domingo, 23 de dezembro de 2018

A ÚLTIMA PÁGINA DE UM “DIÁRIO DE BORDO”


                                        


“O que eu andei p’ra aqui chegar”!
Assim cantou José Mário Branco. E assim cantamos nós também, ao fim de nove vigílias madrugadoras prenunciando o parto da maior alma que Deus deitou ao mundo: “O que nós andámos p’ra aqui chegar”! Foi uma viagem avassaladora, navegando na banda larga dos seiscentos anos, em busca do tempo perdido e de uma identidade diluída e, de nono, repetidamente recuperada, ao ritmo dos séculos vividos. Partindo da milenar tradição oriunda de Belém, atravessámos cabos e gerações, na ânsia de saber quais teriam sido os presépios de outrora. Não os presépios da praxe, mas  qual o  contributo  efectivo  na construção do projecto único que a Criança recém-nascida trazia consigo: o da humanização-divinização de toda a Criação, decididamente do Homem-em-situação. Desde o século XV, os nossos antepassados semearam fagulhas e “canções ao vento que passa”. Todos eles inscreveram o seu nome na folha  de serviços contínuos em prol dos séculos que lhes seguiram. Somos, pois, legítimos herdeiros do vasto espólio que nos deixaram.
Na última linha do “Diário de bordo”, ficou-nos esta palavra de ordem: “Hoje, sois vós  (leia-se, somos nós) os bandeirantes do futuro, os construtores do século que deixareis aos vindouros”. Somos, diria hoje o Papa Francisco, “os sentinelas da madrugada”. De todas as manhãs promissoras de um mundo melhor. No convés desta “Nau São Lourenço”, que começa na ponta que lhe deu o nome, a nascente, e termina no extremo leste da ilha, prosseguimos viagem, ora afrontando ventos e nortadas, ora ancorando na baía onde construímos o Presépio autêntico onde o Menino, o Libertador, tenha lugar.
Por todas as vezes que fomos parturientes de uma Ilha Melhor, estamos de parabéns. Por todas as outras, em que retardámos a marcha e provocámos rombos no processo evolutivo da nossa história comum, aí teremos a coragem de reconhecer os desvios e voltar a encontrar a estrela mareante que nos leve ao porto da nossa identidade, consubstanciada com o projecto redentor da Criança de Belém.
É por isto – pela almejada metamorfose pessoal e colectiva – que amanhã, véspera de Natal, teremos aqui, Ribeira Seca,  a Festa do Perdão!
Estamos juntos.

23.Dez.18
Martins Júnior   

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