Se
há momentos incómodos e desconcertantes para quem os contempla com olhos de ver e
sentir, esses são os que seguem imediatamente ao apito final do juiz da
partida. Seja qual for a modalidade desportiva em competição. E tanto mais
penosos quanto maior a sua importância no panorama nacional ou internacional. De um lado,
a explosão brava, quase doida, dos vencedores, erguendo o troféu até às
alturas. Do outro, a enrodilhada
depressão, até às lágrimas, dos derrotados em curvatura humilhante vergados ao
chão. Pensar que esta patética contradição reactiva se pega como lava a
centenas, milhares, milhões de adeptos ou simpatizantes ainda mais me agudiza a
sensibilidade.
Não
me diverte nada nem me conforta assistir
à cena, mesmo que os vencedores ostentem
as cores da minha simpatia. Porque penso nos vencidos. Os que lutaram, deram tudo,
de corpo e alma olhando e bebendo ansiosamente o horizonte da meta, mas vê-lo cada vez mais
longe do sonho primeiro. É o paradoxo insanável que vem de longe: a história
pertence apenas aos vencedores. Dos vencidos, nem a sombra se lhes regista.
Já
todos sabeis do que falo. Dos atletas portugueses que hoje terminaram as
respectivas prestações nos Jogos Olímpicos do Rio. Regressam de mãos vazias e
peito ausente. À excepção da Telma Monteiro. Causou-me uma enorme tristeza não
ver o nosso Marco Freitas e sobretudo porta-bandeira, João Rodrigues, sem a “chave
de ouro” com que queria terminar uma carreira distinta.
Mas
uma coisa é tristeza, outra é depreciação, sanção, insulto. Tem corrido pelas
raias de alguma comunicação social um vento suão, quase insolente, contra os nossos
atletas que se apresentaram brilhantemente, com provas dadas em certames
idênticos de anos anteriores, quer a nível nacional, europeu – penso,
por todos, no Rui Bragança - mas fugiu-lhes o almejado medalheiro. Críticas
como as que atiraram contra este estudante de medicina, são de todo inadmissíveis,
não só antipatrióticas, mas antidesportivas. Custou-me ver a comoção incontida
do Emanuel Silva por ter ficado num 4º lugar, na praia das
medalhas de bronze. Comovi-me também com a sentida confissão de cada um deles: “Dei
tudo quanto tinha e podia”!...
É
o sádico fanatismo de muito “boa gente” que trata os desportistas como bestas
de carga, máquinas férreas, desumanas, querem ver satisfeito o seu ego dos “treinadores de bancada”, comodamente
sentados numa mesa de reacção a ver o filme rodar. Quem mais do que o atleta em
competição anelava subir ao pódio dos metais nobres e trazê-los para Portugal
?!
É
o defeito de fábrica dos portugueses. A quem não consegue alcançar o topo
deita-se-o ao chão. Lembro-me do Fernando Mamede, o grande maratonista dos
10.000 metros, recordista europeu e mundial em 1984, mas porque não conseguiu a
vitória nos Jogos Olímpicos foi “esquartejado” na praça pública das imprensas e
afins e, o que é mais revoltante, destruíram-no psicologicamente. Indigno!
Repugnante!
Falei
em fabrico nacional esta ingratidão de uma certa classe de “auto-iluminados”. Porque noutros países, há outros critérios,
mais justos e regeneradores. Veja-se na
Islândia, o entusiasmo delirante e agradecido à sua equipa, mesmo após a derrota pela França nos
quartos-de-final do Europeu de futebol/2016.
Honra
ao mérito dos nossos! Não os cito aqui, porque são do sobejo conhecimento público.
Saibamos nós apreciá-los com o ouro da nossa gratidão. Fica-nos gravado como a
melhor faixa colada à memória aquele brado corajoso e optimista que ouvimos de
quase todos os atletas: “Vou começar de novo. Quero já preparar-me para os
Olímpicos de Tóquio”
Não
consintamos que a História seja
monopólio dos vencedores absolutos. Porque há vencedores vencidos e há vencidos
que são vencedores. Nos estádios e na vida.
Acima
os nossos Olímpicos !
Martins
Júnior
21.Ago.2016
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