sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

VIVA O 8 de DEZEMBRO – DIA DO UNIVERSO-MULHER !!!


                                                           

À semelhança dos surfistas que navegam no tubo da onda e aí alcançam o corredor do pódio, assim nós, os caminheiros da vida, encontramos no oceano dos dias o vislumbre da luz ao fundo de um túnel. E amanhã é esse dia, amanhã é essa luz. Na sua monótona simbologia sacro-patriótica, o dia 8 de Dezembro vejo-o maior e mais glorioso. A distribuição de papéis pelas personagens envolventes na grande alegoria bíblica do Génesis desagua no palco da história humana e pode sintetizar-se neste breve enunciado: a miséria e a grandeza da Mulher.
Convenhamos que o título atribuído ao 8 de Dezembro é demasiado pobre, simplista, redutor: Dia feriado Nacional porque dedicado a Nossa Senhora da Conceição, Rainha de Portugal, desde D. João IV, o Restaurador.  E então, eis-nos perante o grande teatro do mundo (como diria o dramaturgo Calderon de la Barca) inebriados por um estranho pano de fundo, onde contracenam uma serpente enleada num troco de jardim (era o tempo em que os animais falavam), uma mulher e um homem esculturais na sua nudez original, namorando os três uma viçosa árvore prenhe de maçãs iguais ao doce brilho das manhãs. Era o paraíso terreal. Depois, a Eva  deixou-se enrolar na conversa da serpente, passou a mão macia pelo sensual fruto da macieira, comeu e, companheira solidária do seu homem, passou metade da maçã (ou talvez mais) ao esbelto e espadaúdo Adão. Depois, foi o ajuste de contas: o dono do pomar, escondido entre a ramagem, aparece furtivo, despe-os, a ele e a ela (ou então os dois descobriram que, afinal, estavam nus) e, sempre raivoso, o senhorio da horta condena a serpente e, com uma espada flamejante,  expulsa do paradisíaco jardim, o primeiro homem e a primeira mulher, modelados que foram  pelo próprio Supremo Escultor do Universo, mas agora caídos em desgraça.
A novela, concebida por Moisés para explicar as raízes do Bem e do Mal inatos nos indivíduos e nas sociedades, tem tudo de aliciante, comovente e mistificador para prender a atenção e a emoção do espectador. Mas não se fica por aqui. O senhorio do pomar amaldiçoa a Mulher, coloca-a numa espécie de arena, frente à pérfida cobra e obriga-as a uma luta sem tréguas. Há sangue, viperinas contorções durante toda a refrega, mas o calcanhar da Mulher acaba por esmagar a cabeça do réptil tentador.
Onde vejo eu a miséria e a grandeza do estatuto de Mulher?
Nas entrelinhas – retomando o código surfista, no tubo da onda – da própria narrativa bíblica. Descontando o naif e a ingenuidade da trama moisaica, aí mesmo se condensa a dupla condição feminina, ao longo de todas as pátrias e civilizações. De um lado, a Mulher-Ré no processo antropológico: a culpada, a desobediente, a instigadora, a traidora ao Criador, a embusteira (“culpada foi a serpente”, responde Eva ao juiz-senhorio), enfim a Mulher, causa primeira e única responsável pela desgraça da humanidade. Mas, do outro lado, a Mulher-Coragem, a resistente, a que não foge à luta, a que dá a cara e entrega-se sem limites até cantar vitória, uma vitória embebida em sangue e lágrimas, sim, mas vitória incontestada!
Na hermenêutica cristã e litúrgica, a Mulher primitiva, a pecaminosa, a autora do crime de lesa-humanidade está consignada à Eva do Génesis. A outra, a Mulher fiel ao seu mandato, a resistente e vitoriosa está personificada naquela jovem nazarena, Maria, a Mãe do Messias Libertador, a impoluta que, desde o primeiro instante da concepção, estava isenta de todo o defeito e, por isso, lhe foi dedicado o 8 de Dezembro, o da Conceição de Maria.
Quero, porém, navegar no mar alto, aproveitar a onda do dia,  estender o meu olhar por todo o imenso cenário da história humana e detectar no real quotidiano a dupla condição feminina: as mulheres que se deixaram naufragar sob os comandos machistas, as mulheres incendiárias capazes de derrubar tronos e subverter impérios, as Agripina, as desnaturadas Mary Cotton, Lalurie. Mas quero vê-las também entronizadas, sublimadas, as Mulheres nimbadas pela auréola do prestígio e pelo suave perfume da feminilidade, as combativas, as construtoras silenciosas da história, as mães doadoras da própria vida, as educadoras, elas, as verdadeiras e genesíacas matrizes do futuro! Ajoelho-me perante as Joana d’Arc, as Curie, as Madre Teresa, as Catarina Eufémia. E, por todas, diante daquela que me deu a vida que tenho e deu toda a sua vida pelos seus e pelos outros!
Sálvè o novo Dia da Mulher, no 8 de Dezembro de 2018 !!!

7.Dez.18
Martins Júnior   

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