É preciso respirar o ar
puro de uma nova manhã. É preciso sair à rua, nãos apenas de punhos fechados,
mas de braços abertos – tão abertos e tão extensos que cubram os escombros das
neuroses da mãe-natura e as ossadas em que o selvagem homem pré-histórico quer
transformar o que resta do planeta azul.
E
a manhã clara viaja até nós na epiderme negra de um novo “duo” – Auriol Dongmo
e Pedro Pichardo – vitoriosos nas pistas turcas da lendária Istambul.
No coração do Ouro ao
peito dos medalhados brilha prioritariamente o seu esforço pessoal, a resiliência
de ânimo e o investimento orgânico, a que se junta a vontade indómita de vencer
barreiras, não tanto as da pista, mas as côr da pele e do estigma migratório. E
para Portugal não menos avultam os melhores louros do sucesso por ter dado ao
mundo uma inequívoca prova de
multiculturidade étnica e amplo sentido
de acolhimento, cujo saldo final fica bem patente e supervalorizado em eventos
internacionais de alto nível. Está suficientemente demonstrado que o imigrante
– somos país e regiões marcadas pela
emigração – em vez de pesar como encargo público, evidencia-se de forma notória
como factor de crescimento e prestígio civilizacional.
Aos que teimam em
reacender na forja do racismo o ferrete da exclusão cega e hostil, o ouro da
dupla Auriol-Pichardo proclama urbi et orbi a candente mensagem de
António Gedeão no poema A Lágrima de
Preta, cientificamente analisada em laboratório, concluindo com um misto de
eloquência e cáustica ironia:
Nem
sombra de negro
Nem
vestígios de ódio
Água
(quase tudo)
E
cloreto de sódio
“Duo
Ouro Negro” - cognominei a dupla vencedora que, mais uma vez, catapultou Portugal no mundo desportivo e
multiétnico. Fi-lo e não lhe resisti, porque as ondas hertzianas que me
circulam no cérebro e no coração trouxeram-me os tonalidades cativantes e
mobilizadores do Raul Indipwo e do Milo MacMahon, o famoso DUO OURO NEGRO, nascido
em Angola, que enfeitiçou o universo musical português e não só durante três
décadas do século passado. Recordo a sua presença entre nós em 1982 e aquela
canção emblemática em pleno centro da então Vila de Machico: Os homens
fizeram Um acordo final, Acabar com a fome, Acabar com a guerra, Viver em amor.
Os
acordes deste Acordo Final ainda ecoam, por certo, no subconsciente
sonoro daqueles que ouviram o famoso Duo e, por isso, quis juntá-los na mesma
partitura da nova dupla Auriol-Pichardo, reeditando no século XXI a mesma saga
de universalismo cultural como uma pista segura para a Paz no mundo.
Tempo de respirar um
sopro de ar puro do optimismo e da esperança!
05.Mar.23
Martins Júnior
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