Tudo
já foi dito e tudo ficará ainda por dizer. É assim o Livro, o Poema, a Beleza,
a Altura e a Profundidade do nome de Mãe. De todas as quadras populares acerca
da Mãe, esta será porventura a que mais se me cola à memória e ao coração: “Por
muito que a gente faça/ Em louvor da nossa mãe/ Tudo é nada comparado/ Ao amor
que ela nos tem”. Olhá-la, senti-la, amá-la, na sua pureza matutina será a
atitude perene de quem lhe deve o ser.
Vê-la
na sua versão original! Mesmo quando, pela lei da vida, dela se apartam os nossos olhos, ficará ela
sempre viva, imponente, sublimada no trono dos valores maiores. Por isso que
nenhuma fotocópia – papel. tecido, madeira, mármore, ouro ou diamante – logrará o nosso mais
profundo afecto. A cor da pele e a sonoridade da voz materna, nós sentimo-la e ouvimo-la, com saudade, bater à nossa porta, quer dos longínquos continentes, quer do silêncio
da campa rasa. E isso nos basta. Porque vemos o invisível e escutamos o
inaudível!
Quero
partilhar convosco, por toda esta semana, emoções e sobretudo concepções acerca
daquela que, desde tempos imemoriais, nos tem sido apresentada como protótipo das mães – Maria de Nazaré.
Está na ordem do dia, pelo menos até 13 de Maio, em que um milhão de gente
anónima caminha, por diversos meios, até alcançar a colina de Ourém, não sei se
para ver a fotocópia da Mãe e Senhora, se para ver a figura cimeira do mundo
contemporâneo, Francisco Papa.
Desde
logo, assumo a condição de vidente empírico da realidade, a qual, sendo bimilenar,
mais transparente se torna ao meu olhar.
Dispenso radicalmente as imitações, os roda-pés, os ‘pastiches’, as adaptações
berrantes e, por vezes, alucinadas. Numa palavra, rejeito as fotocópias.
Por
isso, curvo-me e amo aquela que se comprometeu e gerou dentro da sua barriga
mortal o líder imortal dos tempos novos, o Restaurador da Humanidade. Risco
tremendo, aceite sem tremer, sabendo ou, pelo menos, prevendo a saga sangrenta
e trágica em que retalharia os pés e as mãos ao longo do percurso daquele
Filho! A começar pelo ostracismo a que foi votado antes de entrar no mundo – “os
seus não O receberam” – até ao supremo martírio no cadafalso mais ignominioso de então, essa
Mulher-Mãe demonstrou uma coragem estóica, roçando o heroísmo. Cumpriu o seu
mandato até ao fim. Sem desvios nem hesitações. Sem louros a coroá-la nem
panegíricos à sua espera. À estatura enérgica de carácter, aliava uma subtil e interventiva
sensibilidade que lhe fazia adivinhar, solícita, o que faltava à mesa da festa
do Povo, o vinho nas bodas de Caná. Não percebo por que maquiavélica estratégia
a literatura oficial hierárquica esconde nas pregas de um misticismo alienante
aquele canto homérico, promotor da autêntica revolução social, descrito de viva
voz pela própria. “Eu te saúdo, ó Deus, porque derrubaste os poderosos dos seus
tronos e exaltaste os humildes da terra. Eu te bendigo, porque encheste de bens os famintos e aos exploradores ricos despediste-os sem nada” (Lc.1, 51-52). Magnífico,
exuberante e arrebatador este que se pode chamar um antecipado ‘Grito do
Ipiranga’. De ontem, de hoje e de sempre!
Por
isso, amo-a, mesmo que nada me dê. Vê--la e segui-la, à luz forte e meiga do
seu rasto, tanto me basta e me chama. Por isso, dispenso as ‘reproduções’
mutiladas, tão em voga. E ainda por isso, peço que Ela me ajude em não
perder-me na hipnose colectiva a que é propensa a personalidade neurótica e
oportunista dos tempos que correm. É o que me proponho abordar nos próximos dias.
07.Mai.17
Martins Júnior
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