Primeira barreira:
Não pago bula aos homens do poder. Segunda:
Perigoso e provisório é sempre transportar alguém ao vértice da glória,
sobretudo a quem já se situa no trono do reino, pela sábia razão do risco que
se corre perante o dia de amanhã. Terceira:
Detesto a adulação, ainda que dissimulada, aos que nas mãos
guardam hipotéticas reservas de benesses prontas a sair.
Mas hoje, por um imperativo
incontornável de análise global, decidi saltar as barreiras para ver ‘claramente
visto’ (Canto V,18) um lampejo de
alma nova no berço desta presidência-bebé de um ano de existência. Aliás, tudo
foi novo neste país - a inimaginável simbiose de forças, até então, antagónicas
e, como que a cereja em cima do bolo, uma presidência vigilante e aglutinadora,
síntese de quarenta anos de antíteses radicalmente obtusas no seu
relacionamento partidário. É nesta conjugação astral numa nesga do planeta – Portugal - que se ajusta
com toda a evidência aquela máxima tão difícil de alcançar: o Homem certo na
Hora certa!
Juntaram-se as peças do puzzle e, do que antes era um
mini-pântano de sapos em suicida ‘batraquiomaquia’, passou-se a um estádio
superior onde agora falam mais alto os interesses da nação do que os coaxares
exclusivistas de cada partido. E tinha de surgir alguém que não deixasse apagar
esta chama iniciática, tridimensional, a salvo daqueles que só ganhavam porque
os outros – a maioria - se dividiam. É
preciso ter os olhos vendados para não descobrir o exercício de permanente
solicitude do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa (MRS), a fim de evitar que fique em cacos
o que tanto custou a erguer. Nisto se traduz a pacificação das lideranças
políticas rumo ao maior bem da população. De fora, só navegam os conspiradores
sem êxito que persistem em atirar pedras às vidraças para deitar abaixo todo o
prédio.
Nesta campanha de todos os dias sem
trégua, MRS derrubou os andaimes dos poderosos encapuzados num palácio, despiu
as escamas viscosas que afeavam uma presidência falsamente solene, humanizou a
relação entre governante e governados e, sem amarras que o prendessem,
soltou-se para o seu meio ecológico, o povo, sentou-se no chão com as pessoas
chãs, correu alegremente com as crianças traquinas, condoeu-se com os que
sofrem e choram, andou de bairro em bairro, de “Cais” em cais (hoje mesmo, dia do primeiro aniversário) para acolher os-sem-abrigo,
foi docente na universitas académica
e na universidade da vida, enfim, abraçou ilhas e continentes. E por muitas
beliscaduras que lhe queiram dar, ele aí vai, pássaro livre sabendo, como
António Aleixo, que “mais vale pardal na rua que rouxinol na prisão”. A rua é
também o habitat de um verdadeiro
presidente.
Podem catalogá-lo de excêntrico,
inconveniente e outras sombras estrábicas que só existem nos olhos de quem o
critica. Mas tudo isso cai por terra perante a leveza, a transparência, a
quase-ingenuidade, a tal ‘difícil facilidade’ de trato de MRS. Só ele poderá fazer
isto, acho que mais ninguém seria capaz de fazê-lo. Porque sai-lhe de dentro. É
o seu ADN, com que está educando politicamente o povo português. É preciso
ser-se verdadeiramente grande para saber estar com os pequenos! E nem por isso tem medo de confrontar-se com o adversário. Quando é preciso repor a
locomotiva nos carris, é capaz de fazê-lo, sem peias. Frontalmente. Já o demonstrou.
Reconheço que não era essa a minha previsão,
aquando da sua eleição, embora nunca me tenha saído da memória aquele seu gesto
imprevisível em Machico, na década de 90. Presidia eu ao município e, a um domingo,
estava eu em despacho particular no gabinete, quando de rompante entra o
Professor para dar-me um abraço. Eu não o conhecia, senão dos media. Fiquei positivamente assombrado. Por dois motivos: pertencia ele à direita ou
centro-direita e eu à extrema-esquerda. O
segundo: era o tempo em que o governante madeirense, da mesma área política,
enxovalha-me raivosamente (o advérbio peca por defeito) a mim e a Machico também, classificando-nos de 'terceiro mundo'. Ali
vislumbrei a coragem, a cordialidade e, sobretudo, a independência de homem sem
medo, face ao regime totalitário da ilha.
Que as minhas felicitações neste
dia-aniversário signifiquem continuidades promissoras no presente e no futuro
de Portugal!
09.Mar.17
Martins
Júnior
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