quarta-feira, 3 de agosto de 2016

ACABA EM AGOSTO

          

         O título é meramente indicativo. Não faria sentido, logo com o mês a nascer, vaticinar-lhe o fim. Recupera, porém, toda o interesse, visto à luz do objectivo que sucintamente passo a expor.
         Passado o verão e com a folhagem de outono a alcatifar de amarelo desmaiado as praças e jardins, Machico todos os anos  faz erguer  da tumba  secular aquele que incarna o ADN das gentes que habitam aquela que foi a primeira capitania da Madeira – Francisco Álvares de Nóbrega, o grande “Camões Pequeno”. Muitas têm sido as iniciativas que, ao longo das últimas cinco décadas, têm trazido à luz do dia “a maior alma que Machico deitou ao mundo” (repito eu, pensando na fala de Telmo, o velho aio acerca de Luis Vaz de Camões, no “Frei Luis de Sousa” de A. Garrett)  o qual  , por injustiça cruel, as garras do obscurantismo político-religioso sepultaram aos nossos olhos.
         Não é o momento de traçar a vida e a obra de Álvares de Nóbrega. Fá-lo-emos ao longo dos quatro meses que medeiam entre Agosto e Novembro, data em que Machico comemorará o 243º aniversário do seu nascimento, datado mais precisamente de 30 de Novembro de 1773.
         Por hoje, quero acompanhar a notícia do Concurso Literário que  a Junta de Freguesia de Machico, à semelhança de anos anteriores, lançou sobre o signo “Francisco Álvares de Nóbrega”. Tema aliciante, rico de  uma densidade polícroma, como a que caracteriza a personalidade do sonetista, contemporâneo de Bocage! Tomando por fonte originária a obra do Autor – sonetos, epigramas, éclogas e sátiras -  ficam abertas  as largas pistas  à  imaginação criadora do concorrente, desde que confinantes com o espírito nobricense. Valerá a pena consultar o Regulamento no sítio da JFM.
         “Estudos Nobricenses” – assim  determinaram  os fundadores da   “EFAN”,  criada em 2005 e que tem produzido apreciáveis trabalhos sobre o tema., os quais oportunamente terão pública visibilidade.
         Mas não basta alcandorar ao Olimpo dos deuses o talento multiforme de Álvares de Nóbrega. Os sucessos, ele nunca os logrou em vida,  nem muito menos os procurou. Pelo contrário, coube-lhe apenas curtir nas masmorras da Inquisição a vilania dos  “zombies” promotores da ignorância e do fanatismo.
         O que mais almejaria o nosso nobre conterrâneo é que seja conhecida a sua mensagem. Os tratados académicos que o libertam do pó dos arquivos são, sem dúvida, um prestimoso contributo histórico. Mais importante, porém, - e único! - é beber as águas cristalinas e férteis que brotam dos seus escritos. Recriá-los, entendê-los, projectá-los. Completar aqui e agora os sonhos da Liberdade, Igualdade e Fraternidade que ele amou e pelos quais entregou os seus trinta e tês anos vida.
         Eis o que ele nos pede. Não lhe voltaremos as costas, como herdeiros desnaturados do seu passado. Antes, responderemos à chamada. Na medida dos esforços possíveis, vale a pena acender em  cada um de nós essa chama participativa que ele fez abrir em Machico – “A Minha Pátria”, assim proclamou no seu famoso soneto que, em boa hora, a JFM erigiu como hino da cidade.
Aí fica o meu apoio mais caloroso e patriótico, dirigido  a quem me lê: aceda ao Regulamento do Certame e inscreva o seu lugar no pódio onde bem merece estar Francisco André Álvares de Nóbrega. E acaba em Agosto – no dia trinta deste mês, até às dezassete horas. Está assim justificado o título. Compete a quem ainda não o fez meter mãos à obra. Que belo programa para umas belíssimas férias!

         03.Ago.16
         Martins Júnior

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