Tremendo e exaltante o enigma profético que nos traz
o LIVRO para este fim-de-semana!... Exerce-o o coveiro com a fria indiferença
de quem soma uma unidade mais na contabilidade efémera dos dias. Dirige-o e
supervisiona-o o médico legista nas labirínticas catacumbas das mortes
problemáticas. Porventura, ainda, virão os familiares profanar os sete palmos
de terra do ‘campo santo’ na macabra sofreguidão de achar hipotéticos pecúlios
no bolso do defunto. Tremendo ofício o de abrir sepulturas!
Exaltante, porém, a mão gloriosa e benfazeja
que traz no sigilo dos dedos a chave mágica de abrir os túmulos e deles fazer
sair pujantes, redivivas, as ossadas jacentes nos subterrâneos irremovíveis do
não-ser! Excelsa metamorfose de transformar a morte em esplendorosa manhã da Vida!
Manhã de Páscoa!
É este
o clarim tumultuante e belo que, da longínqua vetustez da história, nos
sobressalta o grito de Ezequiel Profeta em nome de Ihaveh:
Abrirei
os vossos túmulos. Far-vos-ei sair das sepulturas para regressardes felizes à
Terra Prometida, `a vossa terra natal !!! (Ezeq. 17, 13-14).
Séculos
depois, será o próprio Nazareno a focalizar num só homem o grito extensivo a
todos os mortais e a todas as eras dos tempos vindouros:
Lázaro,
sai desse túmulo para fora (Jo.11,
1-41).
Rodaram
séculos e milénios, mas nem Ihaveh, nem Ezequiel, nem o proletário Taumaturgo
de Nazaré voltaram (nem voltarão) a encher a amplidão do mundo com a trombeta invencível
do mandato de outrora: “Sai daí para fora”! No entanto, outra sina não têm o
planeta e os seus habitantes senão a mesma que de longe vem: Cair e Reerguer-se,
Entardecer e Reamanhecer, Sepultar-se e Reviver, Morrer e ressuscitar! Porque
Ihaveh, Ezequiel e Jesus já não vêm, mas entregaram aos humanos o empoderamento
de abrirem as suas próprias sepulturas e delas saírem viçosos, prenhes da força
genesíaca do primeiro exemplar saído das mãos do Supremo Arquitecto do
Universo.
É por
isso que às civilizações que morrem, outras se levantam. Por isso é também que aos
antros do esclavagismo se erguem os braços inquebráveis dos libertadores que a
história regista e arrastam consigo as primícias de um mundo novo!
Acordem
os estados e as nações e abram as valas comuns de todas as Ucrânias que há no
mundo e, no corpo e na alma dos filhos, façam
voltar à Vida os milhares, milhões de vítimas inocentes.
Redobrem
da força anímica que lhes vem do coração as mulheres afegãs, iranianas, de todo
o mundo, da mesma fibra de Joana d?Arc e Malala, e saiam à rua vitoriosas em
nome e gratidão para com todas as mulheres barbaramente amortalhadas.
Juntem-se-se os humilhados e ofendidos
do mundo inteiro até derrubar os tridentes do poder, do capital e da corrupção,
arregimentados nos offshores dos impérios-sombra que nos esmagam.
Se,
como parasitas dos charcos, se multiplicam os coveiros da justiça e da alegria,
cerremos fileiras, ergamos fronteiras para não deixá-los passar. Ainda que nos custe um vaso
capilar, um pé, uma mão, até um sopro de vida. Quem ressuscitou Lázaro
deixou-nos o pré-aviso personificado em si mesmo: Se o grão de trigo caído
na terra não se sepultar, ficará ele sozinho sem nunca dar fruto algum… jamais ressuscitará. (Jo.12,24 ). Paradoxal,
tremendo, mas exaltante!
Quem
sabe se, perto de nós, pisamos chão anónimo onde gemem vozes lancinantes numa
angústia abafada sob os ossos passos indiferentes: “Levanta-me daqui, dá-me a
tua mão”?!... Algum Lázaro talvez espere pela operacionalidade factual da
nossa voz: “Sai daí para fora”…
E quem
sabe se o mais profundo de ti, de mim mesmo, não estará a gritar para o frágil aparência
do que somos aquele silêncio insistente,
perturbador: “Sai daí, desse fosso, dessa depressão, desse egoísmo, dessa letal
indiferença. Regressar à vida está na tua mão”!
Se um
só lázaro, passante mortal, ressuscita, é todo o mundo que com ele volta à Vida!
25.Mar.23
Martins
Júnior
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