Não
é na barafunda publicitária que navega a Justiça, porque quando o estouro é grande, a chama é parca e
fugaz. Gestos há que, no recôndito do seu “habitat” sentem e fazem sentir ao
redor o perfume da Justiça e da Beleza.
Aconteceu
em Machico, 30 de Novembro.
Há
243 anos nascia nesta freguesia Francisco André Álvares de Nóbrega. A terra
primeira da Descoberta da Ilha trazia no seu seio os genes prematuros que mais
tarde produziriam troncos e génios de todos os “Camões”, do maior ao mais
pequeno. Porque ser “Camões”, mesmo pequeno, sobrepuja o comum dos mortais. E foi em 30 de
Novembro de 2016 que Machico voltou a
erguer nos seus braços esse que, sendo “Pequeno”,
foi seu filho maior. Comemorou-se o nascimento do grande vate - não só de
Machico, mas da Madeira – com a dignidade e o calor humano que merece. Aliás,
há cerca de meio século, conterrâneos seus, abertos à Luz e sensíveis a tão
singular Personalidade, têm batido à porta do “sítio dos Moinhos”, onde nasceu,
chamam-no à mesa da saudade e aí reaprendem, em verso e canto, os seus sonetos.
Neste
ano, Francisco Álvares de Nóbrega desceu à cidade e à sua volta reuniu “amigos”
de longa data, cultores seus. Agregou os poderes autárquicos e viu fazer-se-lhe
Justiça. Câmara Municipal, Junta de Freguesia e “EFAN-Estudos Nobricenses” deram-se as mãos e levantaram--lhe um justo pedestal. Não o do espectáculo gratuito, de
encher a vista, mas o do profundo, que penetra e inunda o espírito Refiro-me à
homenagem que lhe foi prestada pela edilidade, com o novo título dado à Biblioteca – “Biblioteca
Municipal Francisco Álvares de Nóbrega”. É o seu meio ecológico, a Biblioteca.
É aí que jovens, adultos e até anciãos vão beber da água cristalina da Cultura,
de cujo manancial se alimentou outrora o
nosso poeta, pensador e tradutor.
A
Junta de Freguesia franqueou o Salão de Actividades Culturais para fazer
reviver Francisco Álvares de Nóbrega, na recitação de alguns sonetos, em
paralelismo com os do seu companheiro de
cela, Manuel Maria Barbosa du Bocage,
cujo 250º aniversário Portugal acaba de comemorar. Ambos foram presos pela
Inquisição, nas masmorras do Limoeiro. Registo emotivo para o Grupo Coral de
Machico que interpretou, em polifonia a quatro vozes, dois sonetos das “Rimas”, composição do maestro Nélio Martins.
Prestimoso
brinde de aniversário ganhou a “EFAN-Estudos Nobricenses” com a cedência, pelo
Município, de uma sede (sonho antigo), onde ficarão expostas ao público as
publicações editadas por esta Associação, fundada em 30 de Novembro de 2005.
Fiel ao seu objecto social, o estudo e divulgação da vida e obra de Francisco
Álvares de Nóbrega, já deu à estampa as “Actas do Bicentenário” (2006-2007), o “Processo
nº 15764” do Tribunal da Inquisição e a
peça de teatro “Camões Pequeno” do escritor e dramaturgo madeirenses João
França.
Não
podia passar o 30 de Novembro sem que
fosse evocada a memória do presidente da Assembleia Geral da “EFAN” e grande
impulsionador desta efeméride, Manuel
Rufino Teixeira, recentemente falecido.
Fez-se
Justiça. À “maior alma que Machico deitou ao mundo”, repito, parafraseando
Almeida Garrett quando se referiu ao nosso épico Luís Vaz de Camões. Mas a maior prova, a única
que Francisco Álvares de Nóbrega, o “Nosso Camões”,
mais apreciaria, consiste no conhecimento
dos ideais que ele cultivou e pelos
quais deu a própria vida – Liberdade,
Igualdade, Fraternidade!
03.Dez.16
Martins Júnior
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