Após
um início de semana envolvido no universo poético de Herberto Hélder – foi o
seu I Congresso Internacional no Funchal – desci à rua e meti-me pelos becos
e avenidas de um assunto que tem tanto de sério como de anedótico.
Começo
pelo anedótico. Lembram-se (como não
lembrar-se?) dos suspiros, que passaram a remoques, da direita portuguesa,
desejosa de greves e manif’s, ao ponto de acusarem certos sindicatos, com
flecha directa aos professores: que já não faziam nada, nem greves, nem
revoluções nas ruas, nem na escadaria da AR. “Estão feitos com o Costa” – era a
amarga desilusão acintosamente repetida .
Até que, por fim, lá vieram as almas para a rua, desfraldaram-se os tão
almejados lençóis com palavras de ordem, nalguns casos até, com estertores de
esganiço febril. E a direita, essa alfim satisfeita, babada e embalada nos
protestos, ao ponto de subir a parada mais alta das benesses populares no
Orçamento de Estado, já a partir de
Janeiro. O anedótico começa por aqui: os que abominavam as greves e as manf’s e
tremiam com os policiais a treparem a escadaria do Parlamento, agora suspiravam
por elas, dia e noite!
Mas
o cómico continua, à mistura com a cegueira primária. As reivindicações
cobradas a este governo têm tudo a ver com o que os anteriores gerentes do
reino subtraíram ao povo: era o horário das 35 horas, era o malfadado
congelamento de carreiras, eram as carências de recursos humanos, enfermeiros,
médicos, funcionários judiciais, enfim os cartazes empunhavam libelos
acusatórios contra aqueles que, há um ano transiam e assavam de medo atrás das
janelas dos ministérios e agora esvaíam-se em espasmos de júbilo adolescente,
sem sumo. É o cúmulo da cegueira!
Passando
ao aspecto sério da questão. Não obstante as melhorias verificadas desde há um
ano a esta parte, não será nunca despiciendo o contributo directo dos
interessados na causa e no processo. Umas vezes por escrito, outras nos
gabinetes e ainda outras nas ruas. Tenho para mim que a presença “ao vivo” das
populações, de forma correcta e assumida, funciona como um despertador sempre
vigilante à mesa de cabeceira dos dirigentes de um concelho, de uma região, de
um país e até de um continente, no nosso caso, o europeu, podendo mesmo
alcançar as raias do “planeta azul”, no tocante, por ex., ao ambiente e ao
aquecimento global. Diante de quem protesta, a atitude imediata não será a de accionar o botão e mandar um batalhão para a
rua. Pelo contrário, deverá soprar aos ouvidos dos governantes esta pergunta:
Em que é que nós erramos? Onde, como e quando devemos emendar a mão?
Não
há que ter medo de quem se manifesta com a sua razão. E é bom sinal que, na
ponderação e solução dos problemas, siga o povo na vanguarda, manifestando a
sua consciência cívica, política e social. Porque por muito que esteja feito, há
sempre algo a fazer. As manif’s e greves, quando justas, têm todo o peso
institucional de um referendo vivo, personalizado, mais imperativo, portanto.
Sirvam
estas palavras de constatação e de saudação
ao primeiro dos quatro degraus do pódio a que o Povo Português convocou os
artífices da governação, aquela que tão malsinada foi no início e, agora, se
apresenta como testemunho seguro de participação activa no comando da Nação.
23.Nov.16
Martins Júnior
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