terça-feira, 9 de maio de 2017

A NÃO-VISITA – UMA HISTÓRIA VERDADEIRA


Está ao rubro o 13 de Maio. Caminhos e veredas, estradas e romeiros enchem os canais da informação oficial  e as redes sociais. Rios de alegria à mistura com dores físicas e morais vão desfilando sob os nossos olhos, ao minuto. Mas há uma outra peregrinação – a da Imagem de Fátima à Madeira em 2010 -  coincidente com a grande catástrofe que vitimou parte da ilha. E dentro dela, há uma sub-história, vivida na Ribeira Seca em 8 de Maio. Fez ontem, precisamente, sete anos. Durante toda a tarde, a comunidade preparou-se para receber a visita da Imagem Peregrina. Em vão. Levaram-na para a escola local e, no regresso, trouxeram-na pela estrada que liga à igreja da Senhora do Amparo,  Ribeira Seca. Era já noite.  Ali estacou, em plena via pública. E não entrou, nem sequer no adro. A população apinhada no vasto recinto, estupefacta, viu o representante da diocese, acompanhado  dos  respectivos  acólitos paramentados,  negar a entrada da Imagem. O insólito acontecimento serviu de mote às poetisas locais  que descreveram o caso em muitas dezenas de quadras populares, integradas mais tarde (2014) no CD “A Igreja é do Povo e o Povo é de  Deus”.  Porque também isto faz história, prescindo hoje do meu comentário e reproduzo, resumidamente, algumas das referidas quadras. Foi o nosso 13 de Maio. 
                                                            

                                                                 

“O  nosso trabalho  é  a terra
Ela também é um altar
Lá onde a Mãe do Amparo
Está sempre a abençoar

Mas um dia a Peregrina
Veio aqui e  não entrou
A Senhora não tem culpa
O  bispo é  que  não deixou

A comissão da paróquia
Várias cartas escreveu
Mas nunca nos deu resposta
Com certeza não as leu

Senhora és Mãe de todos
A Igreja tem de aceitar
Quem é o bispo da Madeira
P’ra nela querer mandar?

A diocese não quis
Que a imagem viesse á igreja
Veio à escola do governo
É isso que Deus deseja ?

Levar a imagem à escola
Religião com disfarce
Nossa Senhora precisa
De tirar a quarta classe

Na  paróquia há uma igreja
Pobre mas religiosa
Aqui ninguém corre risco
De doença contagiosa

Agora só falta ensinar
No próximo catecismo
Que a escola é p’ra rezar missa
E a igreja é  p’rao racismo

Foram os chefes do templo
Os que mataram Jesus
Com a fé e o poder
Pregaram Cristo na cruz

O Povo desta paróquia
Eles têm desprezado
Só falta pregá-lo à cruz
Para ser crucificado

Usam a religião
Para nos fazer sofrer
Será que o Papa sabe
O que está a  acontecer?

O Papa Bento 16
Veio visitar o país
O que aqui  se passou
Isso a ele ninguém diz

Ó Maria nossa Mãe
Tende de nós piedade
P’ra  podermos  resistir
A tanto ódio e maldade

O senhor bispo e o cónego
Não acham que estão errados
Tratarem uns como filhos
E outros como enteados?

O  D. António  Carrilho
Deve ter descarrilhado
Já esqueceu o seminário
E para que foi ordenado

O senhor bispo não acha
Que basta de hipocrisia
Desocupe a diocese
E vá  p’rà  Quinta Vigia

Para quê ler uma Bíblia
Sem cumprir o que lá diz
Deus não quer guerras nem ódios
Nem ver ninguém infeliz

Não querem ver a verdade
A Igreja está doente
Olhem os vossos defeitos
E deixem a nossa gente

Ninguém cala a nossa voz
Digo ao mundo e a vocês
Com imagem ou sem ela
Nós somos filhos de Deus

Nunca vamos desistir
Lutamos com esperança
Já é um ditado antigo
Quem merece sempre alcança

Já tem mais de trinta anos
Que esta luta começou
Morre um Bispo  entra outro
Mas na Igreja nada mudou

Veio a imagem de Fátima
Visitar-nos à Madeira
Não veio à Ribeira Seca
Que ficasse na azinheira

O dia 8 de Maio
Deve ficar na memória
A nossa Ribeira Seca
Conta aqui a sua história

Somos todos filhos teus
Perdoa ó nossa Mãe
Vendo aqui tanta maldade
Tu sofres mais que ninguém”

Versos da autoria de Júlia Ribeiro,  Josefina Mendonça,  Encarnação Bacanhim
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