domingo, 21 de outubro de 2018

NO MAIS FINO PANO CAI A NÓDOA: AS CUNHAS, AS NOMEAÇÕES, PROMOÇÕES E AFINS


                                                        

        Em cada fim de semana, há sempre um caudal de luz que se projecta para a semana seguinte. Desta vez, conta-se em poucas palavras porque a realidade aí está todos os dias debaixo dos nossos olhos, colada ao nosso corpo – o corpo social de que fazemos parte.
         É sobretudo nesta época com antecipado faro eleitoral ou de sazonal dança de cadeiras que as máscaras caem da cara dos protagonistas de cena e seus répteis serventuários: as cunhas, as nomeações, os “lugarzinhos” de médio e alto topo são os episódios deste teatro quotidiano. Nos “passos perdidos” dos parlamentos, nos meandros governamentais, nas comissões decisórias, chegando mesmo aos “peões” de infantaria do xadrez societário, sem poupar – pasme-se – aquela instituição que, por imperativo fundamentante, deveria estar imune a esta sarna peçonhenta que mina determinadas promoções clericais, desde os ridículos canonicatos até aos eminentíssimos cardinalatos.
         A quem se incomodar com esta última observação convido a compulsar o legado que nos deixou Marcos na sua biografia acerca do Mestre da Galileia, (Mc. 10, 35-45). Os dois irmãos Tiago e João foram ter com Jesus (seus primos) e pediram-lhe, às escondidas, que lhes reservasse os dois primeiros lugares, quando fosse restaurado o reino de Israel. Em termos actuais, nada mais nada menos que o alto cargo de primeiro ministro e respectivo ministro adjunto. Os restantes apóstolos ficaram indignados com a atitude dos dois irmãos. E a estes, o Mestre respondeu: ‘Vocês nem sabem o que estão a dizer. Isso não me compete a mim decidir. E comigo, quem quiser ser o primeiro deverá ser o servo de todos. Porque mandar é servir’.
         O episódio e a respectiva resposta chegam para iluminar a semana inteira. A vida toda. A história toda. Servem para tocar a rebate a consciência dos decisores na distribuição criteriosa e justa dos pelouros. Sobretudo servem de antídoto ao vírus que ataca as entidades eclesiais quando vêem nos cargos mundanas promoções de vaidades anti-evangélicas e quando caem na tentação de promover, não os mais capazes, mas os calculistas parasitários quase sempre estrategicamente rastejantes ao poder.
         Só a vigilância interventiva dos constituintes – o Povo – poderá barrar a ascensão gratuita e mafiosa da mediocridade aos cargos de decisão. Desde há mais de vinte séculos nos advertia o Mestre da Galileia que “não sabia nada de finanças nem consta que tivesse biblioteca”, mas era o sábio conhecedor absoluto da condição humana.
          21.Out.18
         Martins Júnior
           

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