domingo, 12 de março de 2023

A RUA ESTÁ NA MODA, MAS PRIMEIRO FOI O DESERTO

 

                                


         Se o Poder não está na rua - na rua navega, como em mar revolto, o Contrapoder. Na hora que passa, o planeta assemelha.se a essa rua - .circular, interminável -  coalhada de multidões em alvoroço, bandeiras tremulantes mas ameaçadoras, cartazes que gritam mais alto que as clássicas palavras de ordem sem retorno, tais como “Escuta, o povo está em luta… Tá na hora d’ires embora… A gente unida jamais será vencida” – todo um glossário de guerra, traduzida em todos os reinos e línguas, desde o Ocidente ao Oriente, exceptuando os regimes ditatoriais, onde abrir a boca significa beber o veneno letal. Portugal, França, Reino Unido, Israel, Irão, Sudão, enfim, África ingovernável, Ásia insegura, Américas imprevisíveis. É caso para desafiar: Dá a volta ao mundo e diz-me onde não encontraste  a ‘Rua da Manif, a Praça da Revolta’.

         Nem é preciso consultar o manual do tumulto ou a sua génese. Parece tudo inato e plasmado nos neurónios subterrâneos do mundo que os humanos pisam e nele se contagiam. É o que descobrimos a olho nu no LIVRO, mais precisamente o ‘Éxodo’, capítulos XVI e XVII. Conta-se num breve parágrafo, subdividido em quatro alíneas:

1 – O povo hebreu está preso no Egipto do faraó Ramsés II, ´seculos XIV-XIII aC.

São 40 anos de cativeiro escravo, do qual Moisés, o Grande Libertador, conseguiu evadir gerações de conterrâneos seus, num confronto épico com o faraó. O povo vibrou de júbilo ao iniciar a viagem de regresso à sua pátria e aclamou Moisés como Supremo Herói.

2º - Mas a travessia do deserto exigia tenacidade, sacrifício e persistência, complemento incontornável da libertação gratuita. Sobrevieram constrangimentos, carências, fome, sede e era preciso ‘pagar o tributo’ do regresso. Mas os beneficiários da Liberdade não estavam dispostos a isso. E confrontaram Moisés com uma agressividade cega, assassina (queriam apedrejá-lo), recorrendo a argumentos desprovidos de toda a racionalidade, como os que se seguem:

3º - “Trouxeste-nos aqui para morrermos de fome e de sede. Melhor ficássemos no Egipto, onde tínhamos panelões de carne e pão com fartura” (16, 3). Estás a matar-nos à sede, os nossos filhos e os rebanhos que trouxemos connosco. (17, 1 sgs.).

4º - Moisés – o Grande Herói anti-faraó – tremeu perante o furor da multidão, fugiu incontrolado perante as gritos ameaçadores, escondeu-se por entre as dunas e clamou por socorro a Iaveh, que fez descer o maná, as codornizes e a água que Moisés fez brotar de um rochedo próximo. Aí, a horda selvática  voltou a entronizar Moisés como o Libertador de Israel, o povo eleito de Iaveh.

 

Neste fim-de-semana, 11 e 12 de Março, os crentes tiveram oportunidade de ler e ouvir o protótipo de todas as manif’s, guerras  e revoluções, desde as mais justas às mais requintadas de prepotência irracional, sejam elas de teor religioso, político, laboral, corporativo, gregário. Nihil sub sole novi - nada de novo debaixo do sol, adverte o brocardo latino.

À luz da revolta no deserto de há mais de três mil nos, importa analisar a atmosfera tumultuosa de todos os tempos, particularmente à dos dias que habitamos, desde a Federação Russa e similares às justíssimas reivindicações de quantos atravessam o calvário dos desertos que os homens fabricaram.

 

11-12.Mar.23

Martins Júnior   

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