terça-feira, 19 de março de 2019

REGISTO INTEMPORAL!


                                                    

Eremitérios há onde a Morte torna a Vida maior que ela. E é quando do silêncio da tumba emergem cânticos inauditos, à mistura com os crepes da saudade
Outros dedicar-lhe-ão místicos salmos, elogios fúnebres, inspiradas loas de merecida apoteose na hora da largada para o Grande Oceano.
Da minha parte, anónimo entre as gentes, vou levar-lhe o ramalhete rubro-lilás que trago atado ao peito desde aquela manhã de 8 de Fevereiro de 2006, em terras eborenses.
Ao colega de Seminário, ao Coadjutor da minha freguesia, Machico, depois meu Professor de Teologia Dogmática, ao  eminente Arcebispo, dedico e entrego o mesmo feixe de gratidão que nessa mesma data deixei sobre o féretro do seu - tão humano e generoso - predecessor, D. David de Sousa..
Jamais esquecerei o gesto nobre e corajoso quando me admitiu a concelebrar nas Exéquias Solenes de D. David de Sousa, o então centenário Bispo franciscano que na Sé do Funchal me ordenara Sacerdote em 16 de Agosto de 1962. Para quem se achava proscrito na própria ilha, o gesto do de D. Maurílio, selado com um abraço amigo, teve todo o sabor de quem vê abrir-se a porta de uma prisão ingrata. Por isso, a mancheia de flores que lhe trago tem o vermelho dos cravos e o humilde, oloroso perfume das violetas.
Travessa da Saudade, nº 6, foi o seu berço, em Santa Luzia do Funchal, desde há 86 anos. E sereno ficará connosco para sempre no horto de uma Saudade, precursora do Reino da Felicidade.

 19.Mar.19
Martins Júnior

1 comentário:

  1. Comungo plenamente desse poema entranhado nas mais profundas vísceras de uma alma que ama a quem ama e perdoa a quem não se digna amar. UM ABRAÇO AMIGO.

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