À
primeira vista não há quem duvide desta espécie de ‘travesti’ para o divertido ‘enterro
do osso’ neste fim-de-semana. E diverte. É carnaval, ninguém leva a mal. Decerto que já todos descobriram os reis da
trupe, animadores do corso, mas ameaçadores deste mundo em que vivemos. Nada
menos que o sr. Trump, paramentado de cardeal Burke e este, o cardeal Burke,
mascarado de Trump. Ambos americanos, ambos poderosos. Ambos diferentes e ambos
iguais. Os dois diferentes no ofício, um político, o outro eclesiástico. Mas os dois iguais, no poder e na ambição prepotente de controlo. Dois
poderes que, apresentando-se diversos no objecto – um sobre o corpo, o outro
sobre a alma dos povos – acabam por trocar de papéis e formar um só tronco
bicéfalo, explosivo monstro de duas cabeças contra-natura.
Mas a partir daqui, o “par carnavalesco” já não nos diverte. Pelo
contrário, faz-nos pensar e indagar o porquê desta minha opção caricatural.
Estamos perante um dos mais perigosos incestos que têm dominado o mundo: a
fusão de dois interesses que, devendo ser independentes e, nalguns casos,
conflituantes, afinal abraçam-se, coabitam no mesmo paiol e, pela febre de domínio, aliam-se no mesmo programa
totalitário e castrador de consciências, ambos carcereiros do pensamento e da
liberdade.
É do conhecimento público a obstrução
que o cardeal Burke tem feito publicamente para manietar a mensagem libertadora
do Papa Francisco. É ele que, no seio do
próprio Vaticano e em conluio organizado de quatro cardeais ultraconservadores
(a que não seria temerário de classificar de ‘quadrilha purpurada’) tem fomentado, de forma desrespeitadora e
insultuosa, a rebelião contra o argentino Jorge Bergollio, chegando a propor a hipótese de levantar um processo canónico
contra o seu superior hierárquico, acusando-o de heresia. Um cardeal chamar herético
(herege) ao Papa!. Ao ponto a que isto chegou!!!... São deste teor os cartazes
que apareceram nos muros de Roma, da noite para o dia. A história repete-se desde o berço do
Cristianismo: foram os Supremos Sacerdotes (hoje, ‘os cardeais´) do Templo de
Jerusalém que chamaram a Jesus de satanás e O assassinaram por blasfémia. Prova
manifesta e insofismável de que Francisco está no caminho certo!
Falta, porém, entrar em cena o segundo
figurante deste estranho carnaval que, como se vê, não diverte, antes perturba e oprime. Transcrevo o excerto de um texto do
abalizado teólogo Prof. Dr. Anselmo Borges, em recente edição do DN/Lisboa: “Segundo
o New York Times, o cardeal
ultraconservador Burke e sectores fiéis a Donald Trump na Casa Branca,
concretamente o conselheiro Steve Bannon, conspiram contra Francisco, esperando
que, com a vitória de Trump, o Papa fique um pouco isolado”.
Para quê mais argumentos, para quê mais
testemunhas? Aquilo que, não há muito tempo, era atirado à face de um
cristão anti-ditadura, de um padre
operário, de um pastor de almas que lutava também pela salvação dos corpos,
aquilo que se criticava num teólogo
interveniente na área da justiça social ou, mais raro, num bispo verdadeiramente
cristão combatente por uma sociedade mais justa e igualitária – todos esses
baldões deprimentes, aleives soezes, senão mesmo suspensões, excomunhões e toda
a espécie de anátemas, tudo isso é agora lançado em rosto ao próprio Papa, e
por quem?... Pelos da sua casa, debaixo do mesmo tecto, outros Judas Iscariotes
interessados apenas na bolsa e no poder, capazes de vender o próprio Mestre ou,
então, liquidá-lO. Onde o respeito pelo ‘Sucessor de Pedro’?... Onde a defesa
da infalibilidade do Sumo Pontífice?… Onde a fidelidade ao ‘Representante de
Cristo na terra’?...
Está
visto que o Papa só merece esses títulos encomiásticos quando se coloca ao lado
dos poderosos do mundo! Mas quando se posiciona ao lado do Mestre, despertador
de mentalidades e portador da luz que destrói o obscurantismo reinante, então, adeus
Sumo Pontífice, rua Sucessor de Pedro, enfim, tirem-no da nossa frente,
crucifiquem-no.
Do
carnaval satânico que nos sugere o título de hoje, fique aquela conclusão que
sempre me tem acompanhado: Só os cristãos de base, esclarecidos e corajosos,
poderão segurar o Papa Francisco e todos os que o seguem!
03.Mar.17
Martins Júnior
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