Sim
ou não? Aceitam-se respostas.
Para
a maior parte dos crentes e não crentes, o título deste sábado, véspera de
domingo, provocará de imediato comentários assim: Desta vez o SENSO perdeu o
senso e o consenso. E eu vos garanto que não. Prova do que vos afianço é o dia
de amanhã, domingo, em que por tudo quanto é nicho de culto católico se
levanta, airosa e triunfal, a bandeira do “Dia de Cristo-Rei”! A Igreja quis firmar claramente a nobreza da
Coroa Real na cabeça do seu Fundador, situando-a no encerramento do ano
religioso, como chave de ouro de toda a arquitectura cultual dos 365 ou 366
dias. Amanhã, é o última fase do Ano Litúrgico. No domingo seguinte, 27 de
Novembro, abre-se um novo ciclo, o Advento. Não deixa de ser curioso e assumidamente
semântico este contraste: a trajectória cultual começa com um Cristo-sem abrigo
e termina com um Cristo-Rei e Imperador!
Terá
muitas e contraditórias interpretações o Estatuto Real atribuído ao Nazareno (Ele
próprio o confirmou diante de Pilatos), mas o que importa aqui indagar é a
investidura que lhe foi dada pelos auto-proclamados representantes exclusivos do
“Mestre da Galileia”.
Partindo
dos imponentes pontificais das grandes catedrais, adornados de vermelhas
alfaias revestidas de ouro e prata, a que se adereçam umas barras de seda fina
bordadas a renda da mais requintada “lingerie” , logo nos apercebemos que a
homenagem a J:Cristo goza de toda a grandeza da entronização real, rivalizando
com o luxoso protocolo das cortes
imperiais. Aliás, desde o século IV, com a Paz dada aos cristãos pelo Imperador
Constantino de Roma, os titulares dos cargos eclesiásticos copiaram (e até
ultrapassaram) os figurinos monárquicos, os baldaquinos, os enxovais, os anéis
e a tríplice coroa cravejada de pedras preciosas, que os Papas cognominaram de “Tiara Pontifícia”.
Era o tempo em que a Igreja, Império e Reino de Deus entre os homens, pertencia ao grémio
dos reinos deste mundo, em aberrante contradição com o seu Fundador, que
definiu sem sombra de ambiguidade: “O Meu Reino não é deste mundo”.
Hoje
é dia de ser militante do verdadeiro reino que tem apenas duas vestes: Justiça
e Verdade. Dispenso-me, pois, de refazer o historial de uma Igreja que manietou,
violentou e torturou a identidade de Jesus, desfigurando-lhe a face, o corpo e
o espírito. De Alguém que “não tinha uma
pedra onde reclinar a cabeça”, livre, lutador, doador da própria vida, os
usurpadores sem escrúpulo transformaram-no num prisioneiro extático, ajoujado
de cordões de ouro, amarraram-no com cinturões de diamante, puseram-lhe na mão
o pesado ceptro dos poderosos, fecharam-no num oratório transparente e
rodearam-no de um cartaz comicieiro onde ficou escrito: “Ecce Homo”, eis o
Homem, eis o Rei!!!
Não
estou exagerando, não. Só me rompem as orelhas e me estremecem os sentidos os verrinosos alexandrinos de Guerra Junqueiro,
em 1887: Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz/ Que andais pelo universo, há
mil e tantos anos/ Exibindo, explorando o corpo de Jesus.
Séculos
passados, ainda hoje permanecem marcas bem salientes dessa maquiavélica
mistificação, a maior das quais, como tantas vezes tenho dito, reside no Estado
do Vaticano – uma estepe pantanosa, onde
se engendrou o parto quase-incestuoso
entre os dois poderes, os dois reinos – o de Deus e o do Mundo - não se sabendo
onde acaba um e começa o outro. O Vaticano como está - plasmado à moda de um
Estado, com um Rei, Secretários, Embaixadores - apresenta-se como contra-testemunho do seu
Fundador. A maior prova da redescoberta de Cristo e da sua Identidade estará na
renúncia do Vaticano ao privilégio mundano de Estado. Por outras palavras, que
o Papa abdicasse do híbrido estatuto de Chefe de Estado. Chegará Francisco Papa a tempo de reconstruir
o verdadeiro reino que, sendo aqui, não é daqui?... Mas – Àqui d’El Rei! – lá se
vão os Secretários, os Núncios-Embaixadores em todo o mundo, lá se vão as
comendas, os palácios, os brasões-de-armas, as comitivas…
Aceita-me,
ó Cristo – a mim e a quantos me acompanham – como voluntários militantes,
alistados no programa constitucional do
Teu Reino, não o da Monarquia que os homens fabricaram, mas o do chão seguro da
Justiça e da Verdade!
19.Nov.16
Martins Júnior
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