em
todo o tempo que durar o monumento quadrienal de braços abertos sobre o mundo, prefiro ficar com esta visão cósmica, deixando
nas margens do Rio os conflitos e contradições que envolvem o planeta, a
começar pelo próprio Brasil. Não é “um ingano de alma ledo e cego”, como o de
Inês de Castro. Antes e sempre é o acalentar de um sonho que nem a Fortuna nem
o “Cristo Redentor” podem realizar: só os homens e as mulheres, cada qual na
sua pista ou no seu estádio, torna-lo-ão realidade, esse “sonho lindo, como em
dia de Domingo”…
Seja
qual for sua pista ou seu estádio!
E
aqui volto a este irregular rectângulo que é a Madeira, de onde saíram campeões
de igual peso europeu , embora em campos tão opostos. Um, o melhor do mundo, no
pujante e largo estádio de futebol; o outro no mini-rectângulo de uma mesa de
ping-pong.. Ambos grandes, ambos vencedores, em rectângulos tão diversos.
Termino
regressando ao invisível Maracanã que
mora dentro de nós. Podemos ser enormes no exíguo espaço do nosso quotidiano, tal como podemos ser pequenos e
disformes no espectacular teatro de outros mundos. Tudo depende de nós! “O
Homem é a medida de todas as coisas”, apraz-me repetir com o ateniense
Protágoras. E completo com a sábia filosofia do helenista – e nosso - “Ricardo Reis” :
Para ser grande, sê inteiro; nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes”
“Aujourd’hui
Je Suis Olympique”!
05.Ago.16
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário