Foi
hoje o fim do princípio. E, por mais estranho que pareça, foi o princípio do fim.
Hoje,
último dia da tomada de posse daquele
que foi o Dia de Ano Novo para os recém-eleitos do Poder Autárquico!
Terminou,
pois, aquele tempo de espera – e, mais que de espera, de trepidante expectativa
– que culminou na eleição de 1 de Outubro de 2017. Fechou-se o tempo do namoro
alcançado. Recorto o sabor desta metáfora, propositadamente, para sintetizar a maré-cheia de sonhos altruístas,
as juras viscerais de bem servir o ‘povo constituinte’ e doar-lhe aquela inteira
chama que só se entrega a quem se ama. Quero crer que a tinta
com que subscreveram o termo de posse tem a cor rubra do coração dos respectivos
signatários. Isso viu-se no “brilhozinho dos olhos”, no gesto ansioso, na elegante frescura, até,
da indumentária festiva. Quem já passou por cenas idênticas, adivinha a pulsação
dos eleitos que sentem nesta hora o mesmo deslumbramento de quem recebe as chaves
do novo apartamento e abre as cortinas
virgens das janelas ou desdobra os lençóis do enxoval bordado. Enfim, para os
eleitos, a Primavera veio no Outono
Mas
hoje é também – e mais impressivamente – o princípio do fim. Apraz-me repetir,
porque a sinto em toda a profundeza,. a
paráfrase inspirada em Sérgio Godinho – “Hoje é o primeiro dia do resto do teu
mandato”. Quatro longos anos ficam já na próxima estação, ao virar da esquina.
Cuidado! Aqueles que, insipientemente, hoje se vangloriam da vitória, não se
esqueçam que, daqui a quatro anos, vão
andar novamente de porta em porta, como
pedintes à procura da recompensa ou da esmola de um voto. Daí, a humildade –
não a subserviência! – daí, a transparência – não o suborno ou compadrio! – daí, a justeza e o sacrifício,
com gosto, de ser fiel ao 1º de Outubro de 2017.
Sem
chamar para aqui o “Velho do Restelo”, talvez seja útil aos empossados
interiorizar esta constatação: em nenhum outro plano existencial, como no da política autárquica, são tão
traiçoeiras as luas-de-mel!... Talvez porque ainda me pesa o topo de algumas vitórias, em tempos
duros contra a ditadura insular, incomoda-me e estremeço perante cenários tão
desequilibrados de quem, ainda antes de tomar posse, já pensa em abandonar o
lugar e atirar-se como um trapezista de
circo ao arame para o qual não foi chamado! Mais degradante,
porém, é oferecer-se como barriga-de-aluguer em plena via pública!...
Francamente, como simples observador, prefiro esconder o rosto e curtir
baixinho: Para isto, mais valera ter perdido…
Permitam-me
compartilhar o gosto com que acedi ao convite da Junta de Freguesia de Machico (recordando outros tempos) e sublinhar a
sobriedade do protocolo na cerimónia da
tomada de posse, a elevação de conceitos na administração autárquica, o bom
gosto decorativo, a participação cívica e, sobretudo, o respeito mútuo entre as
formações concorrentes ao acto eleitoral, registando a franca e saudável confraternização
entre todos os elementos, o que nos augura um mandato feliz e produtivo.
Em
jeito de mensagem, retenho a afirmação do empossado autarca-presidente: “Para
nós, ganhar não é apenas triunfar. Para nós, ganhar é cumprir”!
Sejam
quais os ventos, Boa Viagem e bom regresso ao nosso “Cais do Desembarcadouro”, o cais de Tristão
Vaz.
23.Out.17
Martins Júnior
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