Ficamos aturdidos com os cenários de guerra de Mariupol e os massacres de Butcha, uma paisagem fatídica de escombros onde, há um ano, floresciam celeiros e cidades por toda a Ucrânia. Mas, talvez por isso, nos passe desapercebido o massacre do futuro de um país, que muitos configuram como um claro genocídio perpetrado pela Federação Russa quando enche comboios e autocarros de milhares de crianças forçadas a separar-se dos pais e encaixotadas em estabelecimentos russos, onde têm de esquecer a própria língua materna e a memória do seu país.
O
jornal Le Monde, na sua edição do último fim-de-semana, chama a atenção
de todo o mundo para este maquiavélico processo de russificação das futuras
gerações e consequente destruição de uma civilização autóctone.
Trata-se
de uma veemente petição ao Tribunal Penal Internacional, subscrita por seis
personalidades, entre as quais o escritor Jonathan Littell, em que são acusados
Vladimir Putin e a comissária para os “direitos das crianças”, Maria Lvova-Belova,
de organizar, já antes do 24 de Fevereiro/2022, a deportação em massa de menores
retidos em instituições do Donbass, dando lugar à “maior operação de expulsões
e adopções forçadas desde o fim da segunda guerra mundial”.
Denuncia a petição a “destruição psicológica” da identidade
d.
e um povo, até com recurso à alteração de
passaportes e à queima de livros. .Quanto
aos atentados criminosos – roubos, violações, câmaras de tortura, fossas funéreas,
cortes de água e alimentos, electricidade e comunicações – são comparados ao “genocídio
orquestrado por Stalin em 1932 e 1933, em que morreram quatro milhões de
ucranianos e a que se seguiram deportações massivas”. Sublinha o texto dirigido
ao TPI que estamos perante uma “política deliberada de destruição biológica e
psicológica, destinada a desumanizar as vítimas e espalhar o terror em toda a
população”.
O mandado de prisão a Putin e a Belova constitui a
expressão genuína e consistente de quase um milhão de europeus que subscreveram
tão justíssima pretensão, advertindo os restantes Estados a que façam da deportação de crianças a inultrapassável
“linha vermelha”, ao mesmo nível do respeito das fronteiras da Ucrânia.
Na reportagem de Le Monde, ganha força
global a palavra do Prémio Nobel da Paz, Aleksandra Matviichuk:
É nossa obrigação colocar os criminosos frente às suas
responsabilidades e levar à justiça todos estes crimes de guerra. Os direitos
humanos devem ser a base de todas as decisões políticas.
Mas o grande grito de alerta, a mais poderosa
palavra de ordem para a reconquista da Paz é a que foi reproduzida no Conselho
da Europa, em Reykjavik, e que ultrapassa os sinuosos tratados de cessar-fogo
ou os invertebrados, porque interesseiros, planos de paz de Pequim. É pelos alicerces do futuro que se vislumbra o mundo
novo. Pelas crianças. Inscrevam já na Praça Vermelha o aviso do citado Conselho
Europeu:
Jamais poderá desenhar-se qualquer perspectiva de
Paz enquanto não regressarem à sua pátria todas as crianças deportadas em
território russo.
A Criança – sempre a Criança – no centro da história
!!!
27.Mar,23
Martins Júnior
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