“O
que eu andei p’ra aqui chegar”!
Assim
cantou José Mário Branco. E assim cantamos nós também, ao fim de nove vigílias
madrugadoras prenunciando o parto da maior alma que Deus deitou ao mundo: “O
que nós andámos p’ra aqui chegar”! Foi uma viagem avassaladora, navegando na
banda larga dos seiscentos anos, em busca do tempo perdido e de uma identidade diluída
e, de nono, repetidamente recuperada, ao ritmo dos séculos vividos. Partindo da
milenar tradição oriunda de Belém, atravessámos cabos e gerações, na ânsia de
saber quais teriam sido os presépios de outrora. Não os presépios da praxe, mas qual o contributo efectivo na construção do projecto único que a Criança
recém-nascida trazia consigo: o da humanização-divinização de toda a Criação,
decididamente do Homem-em-situação. Desde o século XV, os nossos antepassados
semearam fagulhas e “canções ao vento que passa”. Todos eles inscreveram o seu
nome na folha de serviços contínuos em
prol dos séculos que lhes seguiram. Somos, pois, legítimos herdeiros do vasto
espólio que nos deixaram.
Na
última linha do “Diário de bordo”, ficou-nos esta palavra de ordem: “Hoje, sois
vós (leia-se, somos nós) os bandeirantes
do futuro, os construtores do século que deixareis aos vindouros”. Somos, diria
hoje o Papa Francisco, “os sentinelas da madrugada”. De todas as manhãs
promissoras de um mundo melhor. No convés desta “Nau São Lourenço”, que começa
na ponta que lhe deu o nome, a nascente, e termina no extremo leste da ilha,
prosseguimos viagem, ora afrontando ventos e nortadas, ora ancorando na baía
onde construímos o Presépio autêntico onde o Menino, o Libertador, tenha lugar.
Por
todas as vezes que fomos parturientes de uma Ilha Melhor, estamos de parabéns.
Por todas as outras, em que retardámos a marcha e provocámos rombos no processo
evolutivo da nossa história comum, aí teremos a coragem de reconhecer os
desvios e voltar a encontrar a estrela mareante que nos leve ao porto da nossa
identidade, consubstanciada com o projecto redentor da Criança de Belém.
É
por isto – pela almejada metamorfose pessoal e colectiva – que amanhã, véspera
de Natal, teremos aqui, Ribeira Seca, a
Festa do Perdão!
Estamos
juntos.
23.Dez.18
Martins Júnior
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