Para quem viveu o
sobressalto, todo o dia e a toda a hora,
da guerrilha colonial por terras de África , não pode ficar quieto perante o
que se passa nas principais cidades europeias. Circulando pelas ‘picadas’ da
imensa floresta africana, sempre vigilantes ao menor estalido das árvores
seculares e com o coração aos tombos, mais estremecentes que as molas do velho
‘unimog’ que pisava um terreno minado, o sonho que nos animava era chegar
àquele dia, marcado ansiosamente no calendário da caserna, para regressarmos à ‘metrópole’ e, enfim,
dormir em paz na cidade ou na aldeia da nossa pertença. Mas o que nunca suspeitámos acontecer
depara-se-nos agora no asfalto da nossas avenidas e parques de lazer, dentro da
nossa própria casa: a guerrilha urbana. Voltámos às ‘picadas’ da selva em
plenas praças civilizadas; os autocarros, os trens e os peões anónimos
pisam crateras assassinas e petardos prontos a detonar. Nem escapam as muralhas
outrora inabaláveis nem os baluartes onde se fazem as leis que seguram as nações, como acaba de acontecer
no Parlamento britânico, marco primeiro das democracias europeias
E
surge a grande, angustiada incógnita: Para onde se há-de fugir?... Quem nos defende, quem nos segura?..
Nem nos subterrâneos do metro nem no alto das montanhas, nem nas asas do avião!
Desde
2011, um pantanal encharcado em sangue - esta Europa, libertada em 1945, igualitária em 1948 pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e reunificada em 1957 pelo Tratado de Roma! Proporcionalmente mais vitimizada que Portugal
nas guerras de África: 2004, metro de Madrid, 191 mortos e 2000 feridos. 2005,
metro de Londres, 56 mortos. 2011, num acampamento de Utoya, 68
mortos a tiro. No mesmo dia, em Oslo, ataque à bomba, 8 mortos. Janeiro 2015, Paris, semanário ‘Charlie Hebdo’,
12 mortos e 12 feridos. Novembro 2015, Paris, ‘Bataclan’,137 mortos. Março 2016, Bruxelas, 35 mortos. Junho 2016, Leeds, assassinada a deputada Jo
Cox.Julho. 2016, Nice, 87 mortos,
centenas de feridos. Dezembro 2016,
mercado de Berlim, 12 mortos, 50 feridos. O ataque de anteontem em Londres, junto
ao Parlamento, matou 5 pessoas e abalou
as estruturas de séculos de regime democrático.
Quer
premeditados nos ‘bunckers’ terroristas,
quer individualizados pelos chamados ‘lobos solitários’, assaltos destes o que pretendem é tornar a nossa Europa num local inabitável. Quanto se
possa escrever sobre este cemitério de inocentes, já foi dito. No entanto, não
faltaremos à verdade histórica se constatarmos que todo este plano infernal
recrudesceu a partir do tresloucado ataque de Bush ao Iraque, em 2003. Recuando
no tempo, verificamos também que foram os países europeus, de alto a baixo, que
colonizaram os territórios enfeudados ao Corão, daí brotando uma onda,
insanável até hoje, de invasões mútuas que levaram os muçulmanos a ocupar e
dominar importantes faixas do mundo europeu.
Não se diga, porém, que o
móbil deste arremesso cobarde e assassino é o fundamentalismo religioso de
qualquer das partes. Trata-se de ‘negócio’ de assalto às ‘torres’ do capital,
sem escrúpulos. Longe vão os tempos da guerrilha armada entre as religiões. A
matriz religiosa não passa de insaciável burka encapotada do domínio e da ganância
capitalistas.
Depois vêm as
fraudulentas lamúrias de um Trump ou de um Erdogan e outros que tais, que
afrontam a paz entre os povos com muros tribais e orçamentos escandalosos para
abater imigrantes indiscriminadamente. Não será nas próximas gerações que se
hão-de cumprir os desígnios inatos do ser humano em sociedade. Só uma longa e árdua
estrada da educação permitirá alcançar o
bíblico Shalom Adonai de uma paz
duradoura. Leis, parlamentos, governos, tecnologias, famílias, universidades,
igrejas, povo – se falhar um só destes denominadores fulcrais está o planeta
vulcanizado e nós todos moribundos de
pavor. Onde acharemos um esconderijo que nos garanta segurança e mútuo
conforto?
Em jeito de rodapé de
página, não consigo esquecer que os madeirenses viveram em sobressalto de
guerrilha urbana quando, na década de 70,
o movimento bombista ‘Flama’, cobardemente, foi a mão criminosa que na clandestinidade
abateu pessoas e bens neste minúsculo
arquipélago. Com a vigilância e o crescimento civilizacional do povo madeirense
e das suas instituições, o jihadismo ilhéu afogou-se para sempre em mares desconhecidos.
É o que se pretende para
o imenso
arquipélago do nosso planeta!
23.Mar.17
Martins Júnior
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