domingo, 7 de outubro de 2018

NEM CARNAVAL, NEM CIDADE MARAVILHOSA, NEM PAÍS ABENÇOADO POR DEUS


                                    

Fiquei aguardando pelas projecções eleitorais após o fecho das urnas. Apesar da tendência das sondagens mais recentes, devo dizer que algo semelhante a um abalo global, mistura de terra-mare-moto, tomou conta de mim, ao receber via TV a notícia que o mundo democrático mais temia: Bolsonaro está à beira de resolver tudo à primeira volta! E o resultado é este: Brasil e Europa – todo o mumdo -  à beira de um ataque de nervos.
Hoje, será parca a análise dos factos, na expectativa da contagem final dos votos de 147 milhões de brasileiros,  Mas a mancha negra já escorre sobre o mapa. Dou a palavra a Cecília Baeza, Professora de Relações Internacionais na Universidade Pontifícia de São Paulo: “Muitos milhões de cidadãos eleitores, afastados da política, desconhecem a adesão de Bolsonato à ditadura militar, a apologia da pena de morte e a forma degradante como trata as mulheres. Preferem ver nele o protótipo do bom cristão, não corrupto, um político honesto e um homem forte”. Para tanto, o ditador da extrema-direita tudo fez para apagar a imagem do caudillo populista, como descreve a mesma investigadora: “Ele soube captar um conjunto de frustrações, inclusive, recuperar a religiosidade de certas camadas populares, ao ponto de converter-se aos evangélicos, num contexto onde  a mistura entre o político e o religioso é cada vez mais forte”. A tudo isto associa garantias securitárias entre um povo inseguro.
No entanto, deduzidas as estratégias manipuladoras de Bolsonaro, o maior ferrete que dilacera o corpo e a mentalidade dos milhões de eleitores é o desencanto das políticas do PT, agravado pela prisão de Lula, o escândalo do suborno dos deputados, a operação “Lava Jato”, numa palavra, a corrupção de um regime que, apesar de ter feito prosperar a economia, não conseguiu vencer a obsessão pelo dinheiro sujo. Retomo aqui o título que escrevi recentemente: “Maldito petróleo que encharca eleitos e eleitores” (27-09-18).
Em 1931, Jorge Amado, descrevia as campanhas eleitorais brasileiras, explicando à filha Júlia as eufóricas, empolgantes intervenções dos fogosos oradores políticos: “Sabes, filha, isto é o País do Carnaval”. Antes fosse… Mas o que hoje se passa não é um corso carnavalesco na cidade maravilhosa ou na “Aparecida” de um país abençoado por Deus. Trata-se de um sério aviso à navegação. E é, sobretudo, um tremendo libelo acusatório contra quem governa apenas para as plateias de circunstância. A história não perdoa. Paga-se tudo, mais cedo ou mais tarde. E o mais dramático, criminoso mesmo, é isto:  o pagante é todo um povo, Pagam os inocentes, pelos criminosos.
Esperemos os agoiros – bons ou maus – do dia de amanhã. Não deixa de ser sintomático este paradoxo: Há um mês, 7 de Setembro, o Brasil festejava o libertador grito do Ipiranga, a sua independência em 1822.  Será que hoje, 7 de Outubro, terá o mesmo povo lavrado o decreto da sua submissão ao jugo da ditadura?

07.Out.18
Martins Júnior         
       

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