quinta-feira, 25 de agosto de 2016

QUEM MAIS DESTRÓI: O HOMEM OU A NATUREZA?


Diante de um povo caído ao chão,  vestes coladas ao sangue e aos escombros – quem poderá escrever quieto na mesa da indiferença?...
Por mais altos e sublimados que fossem os conteúdos, tudo ficaria reduzido à cinza e ao pó dos ossos que habitaram esses  muros derrubados. Impossível passar adiante. Porquê a esse povo miúdo e contra essa indefesa aldeia medieval  se abateu  o desatino das funduras?
Poderemos gritar, apostrofar os deuses e os demónios, mas ficaremos sempre amarrados ao determinismo dos ciclos giratórios que tanto nos libertam como nos comprimem e matam. Mais acabrunhante, porém,  é a inelutável  contingência do Homem – Rei da Criação – algemado agora ao ferrete da sua  impotência estrutural perante o fatídico acontecimento!
Correm desordenadamente, dentro e fora de nós, os mais desconformes sentimentos:  desespero e expectativa, angústia e esperança, derrota e solidariedade sem limites.
Permitam-me um desabafo face ao malogro de vidas inocentes, sadicamente ceifadas em menos de trinta segundos, agarradas aos travesseiros da morte. Ei-lo:
Eu  queria trazer ali os loucos dominadores do mundo, os Bush’s, os americanos de Hiroshima e Nagazaki, os Putin´s, os Al Assad’s, os Stlalin’s,  os Hitler´s,  enfim, os jhiadistas assassinos, os comandos suicidas. Talvez que a hipocrisia lhes desse  para verter uma lágrima de falsa compunção. Ao mesmo tempo, mostrar-lhes-ia a paisagem macabra dos campos de extermínio de Auschwitz, , de Bagdad, de Alepo, as casas e os monumentos barbaramente destruídos, gente afogada em sangue, refugiados em fuga desesperada. E aí, sim, com toda força saída do clamor dos milhões de vítimas inocentes, eu próprio, energicamente,  interpelá-los-ia: "Quem fez isto? Quem reduziu a cemitérios os campos, os jardins suspensos, os oceanos, as pessoas e as civilizações de ontem e de hoje?... Quem?!"  
Ao silêncio acusador que os aperta, só me restava convocar o interminável cortejo de humilhados e ofendidos, deste e do outro mundo, e pedir contas no tribunal da consciência universal sobre os abalos da terra e do mar, das crianças agonizando sob as ruinas, os crimes hediondos  que eles produziram, espojados nas ricas poltronas dos  gabinetes. “Vede o que fizestes! Muito pior que os terramotos de Amatrice, Aquila, Úmbria ou Múrcia.   Como reparar tamanhos atentados contra a Humanidade? Quem pagará a factura da destruição?”...
Onde pretendo chegar: à convicção de que perante as forças imponderáveis da natureza, ficamos irremediavelmente, na defensiva, acautelando-nos com as normas anti-sísmicas que os peritos sugerem. Não temos capacidade para mergulhar nas funduras abissais e aí consolidar as magmas e as placas tectónicas que seguem o seu ritmo milenar.  Mas perante agentes concretos do caos, mãos abomináveis que armazenam arsenais de guerra destrutiva e assinam friamente decretos mobilizadores da desgraça, accionam os dedos sádicos para detonar os explosivos do inferno sobre o planeta que pertence a todo o género humano -  a esses é urgente quem se lhes oponha, numa ofensiva conjunta, persistente, sem tréguas, evitando sempre, se possível, as mesmas armas letais.
É a convocatória global a que todos os países, arautos da paz e da vida, deviam responder. Sabendo que os conflitos de interesses deturpam as leis e corrompem as sociedades (governos que hoje se aliam para combater um país terceiro, mas amanhã degladiam-se selvaticamente entre si  por ambições de economia doméstica) perante este cenário autofágico, é ao Povo Constituinte de cada Estado-Nação que compete decidir e agir em conformidade com o Bem Comum, a Paz que nunca chega porque é esse mesmo  Povo que  declina nas mãos de fanáticos dirigentes um destino que originariamente lhe pertence.
Eu sei que nenhum destes considerandos suaviza a tragédia em Itália. Para as vítimas, a nossa  solidariedade possível. Mas um sentimento  insuperável de revolta toma conta do meu ser, quando vejo à minha volta  mãos de homens, feitas  da mesma massa que as minhas, e  se arrogam o direito de portar-se como monstros devoradores da condição humana. Mais execráveis e assassinas que a fúria dos elementos.

 25.Ago.16

Martins Júnior

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