sábado, 1 de dezembro de 2018

O POVO PRESENTE NO PRIMEIRO DIA DO NATAL


                                                

Sábado – este Sábado, 1 de Dezembro) – não é apenas a véspera de Domingo. É o primeiro dia de Natal. A Madeira enche-se de luz e navega no Atlântico como o salão de festas do “Titanic” em que toda a noite e todo o dia a música da orquestra é rainha e senhora.  Por vilas e cidades, teatros e templos, praças e ruelas, regurgitam de som e luz os corpos e as almas.
Na apoteose nascente dos natais, há um que marca o rumo certo da genuína cultura popular: o Festival de Bandolins da Madeira, focalizado este ano no Teatro Municipal do Funchal. Foi um acontecimento memorável. Direi mesmo que ali ergueu-se o alfa e o ómega da melhor expressão cultural, pois que o areópago da capital madeirense, O Teatro Municipal Baltazar Dias, deixou de ser alcatifa das chamadas ‘elites’. para tornar-se no autêntico Fórum a voz do Povo.
Foi belo, “belíssimo”, ver desfilar no palco da primeira Sala de Espectáculos da Madeira as tunas da Região, divergindo embora no local, no estilo, na história, mas todas entrelaçadas no mesmo objectivo: dar sentido à vida, nas veredas das nossas encostas e no alimento do nosso espírito. Camacha, Câmara de Lobos, Ribeira Brava,  Gaula, Machico, Funchal marcaram presença assinalável. Gente do Povo, viajantes, emigrantes, ali se acharam representados.
Inegável exaltar o preciosismo inimitável dos grupos convidados à festa. Mas de toda a fenomenal partitura, a nota marcante foi a presença dos filhos do Povo sobreelevando o teatro da capital. Não foi produto importado, foi a expressão telúrica madeirense transportada nos dedos de crianças, jovens e adultos, sublimada no timbre das cordas das “Tábuas que cantam e sentem” – os instrumentos musicais.
Se os frutos aparecem, alguém os semeou. E aqui, alargando a objectiva do olhar,  teço a maior homenagem a todos quantos nas suas “terrinhas”, por vezes escondidas nas montanhas alcantiladas, gente anónima que planta as raízes da cultura global naqueles que lá habitam. Se é verdade que as academias e universidades produzem talentos e sumidades – e nisso merecem a nossa mais reconhecida estima – não lhes desmerecem as vontades populares de base que silenciosamente e sem ambições publicitárias cultivam a massa original da nossa ilha, o basalto humano que a compõe. Sem esse esforço, que tem tanto de singelo como de gigantesco, a ilha não seria a mesma. O que se viu hoje no Teatro Municipal Baltazar Dias foi o arfar de um coração maior e mais saudável nesta Região.
Também fizemos parte, muito gostosamente, desta autêntica “gala popular”, com a “Tuna de Cãmara de Machico”, fundada e sediada na Ribeira Seca, no ano de 1983. Em nota de roda-pé, apresentámos – para surpresa de todos os espectadores – os dois instrumentos pertencentes à mais famosa tuna bandolinística da Madeira, o “Septeto Dr. Passos Freitas”. São eles: a Bândola e o Bandoloncelo, datados de 1915, portanto instrumentos centenares.
À excelente e prestimosa Organização do Festival de Bandolins da Madeira a nossa maior gratidão. Ao som da música e ao abrir das primeiras luzes, começou o Natal da Madeira.

01,Dez.18  
  Martins Júnior
   

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