Ao
evocar hoje o Dia da Igualdade Salarial
entre Homens e Mulheres, está a colocar-se no centro de debate a outra questão,
essa estrutural e originária: a da
igualdade de género. A desigualdade salarial (em Portugal, as mulheres têm um
salário 16% abaixo dos homens) não é mais que o reflexo do estatuto da Mulher
na hierarquia social, tema escaldante nos dias que correm, em virtude da
emancipação e afirmação pública da condição feminina.
A
subalternização da Mulher já vem de muito longe. Tem raízes milenares no “Livro”
. a Bíblia. A partir do momento em que Moisés, cedendo à mentalidade da época,
afirmou categoricamente que Eva foi criada a partir de uma costela de Adão, aí
consagrou-se para as civilizações monoteístas do “Livro” a desigualdade de
género que perdura até hoje, sobretudo nos meios orientais, onde a escala de
valores não deixa margem para dúvida: a Mulher vale apenas uma costela do
Homem.
Rios
de tinta e “tsunamis” de canhões se arremessaram de um lado para outro da
barricada, sendo certo e inequívoco que a própria Mulher, afora raras
excepções, abdicou do seu real direito
de conquista à Igualdade. Em muitas circunstâncias (perdoem-me, senhoras) a
Mulher é a maior opositora da Mulher nesta luta pela Igualdade. A sensibilidade
submissa, a resignação religiosa, o excesso de pudor e, mais ainda, uma atávica
pressão social fá-la contentar-se em ser
a “ancila” (a serva, a escrava) do machismo reinante. Felizmente, nos dias de
hoje, a Mulher, mercê de um labor persistente e por direito próprio,
ascende aos mais altos cargos da sociedade, mormente em ribaltas antes
consideradas monopólio exclusivo dos Homens.
Aproveito
a oportunidade para jogar ao tablado verde da discussão uma pergunta e uma declaração, a que serve de
título a estas linhas. A primeira é a constatação pública de um arcaico absurdo indexado à Igreja Católica,
quando dogmatiza que as mulheres não podem chegar ao sacerdócio, muito menos ao
episcopado. Muita barafunda se tem desgarrado sobre esta questão, recorrendo os
canonistas a argumentos, ditos bíblicos e apologéticos, tão inconsistentes e
esfarrapados como a resposta a esta pergunta: serão apenas os humanos machos o
eco exclusivista, super-monárquico, da voz da Divindade?... A resposta “está na
cara”.
Passo
adiante e atrevo-.me à questão principal: E se houvesse Mulheres ordenadas Padres
e Bispos, como acontece noutras religiões? … Que mais valia, para o mundo e para a religião, acrescentaria um tal estatuto?... Diante de
tanto protesto contra o machismo “apostólico” na Igreja e pesando a luta de
teólogas e teólogas, sociólogos, escritores muitos sobre a matéria, ouso claramente
definir-me: Senhoras, para integrar a hierarquia da Igreja, tal como está, não vos
gabo nem a sorte nem a legítima pretensão. Para uma Igreja-espectáculo,
émula dos poderosos do mundo, de mãos sujas de dinheiro do Banco Vaticano, à
custa das velas e “promessas” (que designação sacrílega!) dos pobres crentes –
então eu vos digo sem rodeios: NÃO VALE A PENA! Ao contrário, se vierdes para
restituir à Igreja-Instituição a verdadeira face de Cristo e de Sua Mãe, então bem-vindas sereis! A intuição e a sensibilidade femininas poderiam realizar a catarse de
um catolicismo anti-evangélico e revertê-lo à sua pureza original. E é,
precisamente, por essa razão e por esse medo, que o machismo dogmático da
estrutura eclesiástica veda-vos o
caminho.
Para
acabar com esta questão tacanha, medieval até, outra via não acho senão uma das
mais brilhante páginas do livro ”DO MEDO À ESPERANÇA” que Raquel Varela lançou
ontem em Machico: “Entre Homens e Mulheres não deve imperar a Competição, mas
sim a Cooperação”, o ideal da perfeita complementaridade de género, não só
salarial, mas global.. E com esta reflexão, presto o agradecimento e o preito
de homenagem de Machico pela presença “ao vivo” entre nós de uma Grande Mulher
que tem feito da sua vida a mais enérgica defesa da Igualdade.
03.Nov.16
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário