Fácil
é nascer; difícil é o renascer. Saboroso é ter nas mãos o fruto apetecido; mas doloroso e, por vezes, inalcançável é
recuperá-lo, quando perdido. Até na saúde, normal é possuí-la, feito maior é
reconquistá-la. Três casos-tipo, os apresentados, para chegar à conclusão de
que, em tudo na vida e na história, exige mais esforço e merece o mais alto louvor a reconquista do
tempo e do espaço que antes eram nossos e, por inércia ou traição, deixaram de o
ser. É uma evidência.
Assim foi em 1640, o dia 1 de Dezembro.
Assim tinha sido já na crise de 1383-1385. Sempre com a muralha hostil de
Castela em frente a Portugal - pequeno no tamanho, mas gigante no ânimo.E assim voltou a acontecer em 1910 e em 25 de Abril de 1974.
Neste
ano, as homenagens ao emissário de Castela (leia-se, Espanha) ganharam uma
aproximação histórica. Aconteceram, precisamente, antes de Filipe VI deixar o
território luso, nas vésperas do 1º de Dezembro. Embora num outro cenário
político bem diverso, também há quatro
séculos os Filipes deixaram livre o Portugal então amordaçado por Castela.
Muito custou a recuperação da
Liberdade. Houve quem arriscasse a vida para que, de novo, o Povo Português se
revestisse do brilho de outrora e
entrasse na senda do progresso e do crescimento económico e cultural. Por isso,
esta data tinha de ser reencontrada, reerguida, alcandorada no trono da
história. Apagá-la da nossa memória colectiva foi como que um ignominioso acto
de rendição e derrota do nosso prestígio. Uma despersonalização do todo nacional. Assim, a retoma do 1º de Dezembro ganha uma simbologia maior, reacende o
nosso brio, levanta, “de novo, o esplendor de Portugal” e a vontade de erguer a fronte, à conquista do nosso lugar ao sol. É a
reafirmação daquela independência possível,
que outros deixaram cair, esfarrapada, numa governação agradada aos estranhos
de fora, mas opressora aos filhos de
dentro. Porque sempre é mais barato vender que comprar.
É
este o ímpeto que a proclamação do 1º de Dezembro deve insuflar no
subconsciente de cada português, mais que a fortuita benesse do feriado. “Independência
ou morte”, clamavam os verdadeiros defensores da pátria.
Tão
difícil e necessário quão glorioso é o
troféu da Independência! A todos os níveis: político, económico, social e
cultural, Sem respeito pela personalidade endémica de cada nação nunca serão
possíveis a unidade e a paz. A submissão compulsiva só produz o silêncio das
masmorras e a “paz” dos cemitérios. A Europa terá de sentir no coração e nos
centros de decisão a dignidade do Povo Português, em vez de fazer dele um
pedinte hereditário, um eterno devedor, sem direito a crescer e a ser livre,
autónomo, independente.
O
1º de Dezembro penetra mais fundo no psiquismo individual e na autonomia do
pensamento. Incita-nos a rebater o primado do pensamento único, quer seja no domínio do intelectual, do económico, do
filosófico, do religioso, até e sobretudo. Sem liberdade de concepção, o
pensamento atrofia-se, a fé mecaniza-se, a história apodrece. O meu voto – o produto
desta féria de hoje – define-se assim: Que
o 1º de Dezembro seja todos os dias e todas as horas em que levantes a bandeira
da tua personalidade, o cântico da tua independência, respeitando sempre a bandeira
de todos quantos têm direito ao mesmo nobre estatuto.
01.Dez.16
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário