É
um ‘não-assunto’ que hoje vos trago. E sem vontade. Precisamente por isso: por
ser um ‘não-assunto’. Mas já que se mexeu nos alicerces de Portugal e se
empurrou meia ilha para o ‘não-assunto’, eis-me aqui a transformá-lo em assunto
do dia. Aliás, já me dei conta do seu parto deleitoso na acta-rábula que o SENSO&CONSENSO publicou em 03/01/17 ,
para cuja leitura convido os meus amigos.
Dois
sinais de trânsito quero colocar à entrada. Primeiro: viva o maior jogador do
mundo do futebol, nosso conterrâneo. Segundo: o ‘corajoso’ inquilino da Quinta
pode pintar a casa e o roseiral da cor
do craque, pode tatuar-se da cabeça aos
pés do mesmo jeito. Que até fica jeitoso. Mas o que não pode é carimbar assim a
ilha secular e obrigar-nos todos à mesma tatuagem, concebida numa noite
luarenta e fumacenta na inauguração de um solar do craque.
Quanto
ao mais, poucas palavras, mas as suficientes.
A
Madeira encolheu e o portador da Taça perdeu. O que antes abarcava um enorme
colectivo agora espremeu-se num busto irrisório. Para apresentar a Madeira e
reduzi-la a um par de chuteiras - é
preciso ter tanto de ‘coragem’ quanta a
miopia de senso.
Por
sua vez, o craque perdeu. E perdeu, porque dele só se ouviam aplausos, vivas, “não
há outro maior que o homem das bolas de ouro”. E agora, estragaram-lhe o nome, obrigaram-no a trepar abusivamente um pódio que não era o seu, espetaram-lhe a
cara no beiral do aeroporto, onde fica ali suspenso, sumidinho. “Cada macaco no
seu galho” – comentava-se – e o dele não era aquele. E ele sem culpa nenhuma. E
quando a ‘oposição’ dos ventos cruzados
chutar para fora os aviões que querem entrar, lá estarão as femininas vozes dos
altifalantes moendo a paciência: CR fechado, CR aberto, CR cancelado e outros
mimos. Podiam poupá-lo a esta tortura.
CR7
é grande – com ou sem a Madeira.
E
a Madeira é maior – com ou sem CR7.
São
de um raro preciosismo os novos nossos governantes. É tal a sua originalidade
que não fazem o que o Povo pede e tão depressa
fazem o que o Povo não pede. Pergunta-se: “Foi você que pediu um apêndice
no pescoço do aeroporto”?... Porque o que lá está não passa de um remendo mal
deitado no colarinho da aerogare. Ao
menos por coerência, senhores, fizessem algo de imponente e vistoso, como quadra ao “homenageado
à força”. Enfim, coisa de saloio… E abalam-se as estruturas do país –
Presidente e Primeiro Ministro – para um improvisado e teimoso carnavalinho de
feira, a que não faltou um bodo aos pobres espectadores, sobretudo criancinhas
às centenas, fora das aulas, em feriado também obrigatório.
De
demolidor de pontes a destruidor de identidades – titulei este ‘não-assunto’, da autoria do
novo chefe da Quinta. Deixe a Madeira em paz no frontispício do nosso pórtico
primeiro. Ela é a nossa identidade genesíaca. Ela é maior e mais bela que
qualquer um dos seus filhos! Quem sabe se, pelo mundo inteiro, virão reis do
oriente e do ocidente, coreanos e lapões, em busca da “ilha CR7” e, por engano,
ao aterrar, descobrirem que é a Madeira?!...
Não
chega. Mas fica-se por aqui. Porque o “histórico feito” não passa de um vulgar ‘não-assunto’.
Só faltou ensaiar aos meninos (graúdos e
miúdos) o hino da Mocidade Portuguesa dos velhos tempos em que o mudaram o “Estádio
dos Barreiros” para “Estádio Marcelo Caetano”:
“Lá vamos cantando e
rindo
Levados, levados, sim”
Levados,
mas não todos. Eu também não.
E quem pensar de outra forma tem também
o seu direito.
29Mar17
Martins Júnior
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