Longa
é a viagem através dos 600 presépios e dos
600 natais vividos pelos madeirenses desde o Achamento da Ilha. Temo-lo feito
esse percurso entusiástico, nestes nove dias de campanha preparatória do 25 de
Dezembro/2018, descobrindo que gente como nós calcorreou os mesmos atalhos, as
mesmas colinas e os mesmos vales que hoje são nossos. Impossível resumi-los
cabalmente nesta folha volante dos dias ímpares. Apenas algumas nótulas
recolhidas da prelecção das 6 horas da manhã.
Passado
o sucesso patriótico dos séculos XV e XVI, ancoramos no cais sombrio do século XVII, marcado por quatro acontecimentos
incontornáveis: a dominação filipina em Portugal (fruto da imbecilidade de um
jovem monarca-anarca), a construção de fortalezas militares no Funchal, a
implantação do Colégio Jesuíta na capital madeirense e o reforço do “leonino
contrato” da colonia, em que o colono ou caseiro ficou reduzido à degradante
condição de servo da gleba.
É
nesta estação que a viagem nos bate mais forte e nos faz reflectir sobre o
maligno poder que o homem tem para alterar o livre curso da normalidade social
e da justeza legislativa. O “leonino contrato” da colonia mais não é que a
corruptela do regime das sesmarias, desde a vigência de D. Fernando, por força
do qual as terras eram entregues a quem as administrasse com eficácia produtiva.
De contrário, as mesmas terras voltariam ao controlo da Coroa. Entretanto os
beneficiários das concessões do rei foram-se abastardando mercê dos lucros
obtidos, abandonaram os campos e foram instalar-se em ricas vivendas da cidade.
As terras ficaram entregues aos servos da gleba com o ónus de entregar a dimidia ao senhorio. Cruel injustiça que perdurou até ao 25 de
Abril de 1974!
A
viagem hexa-centenária focaliza-se no cenário e no espírito de Belém e procura
encontrar a resposta a esta pergunta: Que terá dito essa Criança aos
exploradores senhorios e às suas vítimas indefesas?... Encontraremos nos textos
bíblicos os mais severos anátemas contra os agressores da terra e da sociedade,
sobretudo no profeta Amós e no Apóstolo Tiago, fazendo recair sobre aqueles as
mais duras condenações: “A geração dos ociosos será exterminada da face da
terra”!
São
os homens e as mulheres – nunca os deuses – os responsáveis pela implantação de
uma justiça igualitária que garante o equilíbrio das nações e a felicidade dos
povos. Da viagem ficou-nos o aviso premonitório da mensagem de Belém: Fazer
leis justas – uma só que seja – vale mais que ‘armar’ 600 presépios. Vale mais que celebrar ou
cantar 600 mil natais!
21.Dez.18
Martins Júnior
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