Elas
– e eles - por aí andam vagantes,
ansiosas por cair nos braços de quem as
tome. Elas – são as comemorações, as reincarnações sazonais. Eles são os
festejos, os programas, quanto mais campanudos melhor. O importante é o rufar
dos tambores esmaltado com o estridor das cornetas. E marchar, marchar!...
Neste
2019 é o que está a dar. Aqui é o aniversário do clube, acolá a década do
machete, mais adiante os dois lustros e meio da associação. E, ‘acima de tudo’,
os 600 anos. Parafraseando o badalado “Je suis Hebdo”, também na testa de cada
madeirense teimam em por lá o carimbo obrigatório: Queiras ou não queiras, tens
de ser “600”!
Excepcionalmente,
hoje sigo o método indutivo. Vou passar do particular para o universal. Foi
esclarecedor acompanhar, via ‘media’, o debate no parlamento regional sobre a
Cultura. E a Cultura ali não tinha outra cara senão a do “600”. Deixem-me
respirar para esquecer certos remoques sem ponta de chiste, como “Sr.
presidente, vou-lhe dizer uma coisa…” ou esta pasmaceira” ou ainda “lume nas
patas” (sic!) e outros que tais,
inclusive “O sr. deputado tropeçou no vinho e caiu dentro da levada”. Alta
cultura e não menos alta costura para vestir Sua Excelência “o 600”!
Passando
ao largo destes ridículos baixios, o único e necessário não será montar os
cavalos dos capitães donatários, nem erguer-lhes mais uma estátua morta, nem
muito menos esbaforir rajadas quixotescas para agitar moinhos de vento nas
barbas de Zargo ou Tristão. Como já ouvi, fora do parlamento, o importante é “fazer
algo que dure e perdure”. E o que melhor pode “durar e perdurar” são os valores
inerentes a cada século e a cada geração, o que implica conhecê-los, mesmo que
em contra-luz, e reinterpretá-los na era que nos foi dado ocupar. Seria útil e
meritório desdobrar as pregas da história, expô-las com toda a dignidade e
transparência, levá-las à visibilidade plena das suas consequências – o mundo
que “eles” nos legaram - e recomeçar a epopeia dos nossos ancestrais. Que se não
pare a marcha dos 600 anos, amarrando-lhe os pés à barra dos 500, como malogradamente
– e desonestamente - fizeram aos “500 anos da Diocese” em 2014, em que 100 anos
foram prática e estrategicamente obliterados. Que não fiquem outra vez na tumba
do esquecimento ou nas meias-águas da indefinição pessoas e factos que todos os
dias redescobriram a Ilha e a povoaram de ideais maiores “que permitia a força
humana”.
Descendo,
de novo, ao particular, seja-me permitido acentuar tanto quanto possível a
fidelidade histórica, situando o epicentro das comemorações em Machico,
Primeira Capitania, em Carta outorgada a 8 de Maio de 1440. Que a insularidade - a “Madeiridade”, essência do madeirense –
não nos impeça de abrir-nos à globalidade. Mas que, em permuta, a globalidade
não nos dissolva na amálgama do gregarismo e, muito menos, nos ampute do melhor
que ficou e ficará dos 600 anos: a nossa identidade.
13.Mar.19
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário