quinta-feira, 25 de outubro de 2018

CORPO QUE ERA SÓ ALMA


Tragam-lhe apenas lençóis de linho branco
De mil dobras
Que deles fará o seu próprio caixão
Berço de menino embalado em trovas
Escritas por sua mão

Cordas da tumba não
Não as tragam que ele traz miríades de pautas
Entrançadas abraçadas
Ao corpo que era só alma

Também não chamem coveiros
Que ele não desce à terra
Bastam os que até ontem
Lhe ganharam a guerra
No lodaçal onde medram

Não há tão vasta planura
Para tanto fulgor tanta lonjura
E o infinito império
Daquela sua divina arte
Não há cemitério
Que o contenha e o guarde

                               *      
E quantos responsos
Ofícios salmodiais
Te doarem à partida
Serão apenas prelúdio e escolta
Aos acordes triunfais
Sonatas alelluias madrigais
Que soltaste à tua volta

Não esqueço
Quando nasceste
Victor Vencedor
Fechaste as antigas trevas
E anunciaste a manhã de um Abril Maior

Agora
Enquanto esperas por mim
Faz como outrora puxa a carteira de aula
E destes ossos versos sem ritmo certo
Põe-lhes carne e sangue timbrados sonoros
Sopra-lhes esse espírito criador
E faz deles um eterno fraterno Cântico de Amor

         23.Out.18
Martins Júnior
  

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