segunda-feira, 25 de março de 2019

25 DE MARÇO – O DIA DAS MULHERES-PADRES!


                                                

Não é uma tese nem sombra dela o que me proponho apresentar. Aliás, é assunto que estava longe de abordar, porque para fazê-lo cabalmente teria de desenterrar arquétipos, mitos e concepções desde que o ser humano pôs pé neste planeta. Permitam-me ajuntar mais um outro empecilho, este colhido no piropo de um amigo meu que costuma dizer: “Há quatro coisas que eu não discuto com ninguém -  Futebol, Política, Religião e… Mulheres”.
E vejam a rifa que hoje me saiu: Religião e Mulheres. E porquê?... Pela estranha (ou pouco conhecida) efeméride que  neste dia, 25 de Março, dá pelo pomposo nome: “Dia de orar pela Ordenação de Mulheres na Igreja Católica”. Por outras palavras: orar, pedir para que as mulheres possam exercer as funções de padres, chamando-se, elas-mesmas, sacerdotes ou, mais propriamente, sacerdotisas.
Devo confessar abertamente que não acho uma tão contraditória, ridícula e falaciosa proposta como essa: orar, pedir para que a Mulher receba o sacramento da Ordem Sacerdotal.
Orar, pedir… a quem? E quem é que nos manda pedir?... Mais: quem é o correio ou estafeta do nosso pedido para que ele chegue ao seu destinatário?... Naturalmente ora-se, pede-se a Deus, Todo Poderoso  Quem nos aconselha a fazer o pedido será, também naturalmente, a religião, a Igreja. O correio ou o portador do pedido é, naturalissimamente, a mesma entidade, ou seja, a religião, neste caso, o trono-altar em que se senta o Vaticano.
Oh insensatos, originariamente dotados de senso, que somos nós! Fernando Pessoa equaciona a lógica poética quando diz: “Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce”!  Mas no caso vertente, perverte-se toda a  razão lógica, porque:  Deus quer, o Vaticano proíbe,  a Obra morre. Em vez do consenso, aborta tudo no contra-senso: a Igreja que aconselha a pedir e o Vaticano-caixa-de-correio gritam, em uníssono e a mil guelras, desde o fundo dos séculos: “Vade retro, Sátanas”! Desapareça o satanás que avance com tal requerimento! Nesta arena ou neste conflito de competências, o Vaticano manda mais do que Deus. Paradoxo insanável: Deus fica a perder, sempre. Então digam-me agora se não será o “25 de Março” a tal farsa – contraditória, falaciosa e. no todo, ridícula?
Eu disse que hoje não vinha elaborar tese. Entretanto, só duas ou três notas:
Como convencer a Igreja da bondade e da razoabilidade da proposta, quando desde as primeiras páginas do “Livro”, a Mulher foi sempre inferiorizada, diabolizada, culpada de tudo, até da maldição de toda a humanidade, só porque provou um naco da maçã proibida?!... No século quando uma jovem francesa de 19 anos liderou a luta pela defesa do seu povo contra o invasor estrangeiro, a sentença dos bispos reunidos foi “exemplar”: queimar publicamente na fogueira Joana d’Arc.  
No âmbito dogmático-sacramental, o carácter nuclear do Sacerdócio e o seu conteúdo funcional específico está no momento da “Trans-substanciação operada pela Consagração do Pão e do Vinho na Eucaristia”. E, com o direito que assiste a qualquer ser pensante, pergunto: a Trans-substanciação terá sexo?... Respondam-me os teólogos, os biblistas, os liturgistas. E não esqueçam os antropólogos, os hermeneutas e afins.
 O recurso à analogia histórica (mas não tão sólida como a fazem) de que Cristo só escolheu homens para seus apóstolos ou colaboradores mais próximos, esfarela-se com uma linear constatação: se nos dias que correm ainda subsiste o estigma de que “onde está a cabeça (o homem) os pés (as mulheres)  não mandam”, quanto mais há dois mil anos, numa sociedade visceralmente patriarcal e machista, como eram a idiossincrasia e a religião judaicas!... É preciso ser-se muito anacrónico e retardatário para não ver a realidade factual de cada civilização e respectiva evolução. Muito vantajosa será, neste item, uma releitura dos Evangelhos, dos Actos e das Cartas Apostólicas.
Retomando as considerações exaradas no escrito anterior (23.03.19) a solução não está no exclusivo acto de orar ou pedir, mas antes no agir. Valorizem-se, por si próprias, as mulheres. Promovam-se a pulso e com brio, sem esperar a “esmola” das quotas. Já agora, com que suspensão ou excomunhão seria punido quem propusesse ao Vaticano um regime de quotas para as mulheres, a nível de ordenações, paróquias ou dicastérios romanos?!
 Quase finalmente, atrevo-me a dizer que reduzir a altíssima dimensão da espiritualidade e o plano libertador de Cristo ao simples tracejado da condição sexual é, no mínimo, defraudador, senão mesmo sacrílego. Nesse código, em vez de teologia estudar-se-ia sexologia…
Agora, mesmo finalmente, ouso terminar, não com uma cereja em cima do bolo, mas com um pingo de vinagre corrosivo e, ao mesmo tempo, estruturalmente construtivo, que resumo nestes termos:  Para alistar-se num regimento religioso como aquele que por aí prolifera e vegeta, à base de devocionismos pietistas, procissões populistas e similares – não vale a pena, distintas senhoras, orar pela vossa ordenação. Mereceis muito mais! E a Religião também!

25.Mar.19
Martins Júnior

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