Porque
este encontro não pode configurar-se com um passeio matinal na promenade
marítima, nem como uma sessão proclamatória do que somos e temos, nem muito
menos com uma assembleia de esgrima político-partidária, o que hoje se requer é
uma análise objectiva e serena, como numa assembleia de família, em que todos
somos aqui ramos de um mesmo troco e seiva reprodutiva dos mesmos frutos no
presente e no futuro
Saúde, Dinheiro e Amor!
Toda
a vida assenta neste tripé que, à força de ser tão repetido, escape-se-nos o
seu simbolismo mãos profundo. E é a partir deste plano visual que tento captar
o brilho ou as sombras do nosso concelho, o claro-escuro de Machico implantado,
entre o azul do mar e o verde da montanha, com as suas cinco freguesias,
podendo definir-se o seu ADN nesta breve
(e longa!) expressão: Machico-Cinco Estrelas.
Na
Saúde situa-se todo o nosso processo
biológico, envolvendo a natalidade, a infância, a juventude, a idade adulta, a
velhice e, por fim, o adeus à vida. Numa visão holística cabem aqui todos os vectores
do bem-estar individual e social, os desportos, a psicologia, todas as
patologias físicas ou mentais, os apoios domiciliários, as creches e os lares,
os cuidadores informais. Acresce ainda – e com que imponência! – a saúde
ambiental, que a todos nos afecta no mar, na terra e no ar que respiramos.
Importa questionar: Como vai a Saúde no concelho de Machico?
Por muito que se faça, a nível público e
privado, o portal ou frontispício de qualquer hospital ou similar deveria
ostentar este cartaz identitário: A Saúde está doente, É o seu mote e é a sua
razão de ser. Machico não será excepção. A insuficiência de médicos de família
aumenta as listas para consultas de recurso. Por outro lado, se houvera maior
diversificação de valências, evitar-se-ia esse entranhado vício chamado
hospitalocentismo. Apesar de tudo, é vox
populi o bom desempenho nos cinco centros de saúde de Machico. O mesmo não
poderá dizer-se da Saúde Ambiental. Lamento constatar que não se cumpriu o
veredicto do eminente Arquitecto Siza Vieira (em 1993, na baixa de Machico, a
meu pedido, enquanto presidente) ; “Trate-me
com pinças esta zona ribeirinha”. Hoje é o que se vê… Para mágoa minha e
prejuizo nosso.
No
Dinheiro confrontamo-nos com a
economia do concelho. O resfriamento da construção civil, a agricultura de
subsistência, a instabilidade da indústria das pescas, tudo isto aliado ao desaceleramento
nas áreas da hotelaria e do turismo tem provocado notório deficit económico que
se reflecte no desemprego jovem. Neste item, há que esclarecer e denunciar dois
imperdoáveis atentados cometidos contra Machico: a diabolização deste concelho
pelas entidades regionais, durante 38 anos, vociferando contra nós as mais vis
maldições. “Machico-terceiro mundo”, Machico-quarto mundo”, “Para Machico nem
um tostão” e outros mimos de imbecilidade e raiva, só porque Machico marcou
democraticamente o seu direito à diferença. Não é fácil dobrar este Cabo das
Tormentas que ainda remexe com os destinos deste povo. Noutro âmbito, é preciso
fazer uma retrospectiva e concluir que Machico foi sacrificado em benefício da
Madeira toda. Refiro à ampliação do aeroporto que, sendo um equipamento maior
para a Região, acarretou a destruição do inigualável “Aldeamento Turístico da
Matur”, fonte de riqueza que se estancou, sem que Machico fosse alguma vez
ressarcido por essa perda.
No
Amor, abarcamos e abraçamos a
educação, o ensino, as escolas, as famílias. O abrandamento da natalidade, transversal
nos tempos que correm, obriga a uma requalificação do parque escolar, levando
os responsáveis a resvalar para a tentação do economicismo e, com ele, para a
massificação e concentracionismo. O quadro é deplorável e perturbador, por esse
mundo fora: alargam-se cemitérios e encurtam-se maternidades, abrem-se lares e
fecham-se escolas. A extinção de uma só escola nos meios rurais é o mesmo que
um machado que corta a floresta e, em seu lugar, implanta o fantasma subtil da
desertificação. À atenção de quem de direito!
A
título de sugestão, proporia uma abertura mais efectiva da escola à sociedade
envolvente, através de iniciativas concretas, convidativas ao livre e saudável
intercâmbio estre as famílias, os alunos e respectivos docentes e às diversas
associações porventura existentes na área, convergindo tudo para o sábio
horizonte já conhecido: “Para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira”.
Uma cidade toda!
Finalizando
esta brevíssima viagem analítica àquilo que os manuais técnicos chamam de welfare ou bem-estar social deste concelho,
cumpre deixar um impressivo registo de apreço e gratidão ao JM, na pessoa dos dois jornalistas e
moderadores Miguel Silva e Miguel Guarda, pela excelência deste encontro de
liberdade de expressão e enriquecimento democrático, pois foi dada a palavra
sem restrições a todos os intervenientes.
Julgo
que em nenhum outro concelho, como em Machico, terá sido tão oportuna e prestimosa esta
sessão, visto que ela assenta como luva nas comemorações dos “600 Anos”. Com
efeito, foi aqui que tudo começou. Por isso, deixo hoje o repto ao Senhor
Presidente da Comissão Organizadora, Dr. Guilherme Silva, aqui presente:
Machico, por direito histórico e por fidelidade às origens, deve ser o
epicentro das Comemorações! Os poderes autárquicos já deram um passo – um grande
passo! – para repor a verdade histórica, restituindo a Machico o registo certo
da sua idade, como Primeira Capitania da Madeira (8 de Maio de 1440) e
transferindo para essa data, 8 de Maio, o seu Dia do Concelho.
Machico
e as suas cinco freguesias, Machico-Cinco Estrelas!
01.Mar.19
Martins
Júnior
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