Hoje,
vejo-me na pele de fugitivo. E corro, a sete léguas, para o mais alto dos
Pirinéus, de onde avisto esta ‘jangada’ breve chamada Portugal. Revejo nela o
mesmo pânico do famoso “Paris está a Arder”. Mas agora é o meu país.
O
fogo devorador de Pedrógão Grande pegou-se com Leiria, Lousã, Coimbra, Viseu,
Alastrou-se
pelas auto-estradas, chegou a Lisboa,
abalou São Bento, chamuscou Belém, incendiou a Assembleia da República, assou
na grelha Ministra e Ministério.
Bateu
à porta dos sindicatos e poucos escaparam. Ao cordão em brasa agarram-se os médicos, os enfermeiros, mais a
brigada dos polícias, guardas, professores, contínuos, os públicos funcionalismos. Agora é que
é! “Vamos ao bolo, que isto está quente e até dá jeito começar o fim-de-semana
mais cedo”… Das queimaduras não se livram os doentes nos hospitais e as
crianças nas escolas. O importante é largar Pedrogão da mão e mandar gás ao Orçamento.
A
paranóia incendiária até já chegou ao Porto, trepou as escadas da Relação e
pega gasolina à mulher. O juiz e a juíza casam-se de toga e atiram para a
fogueira, não uma, mas todas as mulheres da terra, filhas de Eva, condenadas
pelo Livro do velho Jeová. Mas vêm a
seguir os bispos e 'queimam' o Vétero-Testamento, a pedido da pecadora Madalena. Quem se
livra deste manicómio em chamas?!...
E
como o “mal quando vem toca a todos”, também lá andam vestidos do perigo “laranja”
os donos do laranjal, a atirar granadas de fogo do sul para o norte e do norte
para o sul, à espreita do perigo “vermelho”.
Ainda
sobram aqui e além mais umas mangueiras combustíveis entre o “coiceboll” e os
apitos já pretos de carvão, mais fora que dentro dos estádios. E ainda há quem por
aí se espante dos 30 graus que afogam o ar que todos respiramos… Para cúmulo, o sufoco faz aparição na casa do vizinho e estala também na Catalunha exaltada e exaltante.
E
agora, digam-me ou não se estou condenado a vestir a pele do fugitivo para
escapar ao contágio desta fúria pirómana?
Ou
sátira ou rábula ou parábola, entendam como quiserem o “COM ou SEM SENSO” de hoje. Mas, ao menos, permitam-me desabafar: com tanto inferno à
solta, as próprias chamas que porventura seriam necessárias anulam-se umas às
outras, tal a fumaça intempestiva e desabrida com que se apresentam ao país.
Quando
virá a chuva benfazeja para apagar
nervuras e neurónios?...
27.Out.17
Martins Júnior
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