Está ao rubro o 13 de
Maio. Caminhos e veredas, estradas e romeiros enchem os canais da informação
oficial e as redes sociais. Rios de
alegria à mistura com dores físicas e morais vão desfilando sob os nossos
olhos, ao minuto. Mas há uma outra peregrinação – a da Imagem de Fátima à
Madeira em 2010 - coincidente com a
grande catástrofe que vitimou parte da ilha. E dentro dela, há uma sub-história,
vivida na Ribeira Seca em 8 de Maio. Fez ontem, precisamente, sete anos.
Durante toda a tarde, a comunidade preparou-se para receber a visita da Imagem
Peregrina. Em vão. Levaram-na para a escola local e, no regresso, trouxeram-na
pela estrada que liga à igreja da Senhora do Amparo, Ribeira Seca. Era já noite. Ali estacou, em plena via pública. E não
entrou, nem sequer no adro. A população apinhada no vasto recinto, estupefacta,
viu o representante da diocese, acompanhado dos respectivos acólitos paramentados, negar a entrada da Imagem. O insólito acontecimento
serviu de mote às poetisas locais que
descreveram o caso em muitas dezenas de quadras populares, integradas mais
tarde (2014) no CD “A Igreja é do Povo e o Povo é de Deus”.
Porque também isto faz história, prescindo hoje do meu comentário e reproduzo,
resumidamente, algumas das referidas quadras. Foi o nosso 13 de Maio.
“O nosso
trabalho é a terra
Ela também é um altar
Lá onde a Mãe do Amparo
Está sempre a abençoar
Mas um dia a Peregrina
Veio aqui e não entrou
A Senhora não tem culpa
O bispo é que não
deixou
A comissão da paróquia
Várias cartas escreveu
Mas nunca nos deu resposta
Com certeza não as leu
Senhora és Mãe de todos
A Igreja tem de aceitar
Quem é o bispo da Madeira
P’ra nela querer mandar?
A diocese não quis
Que a imagem viesse á igreja
Veio à escola do governo
É isso que Deus deseja ?
Levar a imagem à escola
Religião com disfarce
Nossa Senhora precisa
De tirar a quarta classe
Na paróquia
há uma igreja
Pobre mas religiosa
Aqui ninguém corre risco
De doença contagiosa
Agora só falta ensinar
No próximo catecismo
Que a escola é p’ra rezar missa
E a igreja é p’rao racismo
Foram os chefes do templo
Os que mataram Jesus
Com a fé e o poder
Pregaram Cristo na cruz
O Povo desta paróquia
Eles têm desprezado
Só falta pregá-lo à cruz
Para ser crucificado
Usam a religião
Para nos fazer sofrer
Será que o Papa sabe
O que está a acontecer?
O Papa Bento 16
Veio visitar o país
O que aqui se
passou
Isso a ele ninguém diz
Ó Maria nossa Mãe
Tende de nós piedade
P’ra podermos
resistir
A tanto ódio e maldade
O senhor bispo e o cónego
Não acham que estão errados
Tratarem uns como filhos
E outros como enteados?
O D. António Carrilho
Deve ter descarrilhado
Já esqueceu o seminário
E para que foi ordenado
O senhor bispo não acha
Que basta de hipocrisia
Desocupe a diocese
E vá p’rà
Quinta Vigia
Para quê ler uma Bíblia
Sem cumprir o que lá diz
Deus não quer guerras nem ódios
Nem ver ninguém infeliz
Não querem ver a verdade
A Igreja está doente
Olhem os vossos defeitos
E deixem a nossa gente
Ninguém cala a nossa voz
Digo ao mundo e a vocês
Com imagem ou sem ela
Nós somos filhos de Deus
Nunca vamos desistir
Lutamos com esperança
Já é um ditado antigo
Quem merece sempre alcança
Já tem mais de trinta anos
Que esta luta começou
Morre um Bispo entra outro
Mas na Igreja nada mudou
Veio a imagem de Fátima
Visitar-nos à Madeira
Não veio à Ribeira Seca
Que ficasse na azinheira
O dia 8 de Maio
Deve ficar na memória
A nossa Ribeira Seca
Conta aqui a sua história
Somos todos filhos teus
Perdoa ó nossa Mãe
Vendo aqui tanta maldade
Tu sofres mais que ninguém”
Versos da autoria de Júlia Ribeiro, Josefina Mendonça, Encarnação Bacanhim
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