Não
podia fechar este 25 de Março europeu, prenúncio do 25 de Abril português, sem entronizá-lo
dentro de mim. Porque eu também sou Europa. Queira ou não queira, ele mexe
comigo. Mais que a Hora do Planeta, mais que todas as velas acesas no mega-apagão
do mundo, a Criança-Infanta nascida em Roma no ano da graça de 1957 cresceu,
fez-se jovem mãe, gerou no seu seio quase trinta rebentos de esperança,
entrelaçando num mesmo abraço povos e línguas do norte ao sul, do nascente ao
poente deste velho continente. Venceram-se barreiras atávicas de nacionalismos
despóticos, abriram-se passagens de nível entre estados através do ‘espaço
Shengen´, de uma família “a seis” evoluiu-se para a grande roda dos “vinte e
sete” que fizeram crescer um aglomerado de 185 milhões para um total abrangente
de 510 milhões de cidadãos-irmãos do mesmo tronco comum. De assinalar que o
produto interno per capita subiu de
15.000 para 52.000 euros, segundo as
estatísticas oficiais.
É
verdade que nem tudo foi um mar de rosas. Por isso Charles Kupman, ex-assessor
de Barack Obama, classificou esta comemoração como um “aniversário agridoce”. De
60 anos de progresso, é certo, sobrevieram
10 anos de crise, sobretudo desde 2007, ao ponto de vermos proliferar o joio da
desagregação iminente, a partir do mais recente caso Brexit.
Apesar de nascida sob o firmamento da “Cidade
Eterna”, os sucessivos tutores têm-se desviado da
matriz original impressa pelos seus progenitores. E de um pacto de Europa Unida, foram-se degradando
os seus genes, dando lugar a novos egoísmos centralizadores, a
neo-nacionalismos exacerbados e à exploração do mais forte e mais rico sobre o
mais fraco e mais pobre. Sempre o cancro insaciável do capitalismo, sobretudo o
financeiro, a imperar, como outrora, num continente e num mundo que se previam
igualitários e justos!... Neste parágrafo incluo uma outra vertente, a dos
cidadãos – nós, os europeus – que deveríamos estar mais atentos e vigilantes
nas decisões que, às ocultas, os presumíveis representantes nossos assumem nos longínquos areópagos ‘bruxelianos’ sem que deles tomemos consciência
alguma. Refiro-me também, neste item, à
aplicação dos chamados fundos comunitários que ficam quase sempre nas mãos dos mesmos
comparsas do poder político de cada país-membro ou de cada região, com prejuízo
do trabalhador anónimo, do camponês, do pescador, do funcionário público. Aqui,
tem de haver quem desperte a vigilância popular, para que não se nos atribuam
os baldões que o ‘super-tesoureiro’ da Eurogrupo, o holandês Dijsselbloem, lançou contra os países do sul.
Não
obstante este decénio de obstruções e perigos que, à semelhança de uma espada
de Dâmocles, pairam sobre a Europa, há um recanto de ponderação e de conforto
onde nos podemos abrigar e que se pode compor na seguinte reflexão: Só
abraçamos decididamente um bem quando o comparamos com o mal onde vivíamos
antes. E só o apreciaremos o suficiente quando e se, algum dia, o viermos a perder. Aquela
amálgama de territórios, separados como hordas ribais, de ante-1945, essa Europa sangrenta e fratricida,
NUNCA MAIS! Basta lembrar as duas grandes guerras (1914-1918 e 1939-1945) as
quais foram geradas dentro da própria
Europa, com maior responsabilidade para o conflito franco-alemão. Adeus,
guerras dos 10, dos 30, dos 100 anos! Saiam dos sepulcros os milhares e milhões
de vítimas inocentes e bradem aos eventuais
povos delirantes, desejosos de sangue!
Foi
belo e comovente aos olhos de quem se sente tripulante destoutra “jangada de
pedra” que é a Europa ver os novos timoneiros do Velho Continente - herdeiros de Jean Monnet, Konrad Adenauer,
Jacques Delors – voltarem ao berço onde
nasceu este sonho de uma Europa Unida, o Tratado de Roma! A coroar a Grande Efeméride “agridoce” surge algo de novo:
Francisco Papa, não tanto como o propagandista de uma Igreja, mas como
intemerato e apaixonado bandeirante da Paz e da Fraternidade na Europa e no
Mundo que, na sua exposição, apontou as pistas do futuro: Sarar as feridas do
percurso e Marchar sempre em frente. Mesmo sabendo que o braço de ferro do
capitalismo financeiro não desiste de
esganar os mais fracos, opúnhamos a
força maior do exército pacífico de
todos nós, participantes e construtores da enorme Família Europeia.
A
estes quatro parágrafos que, como o trevo das quatro folhas da sorte e da felicidade,
ofereço no 60º aniversário, junto mais
uma cereja em cima do bolo – esta colhida no cerejal da
minha crença bíblica: o dia 25 de Março,
no calendário litúrgico, celebra a Anunciação daquele que mais tarde surgiria
como o Messias Libertador da Humanidade.
O voto que faço é que o documento hoje assinado
e reconfirmado pelos “27” em Roma
signifique o arcanjo anunciante de uma Europa Melhor e de um outro Mundo Novo!
25.Mar.17
Martins Júnior
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