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de Março de 2017, a maior jornada sportinguista de todos os tempos! O maior
campeonato do Sporting Club de Portugal! Record imbatível!
Olh’ó
melro verde-branco! – dirá quem me conhece. Aliás, foi o comentário que alguns
amigos me fizeram quando lhes confidenciei que o texto de hoje seria inspirado
nas eleições de Alvalade: “ bora, bora, tu que nem sequer ligas ao futebol”.
E é verdade. Amo tanto o desporto
quanto detesto o futebol profissionalizado, por razões que já em tempos
desdobrei Neste mesmo correio. Mas hoje,
porque é carnaval e, sobretudo, porque de tudo o que é efémero podem extrair-se conclusões duradouras, aqui
vai mais um escrito vogando em cima das águas correntes.
Achei um fenómeno colossal a romagem
porfiada dos sócios que aguentaram de pé horas a fio, à espera da sua vez. Nem
num hipotético consultório do tamanho de um estádio ver-se-ia um tal monumento
vivo à persistência e à mais masoquista resignação. A sublinhar a mole imensa
que se arrastava a passo lento, as figuras gradas da colectividade não se
cansavam de repetir aos jornalistas: “Isto é que é sportinguismo, vitalidade,
amor, fé inabalável, 10 mil quilómetros de paixão", escreve o jornal A BOLA.
Gostei muito desta sublime confissão – a fé inabalável que forneceu energia a
muitas centenas de sócios que esperaram até às três da manhã para saber o
resultado. E a imprensa e a rádio e as TV’s. É obra!
Mas o que digo da apoteose
sportinguista, digo-o também de qualquer outro clube. Não me sai da memória o
credo solene que ouvi ao reconhecido artista Artur Semedo: “A minha Religião é O Benfica”. De onde se conclui (e, ao mesmo tempo, se interpela) que o futebol-espectáculo
fomenta turbinas potentíssimas de coragem nas multidões e fá-las explodir mais
que o Etna incandescente em lavas fumegantes, pavorosas até. Deliciei-me,
frente ao televisor, com as juras eternas de amor à bandeira, ao exclusivismo apaixonado, ‘amor à camisola’ e à fidelidade clubista,
nalguns casos desde a barriga da mãe. Um
poema homérico, maior que o maior pacto conjugal!
Esbarrei, depois, com um monte de
questões e constatações, incógnitas e contradições, entre as quais a seguinte:
os sócios (que não jogam senão com as quotas que pagam) têm a camisola inseparavelmente
colada ao corpo, mas os artífices do clube, as raízes que justificam os frutos da
vitória - os treinadores e os jogadores - são a sua total negação. São eles os
que menos respeito têm à camisola, só desamor
profissionalizado. Amanhã estarão na
primeira linha de ataque contra o clube da véspera. Usando a expressão popular,
é a maior facada no casamento! E, por
mais ou menos “trinta dinheiros”, adeus paixão, adeus patrão. Não passam de um
pelotão de mercenários sem pátria nem
coração. Por isso, ao lado do frémito dos fiéis indefectíveis à
bandeira, que até chegam a contagiar-me por momentos, surge-me logo o relâmpago
da razão a comparar o mágico esférico do relvado com uma bola feita de notas
milionárias, prontas a entrar imediatamente na grande baliza chamada cofre
forte do Banco.
Outra questão que me estragou o
espectáculo televisivo: quais as garantias – sólidas, fiáveis – trarão para o
país aquelas intermináveis filas de espera?... Em que é que influem na saúde
pública, na paz social, no ensino, nas pensões e reformas, enfim, no estado da
nação?... E, galopante, assalta-me outra interpelação: será que num referendo
para bem do país, numa votação para a Região, para a República, para a Europa,
onde se decidem o presente e o futuro de um povo, repito, será que
mobilizar-se-iam as turbinas do entusiasmo e a mesma fonte de energias para uma
idêntica participação?... Responda quem quiser.
Está chegando o mês de Maio e, do velho
Salazar, chega-me ‘aquela frase batida’ para anestesiar o povo, os tais três F:
Futebol, Fátima e Fado.
O
verdadeiro desporto - o exercício atlético - é saúde e é riqueza, nunca
mercantilismo servil e doentio. Falo de
todos os quadrantes e modalidades profissionalizadas num contexto a que nos
habituaram os donos dos clubes e os ‘media’. Compra-se tudo: jogadores, clubes,
treinadores, camisolas, chuteiras, estádios. E muito mais que se pensa e não se
diz. Oxalá não venha o sr. Trump cortar com o comércio globalizado do mercado da bola.
Entretanto, ‘lá vamos cantando e rindo’,
ouvindo, brigando e bradando. É carnaval e ninguém levará a mal.
05.Mar.17
Martins
Júnior
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