Vem
nas revistas da especialidade e vem nos diários de bairro, pula das eólicas às
parabólicas, passa nas redes sociais e nos ecrãs panorâmicos das TV’s. É a praxe de fim-de-ano, com o volumoso
cardápio das figuras de proa que mexeram com os 366 dias de 2016. Foram os
donos da tinta e do papel publicado, “pivot’s” dos noticiários sensacionais,
enfim, foram os cometas estrondosos que riscaram a abóbada planetária do ano
bissexto.
Pertencem aos segregados do Olimpo, umas
vezes por mérito próprio, outras porque apanharam o comboio das oportunidades
que lhes passou à ilharga da vida. Eles são os da alta finança, eles são os “Trump’s”
emersos da bebedeira de um “povo de carneiros”, eles são os verdugos da bola –
e todos, por junto, são parto da fama
que hoje se levanta e amanhã se esfuma. A história, sempre se disse, é a praia
dos vencedores.
Hoje, porém, esqueço as estrelas e
baixo os olhos para o chão rasteiro por onde caminhamos todos os dias e
saboreio o cheiro gostoso dos alecrineiros, das violetas, do musgo e do
rosmaninho que alcatifam o terro do quotidiano sem nome, como vicejam entre as
pedras do presépio. Mergulho nos regatos
órfãos de brilho mas prenhes da seiva fecundante que alimenta as raízes
seculares e as leguminosas efémeras, sem as quais o cérebro asfixia e o coração colapsa. Hoje esconjuro o
espectáculo e o tsunami dos brasonados da
corte – de tão poucos, são tão fáceis de encontrar – e deleito-me com os
protozoários quase invisíveis da vida, os artífices infinitamente pequenos mas
portentosamente grandes porque são eles os portadores e sustentadores do
equilíbrio dos elementos e das pessoas, os que acompanham pela mão o viajante do
mundo que cada um de nós traz consigo.
Não tenho nenhum “Nobel” à minha beira,
mas vejo tanto sábio que me ensina a soletrar as pregas da vida. Olho o
mestre-escola que, paciente e diligentemente, abre os olhos da criança para a
enciclopédia dos saberes. Descubro o herói trabalhador que todos os dias, faça bom ou mau tempo, pega a
enxada e o martelo e segue avante para desbravar a terra e construir o mundo. Vejo
aquela mãe, amorosa e vigilante, cujo coração acompanha o filho à escola e ali
fica, invisível, sentada na mesma carteira. Toco o sofrimento de quem está acamado e paralisado,
sem pernas para o mundo mas com asas para o optimismo do dia seguinte. E a seu
lado, estende a mão um anjo de Belém para
a dor e para a solidão do sofredor. Sigo atrás daquele que bate à porta de
alguém para pedir perdão do mal causado, Assisto, comovido, ao abraço da paz
entre irmãos desavindos, e vejo nisso o mais seguro formulário para os Tratados
de Paz entre as nações. Ponho os meus pés nas pegadas de todos os pedagogos e
pastores, pais e avós, que, sem dar nas
vistas, colocam pedra sobre pedra no monumento silencioso da história.
São os infinitamente “Mais” deste e de todos
os bissextos da roda dos tempos. Nunca ninguém os trará à varanda da fama e
jamais verão o seu nome nas bancas dos feirantes publicitários. Mas são eles o fermento na massa, são o rio
criador que põe a terra verde e a alma em festa!
Small is
Beutiful – será o seu hino triunfal, esses para quem o “maior troféu do
dever cumprido é ter cumprido esse dever”. Peço licença para alistar-me nesse
acampamento onde o dia nunca acaba e o Ano é sempre Novo!
27.Dez.16
Martins
Júnior
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