Até que enfim!...
Passados quase 50 anos, falou-se abertamente numa escola e sem medo da polícia
política da ‘Madeira Nova’. Aí
debateu-se, explanou-se, desdobrou-se o extenso tecido do maior acontecimento
ocorrido em Portugal durante a ditadura do ‘Estado Novo’. Chamo tecido,
precisamente por tratar-se de uma análise do facto ‘À Luz da Imprensa Regional’. Excelente opção de trabalho, perfeitamente
adequada ao local e ao distinto elenco de especialistas intervenientes no
debate – todos Professores do Ensino Superior: do Porto. dos Açores e da
Madeira.
Para contextualizar o evento, esclareço que consistiu na apresentação da
tese de Doutoramento do Mestre Lino Bernardo Calaça Martins – “O 25 DE ABRIL NA
MADEIRA: TENSÕES SOCIAIS E POLÍTICAS, `A
LUZ DA IMPRENSA REGIONAL” – perante um júri de alto nível e notória exigência
científica. No final do Exame, o almejado anúncio “APROVADO POR UNANIMIDADE” (e com nota
máxima, confidenciou-me um dos membros do júri) culminou o porfiado esforço de
investigação de muitos anos, na sequência da tese de Mestrado – “O 25 DE ABRIL
EM MACHICO: CENTRO DE INFORMAÇÃO POPULAR” (2016) – publicada pela Câmara
Municipal de Machico em 2017. Segundo informação prestada pelo presidente de
júri, tratou-se do segundo Doutoramento
outorgado pela UMa na área dos “Estudos em llhas Atlânticas: História,
Património e Quadro Jurídico-Institucional“ – circunstância que prestigia a
nossa Academia e releva da coragem do Autor em ter abordado com proficiência e
transparência um assunto tão mal tratado e quase tabu até ao presente.
Para lá do enquadramento genérico, o
mais importante e revelador das quatro horas em que se desenrolou o evento perante o vivo interesse do auditório foi
(mais que uma prova académica) sublinho, foi um genuíno debate sobre o papel da
imprensa regional na transição da ditadura para a Democracia. Ao mais alto
nível, intelectuais, historiadores, catedráticos e críticos contemporâneos bem
conhecidos! Mais sintomático, ainda, foi o amplo espaço de liberdade de
intervenção, quer da parte do candidato como do júri, em cujo argumentário
cruzaram-se apreciações divergentes, entre as quais a do autor do Dicionário
Breve da Autonomia, membro do mesmo júri (na entrada F, flama), chegando a questionar o
candidato por que razão não considerou ‘as outras vias’ , além das
apoiantes solidárias da Revolução dos Cravos…
A estas e outras objecções respondeu o candidato, munido de documentação plenamente probatória, remetendo para obra ulterior o valioso acervo da oralidade coeva, como testemunho fidedigno dos acontecimentos. Nota impressiva e bem definida foi a preocupação indissociável do rigoroso espírito investigador em expor a fria e desapaixonada realidade dos factos descritos, compaginando-os com o exercício do contraditório, ‘doa-a-quem-doer’, coibindo-se de qualquer leitura subjectiva e deixando-a por isso ao critério do leitor.
“São abordadas as causas, as movimentações e as consequências do“25 de Abril” neste arquipélago, a situação nas vésperas da Revolução, os primeiros dias da liberdade e as alterações ocorridas nos sectores primário, secundário e terciário. Outrossim – continua o novel Doutor – analisamos o papel das associações, movimentos e partidos políticos, bem como os polos simultâneos e conflituantes da autonomia e do separatismo. E ainda a acção da Igreja Católica e da comunicação social madeirenses, a par da compreensão da consciência política da sua população e do impacto do “25 de Abril” na Madeira e Porto Santo”.~
Do
enunciado-síntese ressalta o valor estrutural da obra, 700 páginas
imprescindíveis para uma visão global da nossa história mais recente e que, sou
eu a opiná-lo, tem sido politicamente sonegada aos jovens e à população
madeirense.
Estão de parabéns e merecem
o nosso grato reconhecimento o Doutor Bernardo Martins, o seu orientador de
tese Prof. Doutor Nélson Viríssimo e a Profª Doutora Teresa Nascimento,
Directora da Faculdade de Artes e Humanidades da UMa. E um voto: Tal como
aconteceu com a publicação da tese de Mestrado, em 2017, auguramos ver nas
estantes das nossas livrarias a prestimosa obra científica “O 25 DE ABRIL NA
MADEIRA”. E levá-la às escolas desta Região. A docentes e discentes. A toda a
população.
01.Mar.23
Martins Júnior
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