As
árvores não crescem por decreto. Nem o sol de todas as manhãs espera a
aprovação do parlamento para cumprir a sua rota. Pintar de verde e luz todo o
planeta é algo que parte das raízes do próprio ser. É a sua autenticidade e a
razão do seu existir.
É
assim que vejo os grandes movimentos da história, a génese de todas as
metamorfoses que transfiguram pessoas, costumes, sociedades. Terá de haver
liderança, é certo, alguém fará soar a trombeta conclamatória que mobilize a
multidão. Mas nunca por nunca serão autênticas e eficazes se partirem
exclusivamente do vértice da pirâmide social. Têm de emanar do subconsciente
latente activo, preso à força telúrica da comunidade.
Porquê
tanta premissa e para aonde a conclusão?
Vemo-nos
rodeados, quase afogados, de um turbilhão de iniciativas vistosas, musculadas,
clangorosas, num tropel de efemérides e comemorações de todo o jaez, tais como
os badalados “600”. E, logo na vanguarda, surgem as entidades, os vértices, montadas
nas ricas selas da manada. É o Povo, quase sempre, o grande ausente, quando
deveria ser ele o grande protagonista e beneficiário do acontecimento. Por
isso, elas – as magnificentes comemorações – esperneiam, passam por cima e
depressa estrebucham no ar, como os fogos fátuos que as acompanham.
Ao
contrário, quando tudo começa pela raiz, o tronco sobe, os ramos abrem-se e na ponta frágil dos seus dedos crescem flores e frutos.
É
a esta luz que descubro e interpreto o propósito de erguer de novo os Cravos de
Abril, numa feliz iniciativa de cidadãos madeirenses, esses que também fizeram
aparecer Abril em Portugal e nesta Região, mercê do seu esforço libertador,
numa época em que a factura lhes pesava duramente nos ombros e na vida. Louvo a
oportuna inspiração do Padre José Luís Rodrigues em agregar muitos dos ‘combatentes
ilhéus’ que antes e depois de 74 estiveram na linha da frente, destacando-se essa pléiade de
intelectuais, trabalhadores e até sacerdotes que subscreveram e enviaram, em
1969, a famosa “Carta ao Governador”. Eles estarão presentes amanhã, Sábado,
pelas 16 horas, na sede do poder, o Palácio de São Lourenço, para dar
testemunho vivo e palpitante da sua luta de há 50 anos.
O local é emblemático. Na sede do domínio
filipino, nas ameias do castelo onde reinou o poder colonial salazarista, enfim, na torre de menagem do “Palácio
do Povo” , é imperioso içar a bandeira da Liberdade conquistada em 25 de Abril
de 1974 e todos os dias hasteada na alma nativa madeirense,
Lá
estarei!
15.Mar.19
Martins Júnior
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