quinta-feira, 23 de março de 2023

QUANDO DIPLOMACIA É SIMULACRO DE HIPOCRISIA – UM ANTI-“PLANO DE PAZ”

                                                                                


Vem de longe a arte da prestidigitação, quer no teatro do palco, quer no anfiteatro da vida. No primeiro, o gesto farto, espectacular de uma das mãos esconde a falácia da outra, onde se aljava o truque, o tiro, a queda. No segundo, a mão dá lugar à palavra, ao sorriso mefistofélico e aos tratados oficiais. E tudo serve – puxemos atrás até encontrar o ardiloso “Cavalo de Tróia” – para iludir o interlocutor, seja o indivíduo, o clã e a classe, a tribo ou a nação.

         Supérfluo assinalar que é na política que a velha arte nunca envelhece. Quando não se estampa no rosto, lobriga-se-a no olhar e quando o discurso engana, os factos

denunciam, por acção ou omissão.

         Sem mais prolegómenos, quero trazer aqui a ‘arte fina’ do dragão chinês na visita à vizinha raposa russa, aquele enigmático e astuto – e, por isso, vencedor – esta primária e pós-czarina – perdida a aristocracia dos czares e ressabiada do ultrapassado império soviético. Do encontro, o que menos se sabe é aquilo, o mais importante, que se passou nos dourados, sumptuosos salões do Kremlin ente Putin e Xi Jimping. Do que transpira para o exterior – trocas comerciais, transportes, acordos vários – retomo o propagandeado “Plano de Paz” entre Rússia e Ucrânia, a expressão refinada da hipocrisia embalsamada na mais exímia diplomacia, como se demonstra pelo simples exercício silogístico:

         Nas premissas, proclama Xi  o princípio sagrado da “soberania do território”. Na conclusão do silogismo, o que resultou? O silêncio absoluto, nem foi tratado nos três dias do grande simpósio inter-imperial. Porquê? Porque a China tem no seu seio uma Ucrânia escondida: Taiwan! A ponto de já correr na gíria e na análise geopolítica internacional a exacta definição: “Taiwan é a Ucrânia chinesa”. A máscara de Xi – imperturbável como uma múmia e fulminante como a de um tigre – caíu por terra. Ao defender, supostamente, a soberania da Ucrânia, estará implicitamente a outorgar o estatuto independentista requisitado por Taiwan e que conta com a apoio expresso dos EUA, caso a China intervenha militarmente.

         Não é com gosto que abordo esta temática. Muito pelo contrário, cansa-me e revolta-me este mundo concêntrico em que nós, cidadãos comuns, ficamos reféns dos magnatas do capital, do armamento, da mais repugnante hipocrisia, em que quem nos aperta a mão prepara-se para afogar-nos o pescoço.

Xi Jimping’s e Putin’s andam por aí, talvez à nossa beira. Livrar-nos deles é a palavra de ordem!

 

         23.Mar.23

         Martins Júnior

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