Fiquei
aguardando pelas projecções eleitorais após o fecho das urnas. Apesar da
tendência das sondagens mais recentes, devo dizer que algo semelhante a um
abalo global, mistura de terra-mare-moto, tomou conta de mim, ao receber via TV
a notícia que o mundo democrático mais temia: Bolsonaro está à beira de
resolver tudo à primeira volta! E o resultado é este: Brasil e Europa – todo o
mumdo - à beira de um ataque de nervos.
Hoje,
será parca a análise dos factos, na expectativa da contagem final dos votos de
147 milhões de brasileiros, Mas a mancha
negra já escorre sobre o mapa. Dou a palavra a Cecília Baeza, Professora de
Relações Internacionais na Universidade Pontifícia de São Paulo: “Muitos
milhões de cidadãos eleitores, afastados da política, desconhecem a adesão de
Bolsonato à ditadura militar, a apologia da pena de morte e a forma degradante
como trata as mulheres. Preferem ver nele o protótipo do bom cristão, não
corrupto, um político honesto e um homem forte”. Para tanto, o ditador da
extrema-direita tudo fez para apagar a imagem do caudillo populista, como descreve a mesma investigadora: “Ele soube
captar um conjunto de frustrações, inclusive, recuperar a religiosidade de certas
camadas populares, ao ponto de converter-se aos evangélicos, num contexto
onde a mistura entre o político e o
religioso é cada vez mais forte”. A tudo isto associa garantias securitárias entre
um povo inseguro.
No
entanto, deduzidas as estratégias manipuladoras de Bolsonaro, o maior ferrete que
dilacera o corpo e a mentalidade dos milhões de eleitores é o desencanto das
políticas do PT, agravado pela prisão de Lula, o escândalo do suborno dos
deputados, a operação “Lava Jato”, numa palavra, a corrupção de um regime que,
apesar de ter feito prosperar a economia, não conseguiu vencer a obsessão pelo
dinheiro sujo. Retomo aqui o título que escrevi recentemente: “Maldito petróleo
que encharca eleitos e eleitores” (27-09-18).
Em
1931, Jorge Amado, descrevia as campanhas eleitorais brasileiras, explicando à
filha Júlia as eufóricas, empolgantes intervenções dos fogosos oradores
políticos: “Sabes, filha, isto é o País do Carnaval”. Antes fosse… Mas o que
hoje se passa não é um corso carnavalesco na cidade maravilhosa ou na “Aparecida”
de um país abençoado por Deus. Trata-se de um sério aviso à navegação. E é,
sobretudo, um tremendo libelo acusatório contra quem governa apenas para as
plateias de circunstância. A história não perdoa. Paga-se tudo, mais cedo ou
mais tarde. E o mais dramático, criminoso mesmo, é isto: o pagante é todo um povo, Pagam os inocentes,
pelos criminosos.
Esperemos
os agoiros – bons ou maus – do dia de amanhã. Não deixa de ser sintomático este
paradoxo: Há um mês, 7 de Setembro, o Brasil festejava o libertador grito do
Ipiranga, a sua independência em 1822. Será que hoje, 7 de Outubro, terá o mesmo povo
lavrado o decreto da sua submissão ao jugo da ditadura?
07.Out.18
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário