Em
cada fim de semana, há sempre um caudal de luz que se projecta para a semana
seguinte. Desta vez, conta-se em poucas palavras porque a realidade aí está
todos os dias debaixo dos nossos olhos, colada ao nosso corpo – o corpo social
de que fazemos parte.
É sobretudo nesta época com antecipado
faro eleitoral ou de sazonal dança de cadeiras que as máscaras caem da cara dos
protagonistas de cena e seus répteis serventuários: as cunhas, as nomeações, os
“lugarzinhos” de médio e alto topo são os episódios deste teatro quotidiano.
Nos “passos perdidos” dos parlamentos, nos meandros governamentais, nas
comissões decisórias, chegando mesmo aos “peões” de infantaria do xadrez societário,
sem poupar – pasme-se – aquela instituição que, por imperativo fundamentante,
deveria estar imune a esta sarna peçonhenta que mina determinadas promoções
clericais, desde os ridículos canonicatos até aos eminentíssimos cardinalatos.
A quem se incomodar com esta última
observação convido a compulsar o legado que nos deixou Marcos na sua biografia
acerca do Mestre da Galileia, (Mc. 10, 35-45). Os dois irmãos Tiago e João foram ter com Jesus (seus primos) e pediram-lhe, às escondidas, que lhes reservasse
os dois primeiros lugares, quando fosse restaurado o reino de Israel. Em termos
actuais, nada mais nada menos que o alto cargo de primeiro ministro e
respectivo ministro adjunto. Os restantes
apóstolos ficaram indignados com a atitude dos dois irmãos. E a estes, o Mestre
respondeu: ‘Vocês nem sabem o que estão a dizer. Isso não me compete a mim
decidir. E comigo, quem quiser ser o primeiro deverá ser o servo de todos.
Porque mandar é servir’.
O episódio e a respectiva resposta
chegam para iluminar a semana inteira. A vida toda. A história toda. Servem
para tocar a rebate a consciência dos decisores na distribuição criteriosa e
justa dos pelouros. Sobretudo servem de antídoto ao vírus que ataca as
entidades eclesiais quando vêem nos cargos mundanas promoções de vaidades
anti-evangélicas e quando caem na tentação de promover, não os mais capazes, mas
os calculistas parasitários quase sempre estrategicamente rastejantes ao poder.
Só a vigilância interventiva dos
constituintes – o Povo – poderá barrar a ascensão gratuita e mafiosa da
mediocridade aos cargos de decisão. Desde há mais de vinte séculos nos advertia
o Mestre da Galileia que “não sabia nada de finanças nem consta que tivesse
biblioteca”, mas era o sábio conhecedor absoluto da condição humana.
21.Out.18
Martins
Júnior
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