sábado, 9 de março de 2019

ENTRE 7 E 9 DE MARÇO – UM CORPO E ALMA DE MULHER!


                                                             
 
            Podem chamar-lhe de persianas abertas para deixar passar a luz serena de um perfume de mulher. Podem também atribuir-lhe a graça de um poema sem rima nem métrica ou prosa ligeira nas margens da água corrente. Mas o que hoje quero deixar neste chão é a imagem de duas enormes  tochas acesas na ara branca onde se adora a deusa primeira – a essência feminina. No dia 7 recorri à mitologia pagã, erguendo ao alto a excelsa “Vénus”, tão diabolizada pelos avatares crapulosos sem vislumbre. Hoje, bato às portas milenares de Sião para exaltar as mulheres de Jerusalém, de pele morena e olhos doces, mas penetrantes como feixes  reluzentes, aquelas mulheres que se apaixonaram pelo Nazareno e nunca mais o deixaram, presas que estavam da sua palavra, do seu afecto e da sua acção.
             Com esta tocha acesa pretendo esconjurar os fantasmas que amarraram, durante séculos, milénios, a Mulher - explorada pelos semeadores das trevas, vilipendiada pelos guardas do Templo. Quanto daria eu, talvez a própria vida, para ver o Nazareno deambulando pelas ruas de Jerusalém, dirigindo-se às mulheres, suas vizinhas e companheiras de jornada, dialogando com elas, até com prostitutas, para depois discutir com os mafiosos doutores da Lei, os fariseus, acerca das mulheres,  apostrofando contra os puritanos hipócritas da Grande Sinagoga e escrevendo na areia dos caminhos os vícios pútridos daqueles que exigiam o apedrejamento da mulher acusada de adultério. O nosso Mestre não se acobardava nas malhas do silêncio, antes fazia garbo em provocar ostensivamente os imbecis moralistas da cidade. E voltava a acompanhar com elas, suas amigas e colaboradoras, a mais notória das quais Maria de Mágdala.
         Mas uma circunstância impressiva incitou-me a acender esta tocha para o Dia da Mulher, ontem rememorado. É que ontem, 8 de Março, primeira sexta-feira do tempo chamado Quaresma, foi também o primeiro dia comemorativo da tragédia que levou ao assassinato do Mestre, ou seja,  o percurso do Caminho da Cruz,  vulgarmente dito “Via-Sacra” – outro horrendo episódio tão manipulado pelos fabricantes de mitos depressivos.
         Foi aí, no trajecto das ruas da cidade até ao lugar do patíbulo, aí é que se viu a supremacia da Mulher – das mulheres, suas amigas e colaboradoras, que arrancaram do peito energias indomáveis para afrontar as iníquas sentenças do poder politico e religioso, quando saíram à rua e, por diversas formas, manifestaram o seu apoio à Vítima Inocente, acompanhando-a até ao fim. Primeiro a sua Mãe, Maria, que correu ao encontro do Filho, maltratado pelos “jagunços” a soldo dos poderosos. É a IV Estação. A seguir, na VI, é a vez daquela, depois chamada Verónica, uma rapariga que não suporta o rosto de Jesus, todo desfigurado por uma noite de tortura na cadeia e uma degradante  manhã de toda a espécie de agressões. Sem medo da guarda pretoriana, ela fura o cordão militar de segurança e vai até junto do  Mestre, desdobra uma toalha de linho e restitui-lhe o brilho original do rosto. É a VI Estação. Mais adiante, são muitas as esposas e mães que manifestam com o seu pranto a solidariedade ao seu Amigo e Defensor. É a VIII Estação.  Quando, enfim, suspenso no madeiro, quem lá está, como testemunhas, estátuas da dor, alanceadas mas vigilantes? As mulheres, acompanhadas do discípulo mais jovem, João. É a XII Estação. E na XIV e última,  ao descê-lo da cruz, quem o recebe nos braços, já cadáver? Uma mulher, sempre. A sua Mãe. Onde estariam os “fiéis” apóstolos?... Fugiram, transidos de medo. Fortes, firmes, inabaláveis – só as mulheres!
         E, nos termos da narrativa bíblica, quando o Mestre quis anunciar o  triunfo sobre a morte, não foi um anjo, não foi um dos Doze, não foi um emissário credenciado que escolheu para levar a mensagem. Quem, então?... Uma mulher, Maria de Mágdala. Sempre a Mulher, na vanguarda!
         O nosso Líder-Cristo há-de ficar no Grande Atlas das Civilizações como o protótipo, o primeiro e único  protagonista religioso que colocou a Mulher na vértice da História, co-Criadora do Mundo e Princípio Activo da transformação humana. Daí, o respeito e a defesa intemerata do estatuto da Mulher. Aprendam “agora, ó sábios da Escritura”! - diria Luís Vaz de Camões (CantoV, 22).
         Aqui fica o meu preito de homenagem, com “Vénus bela” e a Mulher de Jerusalém – todas as mulheres judias, todas as mulheres do Mundo. Entre 7 e 9 de Março, duas tochas eternamente acesas no altar da Essência de Mulher”!

09.Mar.19
Martins Júnior


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