Corro
atrás dos furacões para entender as vertigens dos humanos. Todos eles, os
furacões, são viajantes. Viajantes contagiantes. Não têm morada fixa. Pelo
contrário, carregam aos ombros toneladas de destruição e por onde passam deixam
rasto e não se satisfazem enquanto não abalam os alicerces do mundo.
Assim
também os regimes devoradores da liberdade – as ditaduras, os fascismos, venham
de onde vierem. Nascido no incestuoso parto italiano, o fascismo de Mussolini
depressa infiltrou-se no Portugal de Salazar, na Espanha de Franco até
estrebuchar-se no nacional-socialismo (execrável ironia) da Alemanha hitleriana
ou no estalinismo russo.
Como
cidadão do mundo, junto-me a todos aqueles que durante esta semana têm o
coração aos saltos, face ao suicídio anunciado da maior e mais poderosa
comunidade da América Latina – o Brasil. Analistas, historiadores, jornalistas,
comentadores, escritores, artistas de renome, todos unânimes e apavorados com a
vitória do fascismo arrasador. É certo que quem lá está e vive o dia-a-dia é
que pode pronunciar-se cabalmente. Entretanto, perante a narcótica, perturbadora
paisagem que se depara aos eleitores brasileiros e a todos nós, observadores,
suscitarei sinteticamente três tópicos
de reflexão.
Primeiro:
haverá alguma distinção entre os chamados assassinos maus e os assassinos bons?
Será possível colocar sequer essa hipótese?
Segundo:
que critérios tem um povo que desculpa e até branqueia os roubos e os crimes
dos ditadores, mas não perdoa um milímetro aos que lutaram por ele?
Terceiro:
como podem os auto-simulados pregoeiros do Evangelho compaginar a mensagem
salvífica de Cristo com os ódios programados, a instauração do racismo, a
expulsão do imigrante, a escravização do
pobre e a humilhação da mulher?
Em
resumo: repugna-me se tiver de dar razão ao piropo, tipo novela de mau gosto,
que lá ouvi em 1972: “O brasileiro está feliz se tiver palhota, bananeira,
cachorro e violão”…
Estou
longe. Estamos longe, é certo. Mas o histórico grito do Ipiranga do “7 de
Setembro” já não será de Liberdade, mas de ditadura. Quem sabe se aqueles que, domingo próximo, votarem
fascismo não serão vítimas irreversíveis do voto entregue na urna, transformando
as águas do rio libertador em manchas de sangue inocente espalhado pelas becos
e avenidas?! E o pior é que essas ondas de sofrimento e desespero não ficarão pelo Brasil. Virão desaguar
também à nossa costa. Mas aí, já será
tarde para mudar de caminho. Oxalá me engane. Oxalá nos enganemos todos os
que nesta semana alongamos os nossos olhos para as terras da Vera-Cruz!
23.Out.18
Martins Júnior
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