A
julgar pelas sentenças periféricas que correm de boca em boca, podemos decidir
que, hoje, o forte torna-se fraco. No dicionário da gíria, costuma dizer-se que só aos mais frágeis se dedica e institucionaliza o seu “Dia Mundial”. E assim
é que conhecemos o Dia da Mulher, o Dia da Mãe, o Dia da Criança, o Dia do Doente
de Alzheimer, do Diabético, dos Refugiado e outros afins, todos os que se
situam no acampamento das dependências primárias.
Para complemento assertivo, até espalhamos aos quatro ventos que não há o Dia
do Homem. Porque ele é o forte, o dominador, o herói. Mas chega o 19 de Março e
a excepção impõe-se: Hoje é o Dia do Pai, universalmente difundido, muito
embora em datas diferentes. Seja qual a sua origem – Elmesu da Babilónia há
4000 anos ou o Livro judaico do Ben-Sirá
ou ainda a efeméride litúrgica de São
José – o Dia do Pai, ínsito desde sempre no subconsciente humano, talvez
encontre a sua genética justificação no olhar atento de Sigmund Freud: “Não
conheço nenhuma necessidade tão importante durante a infância como a
necessidade de sentir-se protegido por um pai”.
Fica
então deslindado o equívoco. O Dia do Pai não o reduz a um estatuto de
dependência. Bem ao contrário, institucionaliza
e leva ao trono a figura tutelar do Progenitor.
De fraco passa a forte hasteio e necessário protector.
A
partir daqui, cresce e impera no homenageado deste dia o seu estatuto, recomeça
a sua saga, por vezes heróica, lado a lado com aquela que dentro de si própria
fez o milagre de transformar um espermatozóide num exemplar vivo, pleno, um
portador futuro do facho olímpico da história. É nesta trilogia iniciática –
pai, mãe, filho – que se projecta a arquitectura de todos os tempos e de todas as latitudes. Nisto consiste a complementaridade do binómio Homem/Mulher, no mesmo
pé de igualdade e na mesma força propulsora do amanhã, tornando-os
intrinsecamente co-responsáveis na instauração do reino maior do planeta. Li hoje
o pensamento que não deveria ser estranho a ninguém: “A co-responsabilidade entre pai e mãe é uma questão de igualdade de
género”. Eis a chave para abrir o tão agitado dilema entre machismo e
feminismo. Ademais, é à luz deste cenário que nos fere a sensibilidade – por mais empedernida que seja – de aceitarmos essa
híbrida solução, quando interesseiramente procurada, de reduzir um filho a um mero
embrulho registado num ‘correio de aluguer’.
Porque
hoje é dia de congratulação, esqueçamos por instantes os deficitários contra-testemunhos e ergamos bem alto a bandeira bicolor da
paternidade/maternidade originais. Permitam-me que inclua neste feixe
proclamatório, o pensamento que hoje conjuntamente pais e mães saborearam no convívio
solidário que realizámos em cerimónia comemorativa. Vem no texto bíblico de Jo.4,37: “Um é o que semeia, outro é o que ceifa e recolhe”. Os pais de
hoje recolhem o que os pais de ontem semearam, com suor, lágrimas e, quantas vezes, com sangue
das próprias veias!... Compete-lhes agora fazer a sementeira da saúde, das
ideias, das palavras para que amanhã os filhos possam ceifar e alimentar-se do trigo que os
pais de hoje lançaram à terra!...
Que
se prolonguem todo o ano os ecos da canção com que crianças e adultos abriram a manhã deste 19
de Março:
Viva viva o belo dia
Que nos traz tanta
alegria
Vinde todos e cantai
Porque hoje é o Dia do Pai
19.Mar.17
Martins Júnior
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