Alvíssaras,
louvores e prebendas a quem nos abrisse a cancela para chegar ao primeiro
presépio que a Madeira conheceu no alvor da Descoberta!
Ninguém
poderá trazê-la, a “lapinha” de Belém, reproduzida nos anais do Achamento. Permitido
ser-nos-á, talvez, conjecturar que os frades franciscanos que acompanharam as caravelas
henriquinas teriam transladado para o chão da ilha os figurinos com que o seu
Fundador e Patrono, Francisco de Assis, na cidade italiana de Greccio (1223) ousou
representar, pela primeira vez no mundo, a ruralidade bucólica da Natividade.
Mas
à Ilha Verde – “Que do muito arvoredo assim se chama, Das que nós povoamos a
primeira” (Lusíadas,V) - chegaram os lampejos da estrela de Belém. E
é ao clarão dessa estrela que escrevo. Porque “fazer Natividade”, segundo a
Criança-Protagonista do Natal, é integrar o seu projecto, é ajuntar um tijolo,
uma pedra, um cimento na construção dessa epopeia sempre almejada, mas sempre
inacabada, qual seja, a ascensão da condição humana e a dignificação da
sociedade. Em qualquer tempo e em qualquer lugar. Todos quantos empenham o seu
talento e o seu esforço braçal nesta campanha está a actualizar o único e
verdadeiro Natal, o mais genuíno Presépio de Belém.
Aconteceu
em 1419 quando, a partir da Escola de Sagres, o Infante “Navegador” fez chegar
à ilha os seus marinheiros, capitaneados por Tristão Vaz Teixeira e João
Gonsalvez Zargo. Relegando para ulteriores considerações os “bene
ou male – fícios” do histórico empreendimento, importa realçar o contributo
que a nossa Ilha deu para a ciência náutica, para a desmitificaçãso dos pavores ancestrais,
para a descoberta da verdade planetária nas suas múltiplas vertentes. Foi a era
da luz contra a obscurantismo dos mitos medievais. Daqui, porto de ancoragem, o
Homem partiu à conquista do Universo. É dito e consabido que a epopeia dos
descobrimentos (com tudo o que de sombrio se lhe misturou) foi também um “grande
Passo para a Humanidade”, equiparável aos modernos heróis, os astronautas
conquistadores do espaço.
Em
apoio desta constatação, cito o eminente historiador Padre Eduardo Pereira, nas
ILHAS DE ZARGO: “O Infante D.
Henrique deu de facto uma nova civilização ao Mundo, porque não se limitou à
empresa aventurosa das suas naus. Ele não fez só marinheiros, barcos e
descobrimentos. Foi mais ampla e completa a acção da sua epopeia” (…)
É
este o nosso ponto de partida para a redescoberta do Natal, focalizada nos “600
Presépios Madeirenses”. Desvendar o mistério do Homem à conquista da Verdade,
pelos caminhos (quantas vezes, dolorosos) da Ciência – aí se descobre também o
luminoso rasto da necessária mensagem natalícia!
17.Dez.18
Martins Júnior
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