quarta-feira, 1 de março de 2023

O “25 DE ABRIL” ENTRE OS DOUTORES NA SALA NOBRE DA UNIVERSIDADE DA MADEIRA

                                                                                     


Até que enfim!... Passados quase 50 anos, falou-se abertamente numa escola e sem medo da polícia política da ‘Madeira Nova’.  Aí debateu-se, explanou-se, desdobrou-se o extenso tecido do maior acontecimento ocorrido em Portugal durante a ditadura do ‘Estado Novo’. Chamo tecido, precisamente por tratar-se de uma análise do facto  ‘À Luz da Imprensa Regional’.  Excelente opção de trabalho, perfeitamente adequada ao local e ao distinto elenco de especialistas intervenientes no debate – todos Professores do Ensino Superior: do Porto. dos Açores e da Madeira.

               Para contextualizar o evento, esclareço que consistiu na apresentação da tese de Doutoramento do Mestre Lino Bernardo Calaça Martins – “O 25 DE ABRIL NA MADEIRA: TENSÕES SOCIAIS E POLÍTICAS,  `A LUZ DA IMPRENSA REGIONAL” – perante um júri de alto nível e notória exigência científica. No final do Exame, o almejado anúncio  “APROVADO POR UNANIMIDADE” (e com nota máxima, confidenciou-me um dos membros do júri) culminou o porfiado esforço de investigação de muitos anos, na sequência da tese de Mestrado – “O 25 DE ABRIL EM MACHICO: CENTRO DE INFORMAÇÃO POPULAR” (2016) – publicada pela Câmara Municipal de Machico em 2017. Segundo informação prestada pelo presidente de júri, tratou-se do segundo  Doutoramento outorgado pela UMa na área dos “Estudos em llhas Atlânticas: História, Património e Quadro Jurídico-Institucional“ – circunstância que prestigia a nossa Academia e releva da coragem do Autor em ter abordado com proficiência e transparência um assunto tão mal tratado e quase tabu até ao presente.

            Para lá do enquadramento genérico, o mais importante e revelador das quatro horas em que se desenrolou o evento  perante o vivo interesse do auditório foi (mais que uma prova académica) sublinho, foi um genuíno debate sobre o papel da imprensa regional na transição da ditadura para a Democracia. Ao mais alto nível, intelectuais, historiadores, catedráticos e críticos contemporâneos bem conhecidos! Mais sintomático, ainda, foi o amplo espaço de liberdade de intervenção, quer da parte do candidato como do júri, em cujo argumentário cruzaram-se apreciações divergentes, entre as quais a do autor do Dicionário Breve da Autonomia, membro do mesmo júri (na entrada F, flama), chegando a questionar o candidato por que razão não considerou ‘as outras vias’ , além das apoiantes solidárias da Revolução dos Cravos…

            A estas e outras objecções respondeu o candidato, munido de documentação plenamente probatória, remetendo para obra ulterior o valioso acervo da oralidade coeva, como testemunho fidedigno dos acontecimentos. Nota impressiva e bem definida foi a preocupação indissociável do rigoroso espírito investigador em expor a fria e desapaixonada realidade dos factos descritos, compaginando-os com o exercício do contraditório, ‘doa-a-quem-doer’, coibindo-se de qualquer leitura subjectiva e deixando-a por isso ao critério do leitor.              


            “São abordadas as causas, as movimentações e as consequências do“25 de Abril” neste arquipélago, a situação nas vésperas da Revolução, os primeiros dias da liberdade e as alterações ocorridas nos sectores primário, secundário e terciário. Outrossim – continua o novel Doutor – analisamos o papel das associações, movimentos e partidos políticos, bem como os polos simultâneos e conflituantes da autonomia e do separatismo. E ainda a acção da Igreja Católica e da comunicação social madeirenses, a par da compreensão da consciência política da sua população e do impacto do “25 de Abril” na Madeira e Porto Santo”.~

            Do enunciado-síntese ressalta o valor estrutural da obra, 700 páginas imprescindíveis para uma visão global da nossa história mais recente e que, sou eu a opiná-lo, tem sido politicamente sonegada aos jovens e à população madeirense.

Estão de parabéns e merecem o nosso grato reconhecimento o Doutor Bernardo Martins, o seu orientador de tese Prof. Doutor Nélson Viríssimo e a Profª Doutora Teresa Nascimento, Directora da Faculdade de Artes e Humanidades da UMa. E um voto: Tal como aconteceu com a publicação da tese de Mestrado, em 2017, auguramos ver nas estantes das nossas livrarias a prestimosa obra científica “O 25 DE ABRIL NA MADEIRA”. E levá-la às escolas desta Região. A docentes e discentes. A toda a população.

 

01.Mar.23

Martins Júnior


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