Se o Poder não está na
rua - na rua navega, como em mar revolto, o Contrapoder. Na hora que passa, o
planeta assemelha.se a essa rua - .circular, interminável - coalhada de multidões em alvoroço, bandeiras
tremulantes mas ameaçadoras, cartazes que gritam mais alto que as clássicas
palavras de ordem sem retorno, tais como “Escuta, o povo está em luta… Tá na
hora d’ires embora… A gente unida jamais será vencida” – todo um glossário de
guerra, traduzida em todos os reinos e línguas, desde o Ocidente ao Oriente,
exceptuando os regimes ditatoriais, onde abrir a boca significa beber o veneno
letal. Portugal, França, Reino Unido, Israel, Irão, Sudão, enfim, África
ingovernável, Ásia insegura, Américas imprevisíveis. É caso para desafiar: Dá a
volta ao mundo e diz-me onde não encontraste
a ‘Rua da Manif, a Praça da Revolta’.
Nem é preciso consultar o manual do
tumulto ou a sua génese. Parece tudo inato e plasmado nos neurónios
subterrâneos do mundo que os humanos pisam e nele se contagiam. É o que
descobrimos a olho nu no LIVRO, mais precisamente o ‘Éxodo’, capítulos XVI e
XVII. Conta-se num breve parágrafo, subdividido em quatro alíneas:
1
– O povo hebreu está preso no Egipto do faraó Ramsés II, ´seculos XIV-XIII aC.
São
40 anos de cativeiro escravo, do qual Moisés, o Grande Libertador, conseguiu
evadir gerações de conterrâneos seus, num confronto épico com o faraó. O povo
vibrou de júbilo ao iniciar a viagem de regresso à sua pátria e aclamou Moisés
como Supremo Herói.
2º
- Mas a travessia do deserto exigia tenacidade, sacrifício e persistência,
complemento incontornável da libertação gratuita. Sobrevieram constrangimentos,
carências, fome, sede e era preciso ‘pagar o tributo’ do regresso. Mas os
beneficiários da Liberdade não estavam dispostos a isso. E confrontaram Moisés
com uma agressividade cega, assassina (queriam apedrejá-lo), recorrendo a
argumentos desprovidos de toda a racionalidade, como os que se seguem:
3º
- “Trouxeste-nos aqui para morrermos de fome e de sede. Melhor ficássemos no
Egipto, onde tínhamos panelões de carne e pão com fartura” (16, 3). Estás a
matar-nos à sede, os nossos filhos e os rebanhos que trouxemos connosco. (17, 1
sgs.).
4º
- Moisés – o Grande Herói anti-faraó – tremeu perante o furor da multidão,
fugiu incontrolado perante as gritos ameaçadores, escondeu-se por entre as
dunas e clamou por socorro a Iaveh, que fez descer o maná, as codornizes e a
água que Moisés fez brotar de um rochedo próximo. Aí, a horda selvática voltou a entronizar Moisés como o Libertador
de Israel, o povo eleito de Iaveh.
Neste
fim-de-semana, 11 e 12 de Março, os crentes tiveram oportunidade de ler e ouvir
o protótipo de todas as manif’s, guerras
e revoluções, desde as mais justas às mais requintadas de prepotência
irracional, sejam elas de teor religioso, político, laboral, corporativo,
gregário. Nihil sub sole novi - nada de novo debaixo do sol, adverte o
brocardo latino.
À
luz da revolta no deserto de há mais de três mil nos, importa analisar a atmosfera
tumultuosa de todos os tempos, particularmente à dos dias que habitamos, desde
a Federação Russa e similares às justíssimas reivindicações de quantos
atravessam o calvário dos desertos que os homens fabricaram.
11-12.Mar.23
Martins
Júnior
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