sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

O SÉCULO XVII NO PRESÉPIO MADEIRENSE – REFLEXÕES SOBRE NATAIS INTEMPORAIS


                                                    

Longa é a viagem através  dos 600 presépios e dos 600 natais vividos pelos madeirenses desde o Achamento da Ilha. Temo-lo feito esse percurso entusiástico, nestes nove dias de campanha preparatória do 25 de Dezembro/2018, descobrindo que gente como nós calcorreou os mesmos atalhos, as mesmas colinas e os mesmos vales que hoje são nossos. Impossível resumi-los cabalmente nesta folha volante dos dias ímpares. Apenas algumas nótulas recolhidas da prelecção das 6 horas da manhã.
Passado o sucesso patriótico dos séculos XV e XVI, ancoramos no cais sombrio do  século XVII, marcado por quatro acontecimentos incontornáveis: a dominação filipina em Portugal (fruto da imbecilidade de um jovem monarca-anarca), a construção de fortalezas militares no Funchal, a implantação do Colégio Jesuíta na capital madeirense e o reforço do “leonino contrato” da colonia, em que o colono ou caseiro ficou reduzido à degradante condição de servo da gleba.
É nesta estação que a viagem nos bate mais forte e nos faz reflectir sobre o maligno poder que o homem tem para alterar o livre curso da normalidade social e da justeza legislativa. O “leonino contrato” da colonia mais não é que a corruptela do regime das sesmarias, desde a vigência de D. Fernando, por força do qual as terras eram entregues a quem as administrasse com eficácia produtiva. De contrário, as mesmas terras voltariam ao controlo da Coroa. Entretanto os beneficiários das concessões do rei foram-se abastardando mercê dos lucros obtidos, abandonaram os campos e foram instalar-se em ricas vivendas da cidade. As terras ficaram entregues aos servos da gleba com o ónus de  entregar a dimidia ao senhorio. Cruel injustiça que perdurou até ao 25 de Abril de 1974!
A viagem hexa-centenária focaliza-se no cenário e no espírito de Belém e procura encontrar a resposta a esta pergunta: Que terá dito essa Criança aos exploradores senhorios e às suas vítimas indefesas?... Encontraremos nos textos bíblicos os mais severos anátemas contra os agressores da terra e da sociedade, sobretudo no profeta Amós e no Apóstolo Tiago, fazendo recair sobre aqueles as mais duras condenações: “A geração dos ociosos será exterminada da face da terra”!
São os homens e as mulheres – nunca os deuses – os responsáveis pela implantação de uma justiça igualitária que garante o equilíbrio das nações e a felicidade dos povos. Da viagem ficou-nos o aviso premonitório da mensagem de Belém: Fazer leis justas – uma só que seja – vale mais que ‘armar’  600 presépios. Vale mais que celebrar ou cantar 600 mil natais!

21.Dez.18
Martins Júnior                                                        

Sem comentários:

Enviar um comentário