segunda-feira, 13 de março de 2023

O MAIS PODEROSO É O ELO MAIS FRACO – DEZ ANOS É POUCO TEMPO!

                                                                    


       Ele disse que foram buscá-lo ao fim do mundo. Mas a verdade é que ele veio de outro mundo. Se atendermos ao figurino pontifical dos detentores da Cátedra Sacro-Profana da Roma católica apostólica, descobriremos sem sombra de dúvida que o actual ocupante do trono pontifício destoa frontalmente do triunfalismo oficial dos seus 265 predecessores.

Ousarei mesmo afirmar que assim como foi necessário um espírito revolucionário para reverter todo um passado da Cúpula Romana (e esse espírito incarnou em Bergoglio) assim também será preciso muito furor dogmático e muita insolência para reintroduzir caducas velharias anti-cristãs. E se o fizer, a Barca de Pedro voltará a naufragar na mundanidade vaporosa do descrédito total.

Tal foi a Grande Viagem de uma década venturosa para a Igreja e para o século XXI! Em dez anos, Francisco Papa deu mil voltas ao mundo, não as viagens quilométricas, de país em país, mas as outras mais profundas, o descer aos subterrâneos da condição humana, o mergulhar nos antros cavernosas da guerra, do armamento, da pobreza, da exclusão e até da própria Igreja Católica, numa introspecção corajosa de arremeter sem tréguas contra escândalos transformados em fantasmas antes sonegados pela hierarquia. Quanto à extensão e profundidade da obra do “Papa Cristão”, remeto para os escritos do Prof. Padre Anselmo Borges e do nosso conterrâneo Padre José Luís Rodrigues.

Mas é ingente, desmedida, a tarefa de Francisco Papa. Bem poderá ele inscrever no seu programa reformador o desabafo que Goethe deixou no seu ‘Fausto’: Ars longa vita brevis! Ciência e Arte é o que se lhe pede e o que o sucesso lhe exige. Porque a super-estrutura eclesiástica criou muralhas de bronze, castelos, torres de menagem, exércitos travestidos de fardas invisíveis, arquétipos cultistas, enfim, uma sedimentação gradual, mas consistente, que dois milénios se encarregaram de desvirtuar a transparência original do seu Fundador. E agora, que fazer?!… Certamente terão ecoado no consciente mais profundo de Giorgio Bergoglio o mandato de Ihaveh dirigido a Isaías e Jeremias: “Desde o ventre da tua mãe, Eu chamei-te para arrancares e plantares, para destruíres e construíres”…

Ciência e Arte – e uma couraça de ferro para tão dura epopeia! Entre outras, a cruzada de arrancar e destruir a mais insidiosa falácia anti-evangélica: o Estado do Vaticano, com toda a rede de diplomatas sediados em toda a esfera política dos poderosos do mundo, como que rivalizando com eles um estatuto bastardo, que Jesus de Nazaré nunca lhes teria outorgado. Seria talvez a prova de fogo que o Bispo de Roma daria para todo o sempre. Mas não conseguirá. Dez anos é pouco tempo, talvez um século! E, sobretudo, porque a corte palaciana não lho permite: os purpurados cardinalícios, os vergonhosamente chamados ‘núncios apostólicos’, monsenhores, bispos e toda a cadeia de subalternos serventuários.

A propósito, todos ouvimos e vimos a representante do movimento “Somos Igreja”, Maria João Sande Lemos, dizer  que os “padres deveriam manifestar-se contra a inacção dos bispos” no conhecido caso do abuso de menores por clérigos em Portugal. Nas entrelinhas, quereria ela dizer: o povo católico deveria fazer o mesmo aos padres.

E quem não pressente no semblante, sobretudo, no olhar meigo e ansioso do Papa aquele irreprimível pedido de acção “Ajudem-me neste trabalho”, traduzido diante da multidão apinhada na Praça de São Pedro, desde o primeiro dia do seu pontificado, há dez anos: “Rezem por mim”!

A renovação – chamem-lhe revolução, metamorfose, subversão ou reconquista – nunca advirá do vértice da pirâmide, mas da base dela, só das bases da sociedade, estejam onde estiverem. Sem o povo não há solução duradoura. É de nós, cidadãos comuns, crentes e não crentes, do nosso esforço de mentalização positiva e aberta, que depende o sucesso das lideranças. A de Francisco Papa, a da Igreja, a do nosso Planeta.

É a maior homenagem que podemos prestar a este visionário, Profeta do século XXI. E é aquela que mais deseja. Porque, sendo ele o mais poderoso, não deixa de ser o elo mais fraco.

 

13.Mar.23

Martins Júnior      

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