Jorge
Mário Borgollio nunca ouviu falar da Ribeira Seca madeirense. Nem antes nem,
provavelmente, depois de ascender ao trono do Vaticano. No entanto, nunca
estivemos tão perto e tão sintonizados no espírito da palavra. Terá sido este
contraste que inspirou a equipa de produção
do SENSO&CONSENSO a colocar em
epígrafe a montagem das duas gravuras-supra. De costas voltadas pela distância territorial, mas
tão íntimos e comunicantes pela osmose do pensamento ou, como o próprio Papa costuma definir, pela
corrente da oração.
Em
nome desta porção do Povo de Deus em Marcha no recôndito suburbano que ‘não é
vila nem cidade’, deixo aqui expressa a mais ampla gratidão ao “Bispo de Roma” presente em Fátima, pela descoberta de uma ponte anímica que une
uma modesta igreja da ilha ao novo mundo
que emergiu das naves seculares da Basílica Vaticana. Quatro pilares seguram
esta ponte identitária, inscrita nos quatro tópicos que Francisco Papa desenhou
nas intervenções que produziu em Fátima. Ei-las, em síntese:
1º
- TEMOS MÃE! Disse-o e repetiu o líder
da Igreja Católica, para separar o original das fotocópias que os homens
fizeram de Maria. O original, foi buscá-lo às fontes bíblicas: O Livro do Apocalipse
e o Evangelho, ambos de João Evangelista: “Eis aí a tua Mãe”. Aí – quer dizer “essa Mulher que está ao teu lado”. que me acompanhou desde a nascença até à
morte, enfim, a Maria-Mãe única, histórica. No acento sonoro do pontífice
orante – TEMOS MÃE – pareceu-nos ouvir a convicção que, desde há
mais de quarenta anos, alimentamos e seguimos: “Mãe (espiritual) há só uma, Maria e mais
nenhuma”. Aprendemos que os figurinos, as alcunhas ou apelidos, que sucessivamente têm posto a Maria
conduzem a uma tresloucada confusão e à mais pagã idolatria, misturadas com
lendas pias, arremedos fantasiosos e até alucinações místicas, cuja flagrante
contradição imagética está bem patente na mesma Virgem, que é ‘branca’ em Fátima e torna-se ‘preta’ na Aparecida do Norte, Brasil!!! Ou, ainda, a
absurda e aberrante superstição, tão propalada, que a Senhora que está numa imagem em Fátima
ou em Lourdes faz mais ‘milagres’ que a
outra, singela e pobre, que habita o modesto templo da aldeia mais longínqua.
2º
- SERÁ QUE PROCURAM UMA SANTINHA A QUEM SE PEDE UM FAVOR A BAIXO PREÇO?! – Nunca
se ouviu de um Papa, de um bispo ou de um padre doutor da Igreja, uma interpelação
tão poderosa e tão brilhante. Só faltou aplicar o termo da gíria financeira, low cost. E teríamos uma Nossa Senhora a preços de promoção ou rebaixa mercantil.
Teríamos, digo mal. Temos – é isso que vemos e ouvimos, em pagelas, orações,
promessas, peregrinações e velas de cera estearina. Obrigado, Santo Padre. Há
mais de quarenta anos, a ‘nossa’ Senhora do Amparo, na Ribeira Seca, não aceita que a tratem por uma vulgar
merceeira ambulante das feiras populares. O que ela nos pede é que a conheçamos,
a Maria histórica, aquela que aceitou ser Mãe de um Filho destinado a ‘carne
para canhão’ dos ditadores de então. E
que ponhamos os nossos pés nas suas pegadas, feitas de espinhos e dores, mas
plenas daquela coragem que leva aos cumes de uma vitoriosa felicidade!
3º
- VÓS SOIS AS CHAGAS ABERTAS DE JESUS – foi assim a consoladora homenagem que o
Papa Francisco prestou aos doentes que aguardavam a sua bênção. Esta tão
sofrida saudação era o eco das palavras do Padre António Vieira, proferida há
quatro séculos, em São Luis do Maranhão, perante os ‘devotos’ gestores das
Misericórdias do nordeste brasileiro: “As imagens de Jesus Crucificado que
estão nas igrejas são imagens falsas, que não sofrem nem padecem. Imagens
verdadeiras de Jesus Crucificado são os doentes, os pobres, os desamparados que
padecem e sofrem”. Que conforto ouvir da
boca do ‘Representante de Cristo’ aquilo que já aprendêramos, há perto de cinquenta
anos!
4º
- DEUS QUER UMA IGREJA POBRE DE MEIOS, MAS RICA DE AMOR – A esta chamada,
respondemos logo: Presente! Sem nos conhecer, o Papa Francisco estava a falar
connosco, que pertencemos a uma comunidade pobre, durante séculos explorada
pelos senhorios da colonia, uma
população que vive do seu braço do
trabalho - actualmente escasso e ingrato - mas que se une, lutando pelo seu lugar ao sol,
na conquista de mais cultura, mais amor, mais alegria. Sem saber sequer onde
fica a Ribeira Seca, era de nós que se lembrava e de todos os que, como nós,
são “EXCLUIDOS, DESERDADOS E ÓRFÃOS” – exclusão e orfandade por parte das
hierarquias, mas não de Jesus e Sua Mãe. Ao lado do “Bispo de Roma” estavam as
tais hierarquias clericais da ilha. Almoçaram
com ele à mesma mesa os que, há mais de quarenta anos, nos excluíram e nos
deserdaram. Terão ouvido a voz do Chefe?...
Nós
ouvimo-la e guardámo-la. Para nosso conforto e nossa força. E para nos
assumirmos como SENTINELAS DA MADRUGADA,
cumprindo o seu apelo. Pode crer o Papa
Francisco que em 12 e 13 de Maio de 2017, cumpriu-se na integralidade a sábia filosofia
das nossas gentes: “Longe da vista, mas perto do coração”. Estamos juntos!
15.Mai17
Martins Júnior
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