Os
metais foram os tais, os principais, os triunfais, quando hoje, já de
madrugada, foi anunciado o 45º
Presidente dos EUA. Em notas garrafais soltou-se a marcha apoteótica da
vitória. Erecto, polvilhado, estava ali o homem, ao mesmo tempo, promotor
e coroado, no trono do “Imperador” do
mundo, com uma moldura soando ao ouro-capital e à élite do ‘glamour’ americano.
Houve
soluços na outra margem, a bolsa emagreceu nas bancas internacionais, houve até
quem, de garrote na garganta, ficasse a
gritar pragas inomináveis contra a escultura de pedra dura que ali estava, sem
culpa nenhuma. Sublinho: sem culpa nenhuma. O homem não assaltou o trono. Se lá
estava, alguém o colocou. Foi o povo, não a maioria dos votantes, mas a grã--lei
eleitoral do país. Por isso, a tudo quanto se queira atirar ao “Imperador”, ele
responderá: “ Falem com o povo que me pôs aqui”. O que se lhe poderá assacar serão, quando muito, os métodos, a ferramenta, talvez os truques ou
as trocas (a haver) que utilizou para que o pusessem lá. E a ferramenta foi o
trombone. “Põe a boca no trombone e já ganhaste” – é ditado que corre na praça.
Foi o que o homem fez. Saíu por aí fora e, de arena em arena, foi assoprando o
trombone, de onde saíram toneladas de betão para a muralha no México,
cuspidelas sobre a mulher do próximo (e as dos últimos), granadas explosivas
contra africanos e hispânicos, tira-dentes para a boca de emigrantes famintos e
com direito à vida. Apressou-se, alcoviteira, a sócia mais recente e defendeu o
marido, “que ele só falou, mas não fez”, isto é, que o homem só tinha língua e
o marido da adversária tinha mais qualquer coisa – estas as principais
trombadas e peixeiradas que o trombone botou por quanto é canto. E não é que o
zé-povo gostou?!”…
Levou-o
aos ombros para o trono e trocou-lhe o
trombone pelo trompete, o rei da filarmónica. E assim se ergueu o Homem-Trumpete.
A
ameaça, o insulto, o berro, a falácia e
o ouro-milionário – os pistões do instrumento - resultaram. Por mais incrível
que pareça, até os brancos americanos mais pobres puseram o Trumpete em pé de altar. Devem ter ficado
satisfeitos quando ouviram a grande nova: que iam perder o Serviço Nacional de Saúde, o “Obamacare”,
criado por Barack… É curioso e bem esclarecedor saber que, entre
os parabéns diplomáticos (leia-se: ‘mafiosos, forçados parabéns’) dos chefes das nações, uma voz austera, a do
ministro da Justiça alemão, esboçou um espontâneo “louco”… um louco a dirigir
uma superpotência! Para nós, madeirenses, nada que se estranhe. Tivemos um “trumposo”
exemplar durante 40 anos, com os mesmos
tiques e com o mesmo trombone sem vergonha!
Creiam
que não me apetece continuar este “Jornal do Incrível”. Como tanta gente, estou
atónito e, sem tomar partido nem pelos republicanos nem por democratas,
pergunto-me: Como é possível votar num candidato que se apresenta assim numa
campanha eleitoral?... Mas parece que o povo gosta. Gosta de ser chicoteado,
enganado. O (falso) discurso contra o sistema não explica tudo. A (falsa)
defesa do proteccionismo nacionalista também não. Viver aqui e agora não se
compadece com o fechar-se sobre si próprio, olhar só para o seu umbigo, ainda
que o umbigo se chame freguesia, região ou nação. Somos cidadãos do mundo!
Não
é por acaso que, à semelhança de Putin, viesse a ultra-direitista Marine Le
Pen, da Front Nacional, rejubilar-se
eufórica pela vitória de Trump. Apesar do comportamento da EU (culpa dos
governantes nacionais acocorados) partilho da inquietação de Frans Timmermans,
vice-presidente da CE, esta manhã: “Pela primeira vez em trinta anos, eu verdadeiramente
acredito que o projecto europeu pode falhar”. Voltaremos ao ante-1945?
Foi
sintomático ouvir da boca do recém-eleito Trump
esta piedosa jaculatória, num vagido de cordeiro virgem: “Eu quero unir
todos os americanos, democratas e republicanos”. Mas não foi o mesmo senhor que
na véspera protestou, com juba de leão feroz, que “se não ganhasse as eleições,
não reconheceria os resultados”?...
Respondendo
a um amigo que, a propósito do livro de Chomsky, citado no ‘Blog’ anterior, me
advertia que o autor estaria exagerando, pois eu apenas declaro e vaticino:
Oxalá Trump não venha confirmar as teses de Chomsky: “Quem governa (ou desgoverna,
digo eu) o mundo”? O futuro o dirá.
Terminemos
este episódio do “Incrível”, de trompete em punho sobre a notícia do dia: “Hoje,
o mapa da América é pintado a vermelho”. De que vermelho estão a falar? Ironia
das ironias!
09.Nov.16
Martins Júnior
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