É
a marca dos grandes duelos, mais visível sobretudo no campo desportivo e na
arena política: Os vencedores são freneticamente ovacionados e os vencidos sempre
vilipendiados. Ainda que empacotada numa subtil embalagem de falsa diplomacia, a
humilhação do derrotado não esconde o gosto sádico do ganhador.
Abstraindo-me
das muitas e preocupantes questões suscitadas pelo resultado eleitoral de ontem
no Brasil, lanço apenas este repto aparentemente ingénuo: quem terá sido a entidade mais enxovalhada no
discurso do vencedor?... As respostas tão extensas e diversas quantas as
cabeças e os postos de observação. Hoje, cabe-me responder.
Quem
teve a paciência de ouvir um robot travestido
de Hitler esticado e mal esganiçado deve ter ficado enjoado de tanto ouvir do
cano de um fusil de caserna a palavra mais sagrada que a um humano é permitido
pronunciar: DEUS. Foi tremendo e nauseabundo presenciar ao vivo a profanação do
nome de Deus no meio dos três “bês” explosivos, mutuamente repelentes: bíblia, bala, boi, os três pilares da
vitória do quarto “b”: Bolsonaro.
Aliás,
toda aquela encenação caipira, tresandando ao mofo de sacristia – com uma
espécie de ventríloquo vomitando, de olhos pedrados, baforadas sem nexo,
pedaços de ‘navalhada, o Jesus, o milagre, a salvação’ – mais parecia uma
sessão de macumba espírita a céu aberto, diante de parolos mafiosos, enfim, um caldo de ´pocilga
para lavagem de cabeças ocas. ‘Deus práqui, Deus prácolá, Deus pracima, Deus
prabaixo’, terminando com o paranóico refrão de “Brasil acima de todos e (aqui
a garganta sobe) Deus acima de todos”. Triste espectáculo digno de uma novela
do homem das cavernas. E não houve ninguém que lhe gritasse o 2º mandamento do
Decálogo!
Compaginando
as anteriores “promessas” de um candidato, cujo programa inclui deportação ou cadeia, fusilamento, repressão, xenofobia,
violência, outras reminiscências não me ocorreram ontem senão as dos bárbaros
saqueando Roma, os Cruzados marchando sobre Jerusalém, os bispos facínoras da
Inquisição que matavam em nome de Deus e, de seguida, rezavam os ofícios em volta do inocente condenado
ardendo no meio da fogueira. Os jihadistas muçulmanos não fariam outro
discurso: matar em nome de Alá. O quarto “b”
reprime, explora, expulsa, prende, fusila e embrulha tudo numa embalagem
com o endereço de Deus!
Para
nós, portugueses, não é novo esse monumental embuste. Já tivemos um outro “b” de
Santa Comba Dão, que esmagou homens, mulheres, famílias inteiras durante 48
anos com a satânica bênção de uma Igreja que se satisfazia com a farisaica
trilogia: “Deus, Pátria, Família”.
Não é esta a maior inquietação para o Brasil,
para Portugal, para o Mundo. Sei que há questões mais incisivas e
perturbadoras. Mas entendo importante
denunciar, lá e cá, a peçonha assassina de quem se apresenta com uma cruz ao
peito e esconde atrás o revólver fatal.
Não
nos tomem por tolos. Não é culpado só o quarto “b”. Compete aos homens da
verdadeira Igreja de Cristo impedir a violação do 2º mandamento: “Não invocar o
Santo Nome de Deus em vão”!
29.Out.18
Martins Júnior
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