Todos
os anos pelo Outono – pontualmente entre 19 e 20 de Outubro - “o coração, sino da gente” repicava desde a
ilha até Lisboa, batia à porta de um velho amigo e juntava-me à festa: Parabéns, José Manuel, mais um ano!
Hoje, o coração bate de novo. E “porque
morrer é (apenas) deixar de ser visto”, volto ao amigo octogenário para ovacioná-lo
e dizer-lhe: Os anos já não contam para ti, mas todos os teus dias são nossos. Nossas
as tuas palavras, nossos os teus gestos, atitudes, riscos e decisões, nosso o
auto-retrato da coragem, da superação dos contrastes até à síntese global.
Coragem,
superação de contrastes, síntese existencial!
Desde os bancos da “Casa Verde”, José
Manuel foi o aluno brilhante, o colega horizontal no trato, o animador
desportivo e, no fim da jornada, o padre exemplar, o pedagogo espiritual, o
chefe de redação e director de jornal, o governante de Abril na Região
Autónoma, o alvo dos ditadores regionais. Saltou o muro e foi o sociólogo, o
mestre, o conferencista, o provedor criterioso e atento, o esposo e pai, construtor infatigável de um
mundo em marcha para a Vida!
Imagem viva do caleidoscópio
existencial, ele fez das suas oito décadas de vida uma doação plena, sem
intermitência. Sinto-me feliz por afirmar que toda a sua vida foi um sacerdócio,
naquilo que tal missão possui de mais nobre e libertador.
E
é esse, precisamente, o traço que recorto mais impressivo, nesta data: após a
sua opção pelo estatuto de esposo e pai, Paquete Oliveira não deixou de ser o Sacerdos de outros tempos, pela
transparência de ideais e pelo empenho em alcançá-los, não para prestígio
pessoal mas pelo imperativo de servir a grande causa comum da Humanidade. Numa
altura em que paira na ordem do dia, a nível da Igreja, a dicotomia sobre o
acesso do Sacerdos ao matrimónio,
proponho como protótipo e guia aquele que, em 20 de Outubro de 2018, ostenta no
firmamento da nossa história a luminosa constelação de oitenta e duas gloriosas
estrelas!
Como
quem “vê o invisível”, contemplo-as e inscrevo-as dentro de mim, enquanto bate
em ritmo novo o “coração, sino da gente”.
A
todos os seus - a minha mensagem!
19.Out.18
Martins Júnior
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