Porque
“hoje é sábado, amanhã domingo”, passo ao largo desta vaga em que baloiça a
Madeira, com programas estratégicos de governos, remodelações e autarquias,
novinhas em folha. Entro, pois, noutro
ritmo programático, o da análise global sócio-ideológica daquele que veio
reformular a condição humana. Teremos amanhã, nos textos bíblicos oficiais,
mais um momento alto dessa análise, Trata-se da famosa resposta de J:Cristo aos
“sábios do templo de Jerusalém e aos doutores” da lei judaica. Tão forte e tão
densa que se tornou viral, repetida, dobrada e desdobrada tantas vezes quantos
os gostos dos intérpretes.
Descontextualizada
do corpo factual que lhe deu forma, a resposta converteu-se em axioma
generalizado para distinguir os conteúdos funcionais, as especialidades
profissionais e, ainda, a dicotomia dos serviços oficiais: os que pertencem ao
mundo ou à polis e os que à religião
ou ao culto dizem respeito. E aqui não faltam exímios dissecadores da questão,
secessionistas escrupulosos, a puxar o monóculo e o bisturi para o corte que
lhes convém.
Entretanto,
prefiro “ler com olhos de ver” a
factualidade original dos acontecimentos. É tão linear, tão leve e límpida que
dispensa ‘ilustradas’ e complicadas interpretações. Insere-se numa outra luta,
a antítese entre o pensamento livre e transparente de J:Cristo e o emaranhado
de prescrições, engenharias estrábicas dos Sumos-Sacerdotes e Fariseus, ditadas
exclusivamente para encobrir e, se possível, contrariar a descoberta da Verdade
inteira.
Vejamos:
nos domingos anteriores, os textos evangélicos revelam a coragem do Mestre face
aos deturpadores do pensamento religioso, resguardados nas sombrias e largas
vestes oficiais da elite vigente. Não há paralelo na história que se assemelhe
ao fogoso combate do Mestre contra a classe hipócrita de Jerusalém: “Cegos, que
guiais outros cegos. Assassinos. Sepulcros que fedem a podridão” . E este
anátema, sem apelo nem agravo: “Os pecadores e as prostitutas entrarão no meu
reino, mas vós sereis postos fora. Porque eles arrependeram-se e vós não”!
Amanhã,
começa o contra-ataque. A gana revanchista da elite organiza-se em
conciliábulos secretos onde traça plano de acção. Tacticamente, com medo da
contestação popular. E sai o primeiro round:
testar a vertente político-fiscal do Nazareno.
Numa terra colonizada pelos romanos, os impostos eram pomo de discórdia e raiva
quotidiana entre o a população contra o colonizador. A armadilha é perfeita,
pidesca ao mais alto requinte: “Mestre, então, o que é que achas desta carga de
impostos contra nós? Parece-te justo explorar assim o nosso pobre povo para
enriquecer o exército dos Césares”?...
Espada
de dois gumes, encostada ao pescoço do Mestre. O “sim” e o “não” arrastariam a mesma condenação: uma, da parte
do Imperador; outra, da parte do povo. Não esperavam, porém, os “doutores
forenses” e os “papas-cardeais-bispos” de Jerusalém, a intuição repentista do
nosso Cristo. “Mostrai-me essa moeda com que pagais os impostos. De quem é essa
imagem cunhada na moeda”? – “De César” – “Então, se é dele, devolvei-lha”.
“Dai
a César o que é de César”. Eis a origem pragmática da expressão que tem sido
pretexto para as mais díspares e repuxadas interpretações. A armadilha que as
elites prepararam para “caçar” o Mestre foi essa, a mesma, com que ficaram enredados
e derrotados. Ainda assim, não desistiram. Como não resultou a estratégia
política, voltaram a reunir o sinédrio e congeminaram uma outra, mais capciosa
e fatal, a estratégia cultual-religiosa, uma questão intocável na mentalidade
de então. É o que leremos no domingo seguinte.
Passados
mais de dois mil anos, como é que não possível ainda entender a linearidade libertadora
e saudável de Quem veio abrir o caminho novo da plena realização da Vida?!
21.Out.17
Martins Júnior
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