sexta-feira, 15 de março de 2019

“ABRIL” REGRESSA AO PALÁCIO DO POVO!


                                                          

As árvores não crescem por decreto. Nem o sol de todas as manhãs espera a aprovação do parlamento para cumprir a sua rota. Pintar de verde e luz todo o planeta é algo que parte das raízes do próprio ser. É a sua autenticidade e a razão do seu existir.
É assim que vejo os grandes movimentos da história, a génese de todas as metamorfoses que transfiguram pessoas, costumes, sociedades. Terá de haver liderança, é certo, alguém fará soar a trombeta conclamatória que mobilize a multidão. Mas nunca por nunca serão autênticas e eficazes se partirem exclusivamente do vértice da pirâmide social. Têm de emanar do subconsciente latente activo, preso à força telúrica da comunidade.
Porquê tanta premissa e para aonde a conclusão?
Vemo-nos rodeados, quase afogados, de um turbilhão de iniciativas vistosas, musculadas, clangorosas, num tropel de efemérides e comemorações de todo o jaez, tais como os badalados “600”. E, logo na vanguarda, surgem as entidades, os vértices, montadas nas ricas selas da manada. É o Povo, quase sempre, o grande ausente, quando deveria ser ele o grande protagonista e beneficiário do acontecimento. Por isso, elas – as magnificentes comemorações – esperneiam, passam por cima e depressa estrebucham no ar, como os fogos fátuos que as acompanham.
Ao contrário, quando tudo começa pela raiz, o tronco sobe, os ramos abrem-se e na  ponta frágil dos seus dedos  crescem flores e frutos.
É a esta luz que descubro e interpreto o propósito de erguer de novo os Cravos de Abril, numa feliz iniciativa de cidadãos madeirenses, esses que também fizeram aparecer Abril em Portugal e nesta Região, mercê do seu esforço libertador, numa época em que a factura lhes pesava duramente nos ombros e na vida. Louvo a oportuna inspiração do Padre José Luís Rodrigues em agregar muitos dos ‘combatentes ilhéus’ que antes e depois de 74 estiveram na  linha da frente, destacando-se essa pléiade de intelectuais, trabalhadores e até sacerdotes que subscreveram e enviaram, em 1969, a famosa “Carta ao Governador”. Eles estarão presentes amanhã, Sábado, pelas 16 horas, na sede do poder, o Palácio de São Lourenço, para dar testemunho vivo e palpitante da sua luta de há 50 anos.
   O local é emblemático. Na sede do domínio filipino, nas ameias do castelo onde reinou o poder colonial salazarista, enfim, na torre de menagem do “Palácio do Povo” , é imperioso içar a bandeira da Liberdade conquistada em 25 de Abril de 1974 e todos os dias hasteada na alma nativa madeirense,
Lá estarei!

15.Mar.19
Martins Júnior



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