No
frenesim do pré-Natal não há mãos a medir nem pausa para respirar. Parece que, nesta
azáfama desenfreada a caminho do presépio – seja qual o figurino, imaginário ou
inexistente – o único sinal de trânsito a observar é este: “Não parar”!
Também
estou nessa corrida. Estou - que digo eu?... Estamos! Aqui, neste modesto
recanto da ilha, mora uma comunidade que faz um percurso enorme de seis séculos,
na procura dos presépios de outrora, os que se implantaram ao longo dos 600
anos da historiografia madeirense. Já percorremos o século XV, a euforia do
Achamento da ilha e o estuário crescente da expansão marítima. Em cada
madrugada – seis horas da manhã – há um fio luminoso que precede a alvorada.
São os momentos de reflexão sobre um passado que é nosso e que constitui o
grande presépio dos 600 anos.
Estamos
a navegar hoje, não nas caravelas henriquinas, mas na chamada Nau de Pedro, o
Pescador, a instituição eclesiástica, que desde a primeira hora ancorou em
terras madeirenses e aqui assentou arraiais, como rampa de lançamento para todo
o planeta terráqueo. Era o tempo da promiscuidade sacro-profana, mas em
proporções tais que a Igreja ficava com o papel de “ancilla”, serva
incondicional do poder político. Da Sé do Funchal – instalada no “campo do
Duque” - abriram-se mitras e solidéus por todas as possessões portuguesas
dispersas nos oceanos. No Brasil, nas Áfricas, em longínquas paragens
asiáticas. Pode a diocese do Funchal, a primeira fora do território
continental, ufanar-se do pioneirismo indismentivel que alcançou no seio da Cristandade de então,
fruto da aura aventureira dos homens do Senhor Infante. Foi a ilha evangelizada
e foi ela embrião criador de novas dioceses espalhadas pelo mundo. Aliás, foi a tónica triunfalista das comemorações dos 500
anos da mitra do Funchal e a que deram o pomposo cognome de “Diocese Global”.
Nessa digressão, porém, ocultaram-se
nódoas comprometedoras e acontecimentos deprimentes para a dignidade do poder
religioso, entre os quais, o direito de
preferência da Coroa na nomeação dos
bispos e no provimento das dioceses. Sob a veste reluzente de arautos do
Evangelho, “Espalhar a Fé e o Império”, os nobres comandantes das campanhas de
então outro fito não tinham senão servir-se das pobres palhas de Belém para
montar o trono do seu poder imperial. Acresce, ainda, o silêncio da Igreja
perante o comércio de escravos que impunemente proliferou na ilha, aquando das
campanhas açucareiras na Madeira.
Impossível
recortar em poucas linhas as reflexões que acompanham esta comunidade, na descoberta
do verdadeiro Presépio de Belém, através dos seis séculos da nossa história
insular. Vamos prosseguir viagem, desde o alvor de cada manhã que nos levará ao
Grande Dia. Muitas surpresas, muitas incógnitas e, sobretudo, muita sede de
água límpida para a nossa sede de Verdade. “Quem quiser, venha connosco”!
19.Dez.18
Martins Júnior
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