quinta-feira, 9 de março de 2023

OS CRAVOS DE ABRIL NA UNIVERSIDADE PELA MÃO DE UMA JOVEM MULHER

                                                                           


        Alvíssaras mil pelo auspiciosa entrada do ”25 de Abril” nas cátedras  universitárias. Outras tantas por vermos redivivo meio século de um monumento que fez renascer Portugal. E. mais puro e saudável, é olharmos uma jovem Mulher (precisamente na atmosfera do Dia da Mulher) empunhar o Cravo Vermelho nos umbrais da nossa Universidade, tal qual a inesquecível Celeste Caeiro a colocar o flor da Liberdade no cano da espingarda do soldado naquela manhã libertadora de Abril/74.

            É a segunda vez que, no início de 2023, duas teses simultâneas privilegiaram, em fundo inspirador, a gloriosa data da Democracia: uma, a de Bernardo Martins (tese de Doutoramento) a que já me referi, a outra de Elda Jéssica Freitas Olim (tese de Mestrado) intitulada “O PAPEL DA MULHER NO 25 DE ABRIL NA ILHA DA MADEIRA”. Para o autor deste blog, um gosto suplementar adiciona-se a esta dupla produção histórico-literária:  Doutor e Mestra são oriundos de Machico ”Terra de Abril”, com isto significando que a inspiração das duas teses reflecte a sensibilidade e a idiossincrasia de um povo.

            O estudo de Jéssica Olim merece uma atenção redobrada pela profundidade da investigação, pela imparcialidade de análise, a que se junta o direito ao contraditório exercido pelos interlocutores constantes do texto. Trata-se de  uma esclarecedora “banda larga” da evolução do estatuto da Mulher, desde A Idade Média, o Renascimento, passando pelo galarim de Mulheres escritores, médicas, vanguardistas pelos Direitos da Mulher, o Código de 1886, a transição do regime em 1910 e como que cristalizando na CRP de 1933 até chegar à almejada manhã de Abril/74, com a nova CRP de 1976. Os desenvolvimentos pós-revolucionários estão criteriosamente descritos, associados e/ou confrontados com o papel da Mulher na sociedade. A situação económica, os tabus atávicos, a Igreja, o associativismo crescente, os partidos políticos, enfim, o cenário holístico daquela época está meticulosamente mapeado na tese de Jéssica Olim. Quem acompanhar a sua monografia – e merece uma ampla divulgação – terá uma visão global da Região Autónoma da Madeira no pós-25 de Abril.

            Relevante e demonstrativo  da consciência crítica da autora é a diversidade das Mulheres entrevistadas, desde professoras, bordadeiras, sindicalistas, autarcas, funcionárias públicas, emigrantes, com predominância para as domésticas rurais, as que mais sofreram com o regime pré-esclavagista da colonia, o qual constituiu o grande estímulo da ‘insurreição’ dos camponeses e da forte participação feminina, pioneira nas lutas que então mudaram o panorama político-social insular.

            No rescaldo do DIA Mundial da Mulher, a obra da Mestra Jéssica Olim assume-se como um dos mais preciosos contributos para a historiografia e para a dignificação da Mulher Madeirense. Alvíssaras renovadas!

 

            09.Mar.23

            Martins Júnior   

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